PeTA leva TAP a recusar transportar animais para investigação biomédica.

[Nota: uma versão deste post foi publicado como artigo no jornal Público, a 4 de Fevereiro de 2016)]

Esta semana a TAP-Air Portugal retweetou este tweet da PeTA:

O mesmo faz menção à notícia que a TAP vai deixar de transportar troféus de caça, barbatanas de tubarão e outras partes de animais em risco, bem como animais para uso em investigação, após um compromisso assinado com a PeTA-US. A própria TAP, contudo, não faz menção a este acordo com a sociedade activista pelos direitos dos animais nos seus canais de comunicação. 
Protesto em Vancouver, em 2012
(Fonte: Nature)
A PeTA tem focado os seus esforços na oposição ao transporte de primatas, sob o argumento (falso) que estes são retirados de habitats naturais ou criados em condições deploráveis. Contudo, o sucesso extraordinário destas iniciativas levou à ambição de estender este boicote ao transporte de invertebrados (como moscas) nas suas exigências às companhias transportadoras.

Protesto contra a United Airlines
As elevadas exigências ao nível de bem-estar destes animais faz com que o transporte por via aérea seja o ideal, por ser o mais rápido e menos stressante. É, contudo, logisticamente complexo, razão pela qual poucas companhias reúnem as condições para o fazer. Sendo poucas, são mais vulneráveis a tácticas de intimidação por parte da PeTA, por falta de solidariedade (ou receio de represálias) das demais. Não sabemos, contudo, se foi o receio de serem um alvo das acções de activistas, ou por razões de imagem pública (improvável, já que não foi divulgado) que levou a este acordo.
O medo é uma arma muito poderosa, e o receio de perder passageiros levou a que várias companhias que transportavam animais para estudos biomédicos tenham cedido a pressões da parte de um pequeno número de indivíduos, que não representam, de todo, o sentimento geral do público. Pior ainda é que o tenham feito sem terem consultado as instituições médico-científicas com que trabalhavam, ou associações de doentes. Tenho vivamente gravada a revolta de uma mãe de uma menina com síndrome de Rett e presidente da respectiva associação de doentes, que emocionada perguntou  numa conferência em Roma “com que direito podem estes pequenos e marginais grupos se interpor aos direitos dos demais, à descoberta de uma cura para a minha filha?”. E ainda que a questão não seja linear, é difícil sermos insensíveis a este tipo de apelo.

Seja qual for a razão que levou a este acordo, o que isto significa é que se pode interpretar que a TAP considera a caça de animais ameaçados moralmente equivalente ao transporte de animais criados propositadamente para uso em investigação biomédica, isto é, para dar resposta a doenças que causam sofrimento e morte de milhões de humanos e outros animais.

Falta de discernimento?

Associar causas quase consensuais (como o combate ao tráfico ilegal de animais) à experimentação animal é uma estratégia recorrente da PeTA e de outros grupos animalistas, tentando com que o público considere ambas igualmente meritórias de censura. Outra estratégia comum aqui também presente é explorar o facto do público se opor mais fortemente ao uso de primatas e animais de companhia do que ao uso de roedores. Por essa razão, e ainda que nenhuma espécie de primata ou animal de companhia seja usada em Portugal em investigação (e em toda a Europa representem juntas uma percentagem ínfima do total de animais usados, com total proibição do uso de grandes primatas), são estas as espécies usadas em propaganda política contra o uso de animais, no nosso país.

O bem-estar dos primatas usados em investigação é cada vez mais uma prioridade
(Fotos do  California National Primate Research Center)

Apesar de serem usados em pequeno número, os primatas são fundamentais para a compreensão de doenças que afectam quer humanos, quer os próprios primatas na natureza, como o HIV (e vírus semelhantes) ou o Ébola, e para o desenvolvimento e teste de vacinas e terapias para as mesmas. E apesar das limitações ao transporte destes, ou de outros animais usados em ciência, poderem até certo ponto ser colmatadas por criação in situ, em muitas circunstâncias é logisticamente proibitivo, e em qualquer caso levará a um aumento considerável do número de animais em laboratórios e ao custo destes estudos. Em todo o caso, parece que o acordo a que a TAP anuiu inclui todas as espécies animais, desde que o seu destino seja o uso em ciência, alheios aos nível de cuidados prestados, que vai frequentemente além do que beneficiam os animais de companhia que transportam.

