Estonian University of Life Sciences em colaboração com docentes de Suécia e Dinamarca organiza um curso em ética animal para alunos de doutoramento 9-13 de janeiro de 2012 em Tartu, Estonia. Amplie a imagem abaixo para uma introdução ao curso.
Tag: ensino e formação
Animalogos no Ensino
O Animalogos está a preparar-se para poder prestar apoio a professores em todos os níveis de ensino que queiram abordar os tema do bem-estar e ética animal nas suas aulas.
Está interessado? De que forma e para que nível de ensino? Precisamos de ouvir a sua opinião para poder ajudar melhor – contacte-nos através de olsson@ibmc.up.pt!
Para os residentes no Grande Porto, temos também um programa de visitas de escolas ao IBMC, onde é dada (aos alunos do 9º ano e Secundário) uma introdução teórica ao tema seguida de debate sobre o uso de animais na investigação e os aspectos éticos relacionados. Pode saber mais sobre as visitas e inscrever-se aqui.
Workshops em Bioética Animal e Ambiental
International Conference on Veterinary and Animal Ethics

Quanto à conferência propriamente dita, foi pautada por altos e baixos, como se compreende num evento inaugural. A organização (exemplar) do Royal Veterinary College optou por uma abordagem de alargada abrangência temática com curtas contribuições de veterinários, filósofos, economistas, advogados, dirigentes políticos e de ONG’s. Esta pletora de palestrantes diluiu em demasia a unidade da conferência (os temas foram do abate religioso ao Grand National passando pelo Human-Animal Bond em menos de uma hora) mas permitiu um ambiente alargado de discussão, que por vezes igualava o tempo da palestra que lhe dava origem.
As palestras foram gravadas e serão transpostas para livro, com a chancela da Blackwell Publishers. Entre elas destaco duas, sem desmérito para as restantes:
a) “Ethical analysis of the use of animals for sport” de Madeleine Campbell pela forma objectiva e clara como expôs a dilemática no uso de cavalos para desporto.
b) “The Justice of Animal Use” de Martin Whiting que explora a transposição (ou não…) do Princípio da Justiça para o âmbito da ética animal.
De realçar que a conferência foi seguida em directo pelo Twitter (#ICVAE), tendo mesmo sido feitas perguntas aos palestrantes por essa via, e também pela plataforma NOVICE (Animal Welfare Group) onde, através do trabalho dactilográfico extraordinário de uma outra bolseira, Rowena Packer, se conseguiu um elevado nível de discussão que ainda hoje perdura.
Trabalhar com Bem-Estar Animal em Portugal: Leonor Galhardo, ISPA

Na primeira entrevista desta serie, falamos com a etologa Leonor Galhardo sobre o curso que ela dirige e ainda sobre o cenário atual de bem-estar animal em Portugal.
Sim, será no dia 2 de Julho, no ISPA.
Trata-se de um curso geral em Comportamento e Bem-Estar Animal que pretende dar formação em aspectos biológicos, sociais e éticos relacionados com o conceito de bem-estar animal, ao mesmo tempo que aborda aspectos particulares de áreas bem definidas como a pecuária, incluindo a aquacultura, os animais de companhia, os animais selvagens e o uso de animais para fins experimentais. O curso tem uma acentuada componente prática com várias visitas de estudo e trabalho efectuado pelos alunos. Destaco em particular o Projecto em Bem-Estar Animal que é uma unidade curricular onde os alunos realizam um projecto na sua área de interesse. Este projecto é desenvolvido ao longo de 10 meses sob a nossa orientação e constitui uma oportunidade para aprofundar conhecimentos ou resolver problemas decorrentes de actividades profissionais ligadas a animais. A segunda edição deste curso irá também incluir um módulo em didáctica do bem-estar animal e outro em interacções humanos-animais.
Quais são os alunos e as suas motivações par a procurar formação especializada nesta área?
Temos alunos de formação diferente, mas em particular médicos-veterinários. Na primeira edição do curso tivémos também biólogos, zootécnicos e enfermeiros veterinários. Pensamos que este curso pode também ser de grande interesse para professores, bem como para psicólogos interessados nas relações entre humanos e animais. As motivações dos nossos alunos são a necessidade de aprofundar conhecimentos científicos e técnicos em comportamento e bem-estar animal e poderem adquirir formalmente competências para trabalhar nesta área, dando formação ou de alguma forma esteja ou venha a trabalhar com animais na área da inspecção, maneio, aplicação de legislação, etc.
