Animalogantes na comunicação social

Na reportagem Experimentação animal: crueldade ou “mal necessário? no suplemento digital P3 do jornal Público falamos (Anna Olsson e Nuno Franco) sobre experimentação animal em Portugal, o potencial de substituição e as regras e a prática em vigor.  Sob o cabeçalho Spain joins bandwagon for ‘openness’ about animal research em Science Insider, Nuno Franco fala da importância de transparência na comunicação sobre experimentação animal.

Veja a Dory no cinema, mas não a leve para casa!

Há 13 anos, com o lançamento do filme “À procura de Nemo”, o peixe-palhaço (Amphiprion ocellaris) tornou-se imensamente popular entre os mais novos. Infelizmente, a popularidade granjeada por esta espécie não se traduziu numa maior preocupação pela preservação destes peixes e do seu habitat, e nem o facto dos aquariofilistas serem os “vilões” no filme levou a que muitas crianças deixassem de exigir ter um “Nemo” em casa, o que resultou num aumento do número de peixes selvagens capturados todos os anos. 
Apesar da espécie em si não estar em risco, cada um destes peixes pode ter uma vida difícil. A manutenção de um aquário de água salgada requer cuidados e atenção, e facilmente as condições de vida destes animais se podem  degradar em cativeiro. Para além disso, muitos destes peixes tiveram mortes traumáticas, ao serem atirados vivos pelas crianças pela sanita, numa tentativa de imitar a “libertação” de Nemo e Dory que viram no filme. Acontece que, por meritória que seja a intenção, o mero contacto com água doce faz com que peixes de água salgada entrem choque, e a força da descarga faz com que estes frágeis animais embatam violentamente, sofrendo traumatismos múltiplos.
Cerca de 90% das espécies marinhas vendidas para aquários são capturados na natureza, o que tem um impacto profundo no seu habitat. Para os atordoar, lixívia, cianido e até dinamite são lançados à água, com um efeito devastador nos recifes coralíferos que servem de habitat a estes peixes, mas também a outras espécies de vertebrados e invertebrados. 
O que nos leva ao actual problema da popularidade do filme “À procura de Dory”. Ao contrário dos peixes-palhaço, em que 7 das 28 espécies conhecidas conseguem ser reproduzidas em cativeiro, os peixes-cirurgião patela – Paracanthurus hepatus – têm até agora sido 100% capturados do meio selvagem, no Leste da África, Havaí, Japão, Samoa, Nova Caledônia, e na Grande Barreira de Coral. Cerca de 60-70% destes animais morrem durante a captura e transporte (devido aos químicos usados, mau manuseamento e doença). Num momento em que a grande barreira de coral já está em perigo eminente de total destruição devido ao aquecimento global, a destruição associada à captura de vida marinha é particularmente danosa. 
Por isso, como nos recomenda este filme, veja a Dory no cinema e ajude à conservação desta espécie e do seu habitat. Mas não a leve para casa!

O estranho caso do homem-cabra

Esta é a estranha estória de Thomas Thwaites, o designer britânico que se fartou de todas as complexidades inerentes a ser um humano, e procurou durante um ano desenvolver uma forma de se deslocar como uma cabra, e que lhe permitisse co-existir num prado com demais cabras.

Thomas Thwaites, o “Homem-Cabra”, faz amizade com uma “congénere”.
A ideia surgiu-lhe quando fazia pet-sitting de cães. Então desempregado e vivendo com o pai, pensou no quão maravilhoso seria poder viver como um animal (não-humano) durante algum tempo, sem preocupações. Mas enquanto muitos de nós já pensamos de forma hipotética como seria ser um animal, Thwaites decidiu mesmo levar essa idea em frente.
Estranho? Sem dúvida. Mas fica ainda mais estranho. A ideia de se “tornar” uma cabra veio, segundo Thwaites, de uma “xamã”, que o aconselhou a não se tornar um elefante, a sua ideia original. Ainda mais estranho é ter recebido financiamento do Wellcome Trust para esta empreitada. 