Em suma, sou o primeiro a admitir que o uso de animais em ciência é cientifica e eticamente complexo, mas considerá-lo equivalente ao tráfico de barbatanas de tubarão ou de presas de elefante é de uma profunda desonestidade intelectual. Nada a que não esteja habituado

Obesidade de estimação


Por  Helena Correia, Patrícia Esteves e Tiago Neves, alunos da Pós-Graduação de Bem-Estar e Comportamento Animal do ISPA. 
Gato doméstico obeso. Fotografia: Malin Öhlund

Cães e gatos gordos, sim, a obesidade também já chegou aos nossos animais de estimação, considerada pela Organização Mundial de Saúde como a “Epidemia do Século XXI”. São muitos os paralelos no nosso quotidiano entre os seres humanos e os animais não humanos, com consequências igualmente negativas. Só em Portugal estima-se, que dos 1,8 milhões de caninos e 1 milhão de felinos que vivem nos nossos lares (Visão, Agosto 2014), 40% dos cães e 30% dos gatos estejam obesos

O cão ou gato com excesso de peso vai ser um animal com menos vontade de brincar, com cansaço excessivo e dificuldade ao movimentarem-se e com elevado risco de desenvolver doenças típicas da obesidade, como os diabetes (tipo II), as habituais doenças cardiovasculares e o cancro. Também irá ser devastador para as articulações, o sistema respiratório e renal. Ou seja, estes nossos amigos vão perder qualidade de vida e também viver muito menos tempo. 

Casos de referência são o Meow e o Rusty cuja atenção mediática e ação por parte das autoridades e associações de animais abriram um precedente para a questão do bem-estar animal em casos de obesidade. Estávamos habituados a ouvir casos em que as autoridades agiram para salvar animais de fome, mas os donos do Meow e do Rusty veram o seu animal ser aprendido por ter peso a mais. 

Quando vamos avaliar as causas, temos de obrigatoriamente olhar para a relação homem-animal. Embora há influência de fatores fisiológicos, genéticos e patológicos (por exemplo, a esterilização e a castração diminuía o ritmo metabólico, há raças com mais predisposição para se tornarem obesos e doenças como hipertiroidismo afeta diretamente o metabolismo), os  “Meow” e “Rusty” vão ser um reflexo dos cuidados que recebem. 

É aqui que hábitos e falta de informação surgem nesta história. Sem necessiariamente de se aperceber, os donos acabam por não preencher as necessidades de estímulos e exercício, impossibilitando o gasto da energia que é recebida pela dieta. Ou não se tem ideia real da quantidade de comida que o animal recebe ou necessita para ter uma dieta saudável e balanceada. E existe sempre “aquele bocadinho extra de comida minha de que ele gosta tanto”, o chamado “too much love”, um hábito que pode ter consequências ainda piores quando o que é oferecido não é um alimento adequados para os animais. 
 

A nova legislação que entrou em vigor em Portugal pune e condena os maus-tratos aos animais, seja por privação de meios essências à sua sobrevivência, como comida e água, ou por agressão ou abandono. São responsáveis, todos aqueles que “sem motivo legítimo, infligirem dor, sofrimento ou quaisquer outros maus-tratos a um animal de companhia”. No entanto, não deverão ser também responsabilizados todos aqueles que comprometem a saúde e bem-estar dos animais, através da sua negligência, seja por não dar suficiente, seja por dar demais?

Mas não se altera hábitos só através (ameaça de) punição. Sendo o problema sobretudo falta de informação (por exemplo, na Inglaterra um terço dos donos de animais de estimação não sabem medir o peso do seu animal), entra aqui a necessidade de medidas ativas de informação junto dos donos. Estas medidas não devem apenas encorajar os donos a fazer bem, devem ainda incluir ferramentas concretas. A Association for Pet Obesity Prevention fornece um tradutor de peso que permite calcular o que um determinado peso representa em termos o excesso de peso em percentagem, e um esquema para monitorizar diariamente alimentação e exercício do animal.