Sim, já temos várias pessoas interessadas no curso e portanto pensamos que existe grande probabilidade de o re-editar no próximo ano lectivo.
Tem um papel fundamental. Na minha opinião, em qualquer área em que os animais sejam utilizados por humanos, são as decisões que tomamos acerca da sua manutenção, a forma como os manuseamos, a competência com que os compreendemos e manipulamos o seu comportamento que ditam as principais directrizes daquilo que pode ou não constituir o bem-estar dos animais em causa. Por isso é imprescíndivel que haja formação profissional e conhecimentos nesta área em qualquer sector do uso de animais. Para além disso é já uma exigência das entidades competentes que as pessoas tenham formação teórica e prática para manipular animais por exemplo na pecuária e na e investigação.
Leonor, foste provavelmente a primeira portuguesa a concluir formação superior em bem-estar animal e trabalha com esta questão em Portugal há mais do que uma década. Como estão os animais em Portugal – bem ou mal? Melhor ou pior do que há 15 anos?
Embora eu ache que os animais em Portugal precisam da nossa intensa preocupação e cuidados, a sua situação melhorou em alguns aspectos quando comparando com há 15 anos atrás. Antes de dar exemplos de mudanças positivas e situações em que penso que não houve evolução nenhuma, gostaria de começar por referir que a protecção dos animais é uma atitude social de carácter civilizacional e como tal exige tempo; é lenta; atravessa gerações… Uma das áreas em que pouco ou nada mudou nos últimos 15 anos, apesar do carácter estruturante que tem para a protecção dos animais em Portugal, foi o conteúdo e a aplicabilidade da Lei de Protecção dos Animais (92/95). Precisamos de um formato legal que permita uma protecção real dos nossos animais – maus-tratos, negligências, abusos, e outras agressões que causam grande sofrimento praticamente não são ainda penalizadas em Portugal. Na área da pecuária, em função da evolução da legislação houve vários como progressos, embora muita fiscalização e formação técnica seja necessária para atingir níveis aceitáveis de bem-estar animal. Exemplos de requisitos que melhoraram na pecuária: alteração das baterias de galinhas poedeiras para sistemas melhorados; proibição das celas individuais para porcas reprodutoras e melhoramento dos sistemas intensivos para suínos; identificação, controlo e fiscalização do transporte dos animais para o matadouro; maior preocupação com o atordoamento no abate. Na investigação, há um lento progresso no sentido do registo e pedido de autorização para levar a cabo experiências feitas em animais. Actualmente, muitas centenas de investigadores fizeram cursos para se tornarem competentes no manuseamento e redução do sofrimento de animais em experiências. Há 15 anos atrás não havia qualquer espécie de controlo nesta matéria. Na área dos animais de companhia continua a não haver dados oficiais que nos permitam conhecer taxas de abandono e suas causas. Mas aparecem agora pessoas interessadas no assunto (no nosso curso, foi feito um trabalho neste sentido) e, de qualquer forma, o sistema de identificação obrigatório e a base de dados que foi criada permitem um controlo muito diferente do que existia há 15 anos, que era nulo. Não obstante, muito há para fazer para tornar os donos dos animais mais responsáveis e a base de dados de identificação mais operacional. Na área dos animais selvagens, também julgo ter havido uma evolução, com os parques zoológicos hoje muito mais preocupados do que antes com aspectos relacionados com o enriquecimento ambiental e com o passar para o público mensagens de conservação. Há 15 anos atrás os animais saíam destas instituições para circos, colecções privadas, etc. e hoje um grande número de parques nem por sombras o considera fazer, até porque se tornou proíbido. Acerca de todos estes exemplos quero reforçar a ideia de que há indicadores de claras melhorias embora ainda haja muito por fazer. Para concluir, gostaria de lembrar que há 15 anos atrás falar de bem-estar animal em certos círculos provocava risos ou atitudes de desmerecimento do assunto. Hoje, as pessoas estão em geral mais conscientes de que os animais são seres que sentem, capazes de pensar, raciocinar, fazer as suas escolhas, alimentar desejos, sofrer e ter prazer. Essa consciência humana muda tudo em relação à nossa atitude de base.