Com a ajuda de especialistas em distintas áreas, eventualmente conseguiu fazer patas prostéticas que lhe permitiam deslocar, tão próximo quanto possível, como uma cabra, e conseguiu que um proprietário suíço lhe permitisse pastar junto das suas cabras durante três dias, nos alpes. 
Entendo toda a ideia de juntar design, ciência e arte, mas, correndo o risco de ser visto como pouco sofisticado, acho que há projectos muito mais meritórios do dinheiro do Wellcome Trust que este bizarro projecto que, segundo o autor, não fica por aqui, uma vez que procura uma maneira de deslocar o seu campo de visão para se assemelhar ao das cabras, bem como arranjar forma de digerir ervas. Até agora, apenas as consegue reunir num saco e comê-las depois de cozidas, à noite (!). 
Por mais que o autor considere que se pode aprender mais sobre o modo de pensar e o comportamento destes animais, continuo convencido que este projecto tem pouco de científico, e muito de golpe publicitário. E a verdade é que tempo de antena não lhe tem faltado. 
O livro que relata a sua experiência está já disponível. Não que esteja muito interessado em o ler. 

Parabéns Sir David Attenborough

A 8de Maio, David Attenborough completou 90 anos. Felizmente para nós, não tenciona parar. 
Já muito se disse sobre o naturalista que há mais de 60 anos leva a natureza às nossas casas e em todo mundo e cuja influência se estende por várias gerações. Não são assim de estranhar os seus mais de trinta doutoramentos honoris causa, um título nobiliárquico, ter dado já nome a vários animais e fósseis – incluindo aranhas, plantas carnívoras, peixes extintos, dinossáurios – e mais recentemente a um navio que será utilizado para exploração científica, o RSS David Attenborough. 
O futuro RSS David Attenborough
Não podemos deixar de marcar a efeméride, celebrando a sua vida e o contributo. A BBC assinala este acontecimento com uma série programas dedicados, que não devem perder. Fiquem com um vídeo em 360º, um exemplo do seu entusiasmo por novas tecnologias como formas inovadoras de nos dar a conhecer o mundo natural. Obrigado, Sir David!

O seu animal de estimação pode salvar vidas!

A propósito da reportagem desta semana no suplemento P3 do Público sobre o Banco de Sangue Animal (BSA) damos a conhecer esta iniciativa do médico veterinário Rui Ferreira, doutorado em medicina transfusional de cães.  
O site do BSA está disponível em Português e Castelhano,
e há já uma app para Android para clínicos
O BSA foi inaugurado em 2011, encontrando-se nas instalações do Hospital Veterinário da Universidade do Porto, sendo o segundo do género em Portugal. Até ao surgimento destes bancos de sangue, as dádivas costumavam ser ad hoc, quando surgia uma necessidade, mas nem sempre isto era possível, pelo que frequentemente se perdiam vidas animais. Hoje o BSA conta com cerca de 500 cães e 300-350 gatos dadores – que em troca têm vacinas e análises gratuitas – sendo já um dos melhores da Europa.  Dispõe de um serviço de urgência 24h, e graças a uma rede de clínicas, plasma e outros hemoderivados podem ser disponibilizado no espaço de uma hora em todo o país.

Tal foi o sucesso que Rui Ferreira foi inclusive convidado a criar um banco de sangue similar em na Catalunha,  inaugurado no mês passado, exportando ainda para países como Itália, França ou Inglaterra.

Reportagem RTP, de Outubro de 2015
Estima-se que as contribuições destes dadores – que fora o transiente desconforto da picada não sofrem qualquer impacto negativo na sua saúde e bem-estar – permitiram já salvar à volta de 10 mil animais nos últimos cinco anos. 
Não posso contudo deixar de fazer uma brevíssima análise ética. No prisma da maior parte das principais correntes da ética animal – como a utilitarista, contractualista, ou relacional – tem este tipo de iniciativas o maior mérito, dadas as vantagens para todos os intervenientes. 
Contudo, de um ponto de vista dos direitos dos animais, stricto sensu, não pode ser a dádiva de sangue vista como uma violação da integridade e dignidade dos animais dadores, uma vez que não o fazem por escolha sua, ou com o seu consentimento? 
No título deste post – ao qual poderia ter incluído qualquer coisa como “mas o seu animal nem sabe” ou “sem o seu consentimento”, caso o propósito fosse denunciar esta prática, que não é o caso – há um antropomorfismo latente, que no artigo do Público é aliás mais manifesto, ao classificar estes animais como “voluntários”. É uma antropomorfização descabida aplicar os epítetos de “voluntários” ou “heróis” a estes animais, mas também conceitos como “saber”, “consentir”, ou mesmo “doador” com o significado que habitualmente têm para os humanos. O próprio conceito de “dignidade” é muitas vezes para mim difícil de definir, quando aplicada aos animais, pois é e será sempre um conceito humano projectado noutras espécies. 
Assim sendo, e apesar dos méritos dos bancos de sangue animal serem aparentemente reconhecidos pela generalidade das pessoas, nas quais me incluo, intriga-me o que achará Tom Regan a este respeito, ou os seus seguidores. 