Workshop "Sensibilidade e Bom-senso" – Comunicar investigação com animais ao público

Os centros de investigação há muito compreenderam a importância de fazer chegar informação científica ao público. Para além da consequência mais directa de promover o conhecimento e compreensão de factos e conceitos científicos por parte do público, há um conjunto de outros benefícios, como sendo uma maior abertura à inovação, uma compreensão mais abrangente da necessidade de investir em ciência, maior capacidade de intervir de modo informado e participativo em importantes decisões pessoais (de saúde, por exemplo) e nacionais ou, como neste caso, maior receptividade ao uso de animais para fins científicos. 
Assim, a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova irá realizar um workshop para ajudar cientistas, jornalistas e comunicadores de ciência a comunicar os resultados de investigação biomédica realizada em animais. 
Um workshops dirigido a cientistas, jornalistas e comunicadores de ciência.
Mais informação aqui
Mas é legítimo questionar: devemos advogar e promover uma maior aceitabilidade do uso de animais em ciência? Não está a substituição do uso de animais explicitamente definida como um objectivo da União Europeia, patente no investimento nesta área e na própria legislação
A esse respeito, convém clarificar que o objectivo não é fazer uma campanha para advogar o uso de animais, mas antes promover a compreensão que o uso de animais em investigação fundamental e aplicada é ainda, infelizmente, uma necessidade, face ao número de doenças que ainda são causa de sofrimento quer de humanos, quer de outros animais. 
Sabe-se que a grande maioria da população faz uma avaliação positiva da experimentação animal, se tiver uma percepção que o a mesma é devidamente justificada, com respeito pelo bem-estar animal e devidamente legislada. E assim importa dar a conhecer as razões pelas quais os animais são utilizados, como são utilizados e como isto é regulado e supervisionado, tema que eu e a Anna Olsson (e dois outros investigadores) já levámos às páginas do jornal Público
Face à importância de continuar a granjear a confiança e apoio do público na investigação biomédica, vem este workshop contribuir para ajudar os investigadores que usam animais no seu trabalho a falarem do mesmo na primeira pessoa, de modo transparente, acessível, eficaz e empático. 

O papel do Médico Veterinário na Tourada à Portuguesa

Cinco anos passados, trago à luz um artigo, publicado em 2010 na Veterinária Atual, onde exponho a minha visão sobre o papel da classe médica veterinária na Tourada à Portuguesa. À excepção da legislação (o Decreto Regulamentar n.º 62/91 de 29 de Novembro deu lugar ao Decreto-Lei n.º 89/2014 de 11 de Junho) o artigo é uma cópia fiel do orginal.

Pablo Picasso (1881-1973)
Corrida de Toiros: A Morte do Toureiro (1933)
Óleo sobre madeira, 31,2 x 40,3 cm
Musée Picasso, Paris
Ver descrição aqui.

Resumo

A corrida de touros tem surgido, nos últimos anos, como um tema fracturante na sociedade portuguesa. Se os activistas dos direitos dos animais defendem que o touro deve ser poupado ao sofrimento da lide, os aficionados contestam que é essa mesma lide que permite a sobrevivência do touro bravo (ou seja, da sua raça). A classe médico-veterinária está, por inerência das suas responsabilidades, envolvida na actividade tauromáquica e nunca tomou – que seja do meu conhecimento – nenhuma posição concertada na mediação deste confito. No entanto, se permanecermos alheados da discussão pública, arriscamo-nos a ser ultrapassados pelos acontecimentos e a ver o papel da nossa classe diminuido ou mesmo descredibilizado. Este artigo pretende enquadrar o papel do Médico Veterinário na Tourada à Portuguesa e dessa forma contribuir para uma reflexão mais aprofundada sobre esta matéria.

Introdução

A questão da legitimidade moral do espectáculo tauromático (vulgo corrida de touros ou tourada) não é nova. Ela remonta às origens da própria actividade (ERCS 2008) e corresponde a um choque sociológico enraizado onde colidem duas formas distintas de entender a ética animal. E se a visão dos activistas é, por vezes, reducionista pois concentra toda a actividade tauromáquica no sofrimento do touro na arena, a verdade é que defender o status quo porque a tourada é uma tradição secular (ou porque evita a extinção do touro bravo) corresponde a uma igual simplificação de raciocínio. Certo é que, na defesa do touro bravo, não basta esgrimir argumentos de um e doutro lado da barricada na esperança que o adversário soçobre. Enquanto a discussão sobre as touradas estiver tão polarizada em grupos de interesse – e manipulada pelos media – não é crível que o principal interessado na contenda, o touro, saia beneficiado. É, pois, necessário procurar um debate sério capaz de reunir consensos, e aqui deixo uma primeira contribuição.