Bem-estar animal é uma questão com uma clara conotação política – na resposta anterior falaste de leis, fiscalização e controlo, todos assuntos que têm a ver com política. Assunção Cristas acabou de tomar posse como a nova ministra de Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento. Que assuntos consideras mais urgentes para esta nova responsável máxima pelo bem-estar animal em Portugal?
Os assuntos mais urgentes são sem dúvida a operacionalização de uma Lei de Protecção dos Animais, a formação técnica adequada de todas as partes envolvidas (pessoas que trabalham directamente com animais; gestores e inspectores de actividades envolvendo animais) e a operacionalização de bases de dados oficiais para melhorar os sistemas de controlo. Em relação à formação técnica, podemos ter a ideia de que um sistema extensivo de animais de produção é melhor do ponto de vista de bem-estar animal do que um sistema extensivo. Em larga medida, é verdade. Mas, na prática, qualquer dos dois pode ter enormes problemas dependendo da forma como o maneio dos animais é feito. E isso exige formação, conhecimentos adequados e especializados. Quanto às bases de dados oficiais, penso que é necessário operacionalizá-las melhor para que elas possam ser usadas de forma mais eficiente no controlo e na caracterização do perfil das várias áreas em causa. Precisamos com urgência de uma história, de indicadores de bem-estar animal, de uma forma consubstanciada de sabermos como estamos, de onde viemos, e para onde conduzimos os destinos do bem-estar animal em Portugal.
A Evolução dos Tentilhões de Darwin – SERRALVES
A evolução dos tentilhões de Darwin
Oradores: Peter Raymond Grant e Barbara Rosemary Grant
Auditório da Fundação de Serralves, Porto
Peter Raymond Grant e Barbara Rosemary Grant são um casal de biólogos evolutivos britânicos, Professores Eméritos na Universidade de Princeton, que se distinguiram pelo seu trabalho notável sobre o estudo dos tentilhões de Darwin, e pela demonstração da evolução das espécies através do processo de selecção natural, descrito por Charles Darwin.
Na sua Conferência “A evolução dos tentilhões de Darwin”, Peter e Rosemary Grant descrevem-nos alguns dos resultados desta fascinante investigação que tem vindo a ser realizada nos últimos 40 anos nas ilhas Galápagos, nomeadamente sobre como estas espécies podem rapidamente variar através de mecanismos de selecção natural, por exemplo em características como o tamanho do corpo ou do bico, em resposta a alterações do meio ambiente.
Mais detalhes, aqui.
Universidade do Porto estabelece link com UFAW
A partir de Março de 2011, alunos e professores da Universidade do Porto podem beneficiar da recentemente estabelecida ligação entre a UP e Universities Federation for Animal Welfare. Esta associação inglêsa tem como objectivo promover a questão de bem-estar animal no ambiente universitário, e recentemente abriu a possibilidade para instituições fora de Reino Unido se associar atraves do UFAW University Links.
Os pontos de contacto na UP são Paulo Vaz-Pires (ICBAS) e Anna Olsson (IBMC). As actividades a ser desenvolvidas no ambito da ligação serão abertas a toda a Universidade e teremos muito gosto em colaborar e discutir opções de actividades de divulgação. Para já, podemos adiantar que este acordo abre pela primeira vez acesso para alunos portugueses a um programa de bolsas especificamente destinados a trabalhos em bem-estar animal. Embora o concurso para 2011 fechou antes do estabelecimento do acordo, esperamos já ver alunos da UP a concorrer em 2012!
Curso Comportamento e Bem-estar em Ruminantes
Uso de animais no ensino – Parte 4
(Ver Parte 1, Parte 2, Parte 3)
Na sequência da publicação de um artigo meu no número de Janeiro da revista profissional Veterinária Actual, retomo aqui o tema do uso de animais no ensino de Medicina Veterinária. Esta discussão teve origem na notícia sobre “Cães vivos usados como cobaias na Universidade de Évora” e que foi desenvolvida – e muito discutida – em comentários posteriores (as mensagens anteriores podem ser encontradas em Parte 1, Parte 2 e Parte 3).