Uma tempestade num copo de leite?

Numa discussão na Assembleia da República (em Janeiro último) de projectos de resolução de PSD/CDS-PP e BE para a defesa do sector leiteiro face ao fim das quotas de leite, o deputado André Silva, do PAN, propôs uma solução out-of-the-box: não bebam leite! 

Carregue na imagem para ver o vídeo.
O deputado referiu o crescente número de pessoas (estatísticas por confirmar) que deixaram de beber leite, na sua opinião por agora disporem de informação “científica” que retira ao leite o estatuto de “super-alimento”, que considera um “mito, fruto do marketing ao serviço do lacto-negócio”. Destacou ainda os problemas ambientais (e o aumento de gases de “efeito-estufa” em particular) resultantes da actividade agropecuária, que embora factuais, não estavam em discussão. 

Quanto à defesa dos produtores, o PAN propõe ajudas para “diversificar” e “converter” a actividade dos pequenos produtores, ao invés da “perpetuação de um problema que é estrutural”. Apesar de em nenhum momento falar de animais, ou do seu bem-estar, esta posição é coerente com a ideologia do PAN, que subscreve uma linha de pensamento filosófica próxima da dos Direitos dos Animais, em sentido estrito. Segundo esta, nenhum animal pode ser usado como um meio para atingir fim, o que exclui o seu uso na exploração de leite ou de lã, por exemplo.

Fonte:vidarural.pt

Sendo apenas representado por um deputado, e não tendo a sua intervenção feito particular mossa na discussão, o impacto da mesma poderia ter ficado por aqui. Contudo, a FENALAC (Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite) decidiu reagir vigorosamente à mesma com uma carta aberta. O teor ríspido desta comunicação contrasta com o respeito devido a um legítimo representante de uma parte não-negligenciável do povo português, concorde-se ou não com ele e as suas palavras.

Mas aparte o tom e o faux pas de num estado democrático se questionar a legitimidade de um representante do povo de exprimir a sua opinião (reitero, concorde-se ou não) a carta da FENALAC abre um pouco mais o debate para áreas de interesse mais geral, como a questão do bem-estar dos animais e da regulação deste e do regime sanitário e impacto ambiental das explorações agropecuárias. 

O deputado do PAN reagiu a esta carta na semana passada com um artigo de opinião no Público onde tem como ponto de partida o direito democrático à informação e à escolha do consumidor e do cidadão.

Se a “liberdade de informação é um direito fundamental essencial”, referido pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1946, como a pedra basilar sobre o qual assentam todas as liberdades, deixemos que aqueles que, primeiro são cidadãos e só depois consumidores, façam as suas escolhas, sabendo que existem alternativas e se ainda assim, pretenderem consumir produtos de origem animal ou quaisquer outros, pois que seja, louvamos as escolhas individuais informadas, sejam quais forem. Só assim caminhamos rumo a novas opções políticas que defendam o direito à verdade em confronto com diferentes modelos de sociedade. 

Sendo a questão do direito à informação da maior relevância, o artigo é não obstante bastante confuso, descontextualizado (foi preciso algum trabalho de detective para saber a que se referia) e em momentos contraditórios (ora acha que se deva deixar a discussão científica para os cientistas, como a seguir diz que estes lhe dão razão). André Silva opta ainda por lamentavelmente manter o debate num nível abaixo do desejável, ao referir-se às “instituídas seitas sistémicas jamais (…) questionadas nas altas instâncias”. No artigo, reforça os principais pontos da sua intervenção na Assembleia da República, insistindo nos estudos que questionam o valor do leite, mas sem apresentar uma só referência (como um link para informação credível) que substancie essa posição. Esta, aliás, é também uma falha que se pode apontar à FENALAC, pois classificam os estudos que supostamente sustentam a posição de André Silva como “pseudo-estudos”, mas não dão exemplos do que consideram “estudos sérios”. 

