Comissão Nacional para a Protecção dos Animais Utilizados para Fins Científicos

Comissão Nacional para a Protecção dos Animais Utilizados para Fins Científicos (CPAFC) assinala o Dia Mundial do Animal do Laboratório com o lançamento do seu website.

A CPAFC tem como missão de promover a prática dos 3Rs e aconselhar os outros importantes atores no setor, ao nível central a autoridade comptente Direção Geral de Alimentação e Veterinária e ao nível institucional os Orgãos Responsáveis Pelo Bem-Estar dos Animais (ORBEA). A constituição no terreno da CPAFC tem sido ansiosamente aguardada por muitos que trabalham com a questão dos animais de laboratório. Ficaremos atentos ao começo da sua atividade.

Tens frio? Então encolhe a cauda!

Um dos maiores desafios para quem estuda comportamento e bem-estar animal é o facto de que a nossa perspetiva é sempre a de uma espécie diferente daquele que estamos a estudar.  Sendo seres humanos, inevitavelmente percebemos o mundo do ponto de vista de um mamífero bípede com pouca pelagem e sem cauda.

Por isso, fiquei primeiro não só surpreendida como de facto algo incrédula quando li que os ratinhos crescem caudas mais compridas se tiverem mais material de cama nas suas caixas.

Mas faz sentido se consideramos a biologia do ratinho, que com o corpo peludo e a cauda sem pelos assegura uma boa parte da sua termo-regulação pela cauda. Quanto maior a cauda, e quanto mais exposto a temperaturas baixas, mais calor o animal perde. Os ratinhos com mais material de cama (neste caso granulado de madeira) consegue um micro-ambiente mais adequado às suas necessidades térmicas e não precisam de adaptar a sua anatomia às temperaturas mais baixas.

Para nós os desgraçados sem cauda, só resta agasalhar-se!

Segue a nossa investigação!

Já visitaram o nosso Alive Pup Project?  Não, não começamos uma missão de salvar cachorros. Mas estamos a investigar porque ratinhos de laboratório morrem nos primeiros dias após nascimento. E podem seguir o nosso trabalho no blog, criado por Sophie Brajon que é investigadora de pós – doutoramento no projeto.

Não prometemos um thriller de alta velocidade, como a investigação tantas vezes é retratada na televisão com aquela jargão de “e ao mesmo tempo uma equipa em San Francisco está a fazer uma descoberta surprendente”. Primeiro, a ciência raramente funciona assim. Segundo, mesmo quando funciona assim, demora tempo antes de se poder partilhar estas descobertas num espaço público. Só após um trabalho sólido de analise no laboratório e em seguida revisão por pares (outros cientistas) e publicação numa revista internacional, é que um novo dado está pronto para ser apresentado ao mundo.

Mas de vez em quando é possível de permitir um sneak-peak ao trabalho em curso. No mês passado, Sophie foi até Lisboa para falar do nosso trabalho no congresso da Sociedade Portuguesa de Etologia. Dai surgiu uma interessante discussão interdisciplinar, que ela conta aqui.

Há falta de investigação em bem-estar animal em Portugal?

Bem, o ponto de interrogação é um eufemismo diplomático, realmente acho que deveria ser um ponto de exclamação. Pode ser justo questionar se a minha opinião não é tendenciosa pelo facto de eu ser investigadora da área em Portugal e gostar de ter mais colegas. Mas posso apoiar a minha posição em dados concretos. Hoje recebi da FCT uma lista das ações COST em que falta membros portugueses – e 3 de um total de 7 são de tópicos que claramente pertencem a área de bem-estar animal.

As ações COST são mecanismos de networking em ciência na Europa. Ao reunir investigadores de diferentes países que são especialistas num determinado tópico, através de uma ação COST pode se fazer um balanço do estado-de-arte e identificar lacunas no conhecimento e maneiras de abordar essas lacunas. Para o cientistas individual, participar numa ação COST é uma excelente oportunidade de alargar a sua rede de contactos e aprender mais.

Como não trabalho com nenhum dos tópicos em questão, não vou ocupar um dos lugares disponíveis. Mas espero sinceramente que os colegas portugueses que trabalhem com galinhas poedeiras, porcos e grandes animais de laboratório o farão!

Imposto sobre agricultura insustentável?

Não é (ainda) uma proposta na agenda política, mas a ideia foi recentemente lançada pelo Professor Emérito Frank Berendse da Universidade de Wageningen dos Países Baixos numa carta na revista Nature: As the debate heats up over the European Union’s new Common Agricultural Policy (CAP) for 2020, I propose introducing a progressive tax that is based on farmers’ purchase per unit area of pesticides, antibiotics and imported animal feed such as soya beans (…). Farmers practising sustainable management would be rewarded with increased sales, higher incomes and greater societal respect. (…) A progressive tax on agricultural practices that damage health and the environment would soon pay for itself. It would compensate farmers for lower production by reducing costs and increasing market share. Food prices will increase, but will lead to substantial, price-driven shifts in the sale of sustainable products.

O mapa mostra a venda de antibioticos para animais usado na produção de alimentos na União Europeia (dados de 2013, fonte European Surveillance of Veterinary Antimicrobial Consumption (ESVAC)

Animalogantes na comunicação social

Numa entrevista concedida à revista Veterinária Actual, por ocasião do EurSAFE 2016, o 13º congresso da European Society for Agricultural and Food Ethics que decorreu no Porto, a animalogante Anna Olsson alerta para os dilemas éticos em medicina veterinária e esclarece que a discussão ética nada tem a ver com a proximidade emocional que temos com determinados animais.

AWERBs e ORBEAs – siglas importantes para o bem-estar animal na ciência!

Na próxima terça-feira realiza-se um encontro nacional de ORBEAs no i3S na Universidade do Porto. ORBEA é a abreviação de Orgão Responsável pelo Bem-Estar dos Animais, uma das mais importantes novidades introduzidas pela Diretiva 2010/63/UE que protege os animais usados para fins científicos e outros fins experimentais. O programa inclui apresentações por representantes das autoridades e de instituições de investigação, e amplo tempo para discussão.   

Esperamos que o encontro seja tão produtivo como o realizado em Maio para os homólogos no Reino Unido – os AWERBs – Animal Welfare and Ethical Review Body. As apresentações e o output de grupos de discussão estão todos disponíveis através de um único documento organizador
Temos quase 60 pessoas inscritas mas há espaço para mais membros de ORBEAs que ainda não se tenham registado, podendo fazê-lo aqui.

Animalogantes na comunicação social

Na reportagem Experimentação animal: crueldade ou “mal necessário? no suplemento digital P3 do jornal Público falamos (Anna Olsson e Nuno Franco) sobre experimentação animal em Portugal, o potencial de substituição e as regras e a prática em vigor.  Sob o cabeçalho Spain joins bandwagon for ‘openness’ about animal research em Science Insider, Nuno Franco fala da importância de transparência na comunicação sobre experimentação animal.

Animais de companhia saudáveis – a genética também conta!

Já sabemos que antes de escolher um animal de companhia, devemos assegurar que temos todas as condições para que o novo membro de família com asas, patas ou barbatanas possa viver bem connosco. Mas nem sempre lembramos de verificar as condicionantes que vêm com o próprio animal. 
A UFAW – Universities Federation for Animal Welfare tem um website que ajuda com esta informação: Genetic Welfare Problems of Companion Animals. Aqui, quem está a pensar em comprar um animal de companhia pode confirmar se a raça do animal está associada a alguns problemas geneticamente determinados. Neste caso, fica a saber como assegurar que o seu animal não seja portador da condição em questão.