Deixo então a última parte, referente ao enquadramento deontológico, tal como foi publicada:
Face à impossibilidade de haver ensino veterinário sem o manuseamento de animais vivos, como devemos pautar a nossa conduta profissional de modo a deslindar o nó górdio em que nos encontramos? A solução passa por recorrermo-nos de recursos e métodos alternativos, como sejam:
a) Gerar casos clínicos reais através do Hospital escolar, da clínica móvel e de protocolos com criadores/produtores privados.
b) Utilizar os animais dos próprios alunos, após mútuo acordo, nomeadamente para procedimentos semiológicos e diagnósticos.
c) Colaborar com associações zoófilas e organismos oficiais, especialmente em campanhas de esterilização e de profilaxia.
d) Investir em modelos artificiais (manequins e simuladores).
e) Fomentar o extramural active learning em CAMV privados.
f) Aproveitar cadáveres provenientes dos Centros de Recolha Oficiais.
g) Criar um código de boas práticas pelo qual os educadores se possam orientar.
Espero a contribuição de todos.
Experimentação animal no século XXI: Necessidade ou Capricho? – O debate possível ( parte 1)
Antes de mais, peço desculpa pela extemporaneidade deste post, que diz respeito ao debate que ocorreu na FEUP a 26 de Novembro a propósito das II Jornadas de Bioengenharia e subordinado ao tema em epígrafe.
A convite dos alunos de Bioengenharia, fui moderador deste debate, que contou com as apresentações da Prof. Fátima Gartner (ICBAS/IPATIMUP) e de Rita Silva, Presidente da Direcção da Associação Animal.
A apresentação da prof. Fátima foi, fundamentalmente, uma apologia àquilo que entendeu ser a actual necessidade imperiosa do uso de animais como modelos em investigação básica e aplicada, como garante da eficácia e segurança das terapias e outras intervenções usadas em contexto clínico e veterinário. Uma das questões mais focadas foi a da Responsabilidade – que salientou ser o “quarto R” da experimentação animal – dos investigadores no uso de animais. Assim, frisou ser o dever de qualquer investigador responsável o de apenas usar animais quando absolutamente inevitável, no menor número possível e com a maior atenção para o seu bem-estar. Outro tópico que destacou foi o uso em investigação de modelos espontâneos de doenças em animais de companhia que chegam às clínicas veterinárias.
Da parte de Rita Silva, foi feita essencialmente uma oposição ao uso de animais no plano ético. Assim, independentemente de quaisquer outros factores, o uso de animais não deveria ser sequer equacionado como uma possibilidade, tendo afiançado – ainda que sem especificar – a existência de alternativas ao uso de animais sencientes, aqueles que, efectivamente, deveriam ser protegidos do sofrimento. Ainda que sem desenvolver em concreto a que se referia, foram ainda apontados “os dramas e horrores do passado” atribuíveis à alegada falta de validade do uso de animais como modelos de seres humanos e o facto do uso de animais apenas ser praticado devido à existência de grandes interesses económicos detrás dos mesmos.
Aparte a enorme diferença de posturas, houve também uma grande diferença de estilos. Ao contrário do que estava à espera, a participação mais entusiasta e emocionada partiu da Prof. Fátima, que não se coibiu de lançar desafios à plateia (“quem tomaria uma droga ou vacina não testada? Ou a daria ao seu animal?”), que prontamente aderiu e corroborou em massa o que pretendia demonstrar. Outra diferença a assinalar foi que a Prof. Fátima falou a título individual e com base na sua experiência de décadas como investigadora, enquanto que a Rita foi porta-voz da posição oficial da Animal, não se desviando da mesma.
No geral, o debate correu com elevação e respeito de parte-a-parte, algo que temia poder não acontecer, uma vez que tinha já tido a má experiência do debate no Clube Literário do Porto, que foi absolutamente kafkiana, nomeadamente ao nível das reacções inflamadas do auditório (mas não dos oradores), onde termos como “sadismo”, “tortura” e “mentira” foram apontados ao trabalho de cientistas que dedicam os seus esforços à melhoria da saúde e qualidade de vida dos seres humanos. Tal não foi o caso, contudo.
Ambas as convidadas deram a conhecer a sua diferente visão de um mesmo fenómeno – o uso de animais como modelos em investigação biomédica – cada uma de algum modo influenciada pela subjectividade da sua própria experiência e sensibilidade. Mas isto fica para a segunda parte…