Fonte: http://www.pecuaria.pt

Se por um lado se entende que a o PAN não seja particularmente sensível aos problemas do sector leiteiro e queira antes promover alternativas ao leite como alimento, por outro o facto de não trazer ao debate a questão mais premente do bem-estar dos milhares de animais que são – e continuarão a ser – usados para a produção leiteira é um virar de costas ao seu eleitorado, certamente mais afeito a questões de bem-estar animal que a uma visão radical dos direitos dos animais. Também não ajuda que considere os produtores como uma “seita” apenas preocupada com os seus interesses, quando estes de facto – como salientam na sua carta aberta – têm uma maior relação de proximidade com os animais e a natureza (os supostos objectos de interesse maior do PAN), que o comum “defensor dos animais” urbanizado que constitui o eleitorado principal deste partido.

A alterização dos produtores pelo PAN (e vice-versa) assenta em preconceitos resultantes da ignorância mútua acerca dos seus interlocutores e não beneficia ninguém, muito menos os animais. Referências a interesses económicos obscuros (seja do “lacto-negócio”, ou do “soja-negócio”), desinformação e manipulação da opinião pública, argumentos de autoridade (“os cientistas dizem que”) são falácias básicas cometidas de parte-a-parte, e que evitam a obtenção de consensos (ou compromissos) que permitam progresso que beneficie consumidores, animais e produtores. 

Neste vazio de questões por resolver, destaca-se o direito do consumidores – que continuarão a consumir leite e os seus derivados como queijo, manteiga, iogurte e gelados – a informação transparente. 

E que sabem os portugueses das condições em que são alojados e criados os animais de produção? Ou o impacto ambiental das produções agro-pecuárias? A julgar pelos dados do Eurobarómetro, ou o nosso trabalho com alunos do ensino secundário no âmbito da Universidade Júnior, muito pouco. E que vantagens (ou desvantagens) haverá para o ambiente e para o bem-estar animal do leite ser produzido em Portugal? 

À falta de melhor legislação, começam alguns produtores a investir e explorar segmentos do mercado para o qual estas questões são relevantes. Exemplo disso é o programa “vacas felizes“, da Terra Nostra, ou o leite biológico Agros. Mas o direito à informação deve ser universal.  

Posição disponível em comportamento de peixes: Fish Ethology Database

Para quem tem interesse em comportamento animal, e em peixes em particular, pode interessar esta oferta para colaborar no projecto “FishEthoBase” – Fish Ethology Database

O perfil desejado do candidato é:

  • Ter habilitações ao nivel de mestrado numa área das ciências naturais
  • Comprovado interesse em bem-estar animal (preferencialmente de peixes)
  • Nível de Ingês C1 (7 em 9)
  • Competências ao nível da informática e Internet
  • Experiência em pesquisa bibliográfica e trabalho com bases de dados
  • Habitar na Europa
  • Dispor dos recursos necessários para trabalhar em casa
  • Acesso gratuito a literatura científica
  • Disponibilidade  para dedicar metade do horário de trabalho
  • Disponibilidade para viajar duas vezes por ano para se encontrar com a restante equipa

Oferece-se:

  • Trabalho em regime de freelance (média de 65 horas por mês)
  • Liberdade de organizar o seu próprio horário de trabalho, respeitando os deadlines acordados
  • Remuneração de 20€/hora (tudo incluído) no primeiro ano, 25€ no segundo e 29€ no terceiro
  • Perspectiva de permanecer até final de 2017, e com boas hipóteses de se estender para além dessa data

Candidaturas até 15 de Março de 2016
Reservar as datas de 18 e 19 de April (Zurich) e 25 em Bruxelas Bruxelas para entrevistas

Antes de se candidatar, é favor contactar Billo Heinzpeter Studer (international@fair-fish.net), Director da FishEthoBase, para saber mais detalhes

Para mais detalhes, pode consultar: www.fair-fish.net/resources/job_offer_FEB_2016.pdf

Nuno Franco em documentário na RTP

Numa série de 13 episódios, o programa “A Minha Tese”, da RTP, retrata jovens cientistas, pessoas que realizaram o seu doutoramento em Portugal e portugueses que fizeram doutoramento no estrangeiro. Os documentários foram realizados pelo Carlos Ruiz Carmona da Fronteira Filmes
No próximo dia 12 de Fevereiro, Sexta-feira, Nuno Franco é o protagonista do programa que passa na RTP2, pelas 00.45h.

Quem salva estes animais?

O ano de 2015 terminou com uma notícia dramática, pelo menos para quem se preocupa com o bem-estar animal. Mais de 100 bois, vacas e vitelos (170 animais, incluindo cavalos, segundo o Correio da Manhã) estão a morrer lentamente à fome, abandonados à sua sorte pelo seu produtor. 
O produtor junto a um animal em cadavérico, prestes a morrer. (Fonte:Jornal de Notícias)
O problema é de difícil resolução mas conta-se em poucas linhas. José Vieira, produtor agropecuário com historial de problemas com a justiça e de tratamento negligente dos animais ao seu cuidado,  está proibido de comercializar os animais, que se encontram sob sequestro pela Direcção Geral de Alimentação e Veterinária por ter detectado brucelose na exploração. A situação tem vindo a arrastar-se desde então, tendo o produtor, sem subsídios nem quaisquer outros meios de prover aos animais, deixando estes à sua sorte, num local onde o pasto tem vindo a rarear. A recente chamada de atenção para o problema resultou de um crescente número de mortes, desde Agosto, por estado avançado de inanição.  
Fonte: SIC
Mas já antes o abandono destes animais tinha tido consequências dramáticas, como a morte pelo fogo ou o seu abate a tiro pela divisão SEPNA, da GNR. 
Versão impressa da notícia de 20/07/2012
Estes e outros problemas com as autoridades têm vindo a ocorrer pelos menos desde 2003. Não obstante, o produtor vitimiza-se e culpa o Estado pela situação, apesar de ter recebido múltiplos avisos e até ajudas para regularizar a sua situação (ver o vídeo). A ser assim, a questão coloca-se: como pode ter sido permitido a este produtor continuar a ter uma exploração?  
É necessário apurar responsabilidades, mas urge neste momento, face à emergência de valer a estes animais, elaborar um plano urgente para os ajudar. A solução mais costumeira é o abate (humano) dos animais para prevenir que a situação se arraste e assim poupá-los a mais sofrimento. Há, contudo, outras opções, como defende o PAN, mas que poderão ser inviáveis dados o elevado custo de manutenção dos animais (300 € diários, segundo José Vieira). 
Serve este caso ainda para salientar a importância de prevenir estas situações, através de uma supervisão eficiente e intervenção rápida por parte das autoridades, que permita agir atempadamente quando é evidente que um produtor não tem capacidade para suprir as mais básicas necessidades dos animais, poupando-os a sofrimento evitável.

Não é uma espécie nova de mamífero. Mas é bem-vinda a Portugal.

Tenho visto algumas notícias reportando a descoberta de uma nova espécie de mamífero portuguesa, algo que a confirmar-se mereceria muito mais atenção, já que é um evento raro, a nível mundial. Acontece que o que os investigadores do CITAB e CIBIO fizeram foi encontrar pela primeira vez em Portugal uma variedade de uma espécie já conhecida, o “rato-das-neves”, ou Chionomys nivalis, no Parque Natural de Montesinho, tendo dado entrada da mesma registo de espécies existentes em Portugal. 
Foto de Gonçalo Rosa. A estória do encontro é contada no site Wilder
A descrição dos espécimes encontrados e que confirmam a pertença à espécie, bem como a separação desta população da espanhola, pode ser encontrada no artigo publicado esta semana no Italian Journal of Zoology.  A distribuição deste micro-mamífero é extensa, mas bastante fragmentada, pelo que esta descoberta vem alargar a sua abrangência territorial conhecida.

O local onde foram encontados (a) uma fêmea juvenil (b) e um macho adulto.
Fotos tiradas pelos investigadores com câmaras de infra-vermelhos. (Fonte)

Face ao recente artigo sobre a eutanásia de uma ave rara durante uma expedição científica, não posso deixar de louvar a equipa do Laboratório de Ecologia Aplicada da UTAD por ter devolvido os espécimes recolhidos à Natureza, não obstante esta espécie não estar, ao nível global, ameaçada. Nas palavras da investigadora Hélia Vale-Gonçalves:

“Capturámos dois animais, um macho adulto e uma fêmea juvenil. Fizemos medições, pesagens, tirámos amostras de tecido e observámos a coloração do pêlo. Os animais foram libertados no mesmo local,  junto às armadilhas.”

Ciência com consciência, portanto.

Nota: Podem ser encontrados bons artigos na imprensa sobre esta descoberta e o seu significado, no jornal Público e no site Wilder.