A tourada contextualizada

Desde o mediático caso de Barrancos no virar do século (Capucha 2002), que o movimento anti-touradas tem merecido especial notoriedade entre a opinião pública nacional sem que isso signifique necessariamente que a corrida de touros esteja a perder popularidade. As estatísticas são, neste sentido, contraditórias (Público 2009). No entanto, não podem os aficionados ignorar o fenómeno social do activismo pró-animal como o fizeram no passado. Uma sociedade democrática assenta as suas premissas básicas num pluralismo de opiniões que é preciso compreender. A profissão veterinária é ela própria um bom exemplo: de masculina e rural passou em duas décadas para tendencialmente feminina e urbana, o que traz consigo uma riqueza de opiniões que importa ouvir. O pequeno, mas significativo, número de autarquias que proíbe os espectáculos tauromáquicos nos espaços por si tutelados, é bem a imagem de que a festa brava se encontra numa encruzilhada: ou continua surda aos gritos de revolta e assiste imóvel ao crescente mediatismo dos argumentos das organizações zoófilas (mesmo que, por vezes, desprovidos de profundidade) ou oferece o dorso ao ferro e promove a reformulação de algumas das práticas que constituem a lide.

Todos nós sabemos que a actividade tauromáquica é muito mais do que a lide. É um modo de vida que, dentro do mesmo raciocínio plural, merece ser respeitado. Mas, mesmo que tenhamos em consideração os anos de vida livre de que o touro goza, a defesa da tourada torna-se frágil quando analisada em termos de bem-estar animal. Embora a tourada goze de protecção jurídica (Decreto-Lei n.º 89/2014 de 11 de Junho), o “óbvio sofrimento dos touros” (Pereira 2003) não pode ser ignorado. O regime de excepção previsto pela lei nacional (artigo 1.º, n.º 3, alínea b), da Lei 92/95 de 2 de Setembro) legaliza o uso de instrumentos perfurantes nas touradas mas não legitima todo o tipo de asserções. Afirmar, em directo na televisão nacional, que o touro na arena não sofre (João Palha Ribeiro Telles, SIC, Aqui & Agora, 23 de Abril de 2009) é uma forma pouco séria de discutir a dimensão ética da corrida. O sofrimento existe, faz parte da faena e só assumindo este facto inelutável pode a indústria tauromáquica encarar de frente aqueles que tão agressivamente a acometem.

Apesar do bem-estar do touro ser comprometido desde a sua selecção para a lide até até ao abate, isso não significa que não possam ser introduzidas melhorias. Tendo em conta que a tourada não visa torturar o animal, é do interesse dos próprios aficionados que seja dado um primeiro passo no sentido de minorar a ansiedade e a dor a que o touro é sujeito no dia da lide. O problema é que, no momento presente, os detractores da indústria tauromáquica actuam como agentes agressores mais interessados em extinguir o seu modo de vida do que em discutir o que pode ser feito em matéria de consensos. Neste aspecto em particular, deve a classe medico-veterinária tomar a liderança na prossução de medidas concretas e pró-activas que beneficiem todos os intervenientes na corrida, particularmente o touro.

O papel do Médico Veterinário

O Médico Veterinário constitui o único interveniente nas actividades tauromáquicas que, gozando de absoluta independência de actuação e obedecendo a códigos de conduta moral, procura conciliar o respeito pelos interesses humanos com a defesa da saúde e bem-estar animais. Esta posição, de uma aparente ambivalência, expõe mais facilmente o Médico Veterinário ao criticismo público. Por isso é que, quer sejamos aficionados ou apologistas dos direitos dos animais – ou mesmo na ausência de opinião formada – não podemos ignorar o fenómeno social das touradas. Como profissionais de saúde animal devemos actuar à margem da polémica, procurando reunir a melhor evidência científica e assim contribuir para a construção de uma opinião pública informada e uma prática tauromáquica mais coerente com os valores da sociedade em geral. E por onde começar? Seguem-se algumas sugestões, que não pretendem ser mais do que pontos de reflexão para uma posterior discussão:

  1.  Promover uma maior transparência da Corrida:O Médico Veterinário assume um papel central nos espectáculos tauromáquicos, onde lhe compete assessorar o director da corrida, conforme o previsto pelo supracitado Decreto-Lei n.º 89/2014. O seu juízo é soberano e não podem restar dúvidas nem sobre a sua conduta nem sobre a motivação das suas decisões. Como muitos dos ataques sofridos pela tourada são fruto da ignorância sobre os métodos utilizados nos bastidores da arena, urge promover uma maior transparência das práticas que fazem parte da corrida como o transporte, a desponta e a embolação. Adicionalmente, o Médico Veterinário pode contribuir para a introdução de medidas que permitam minorar o desconforto das reses (ver adiante).
  2. Investir em projectos de investigação em touros de lide: Os colegas investigadores – em especial nas áreas do comportamento e do bem-estar animal – têm nas corridas de touros um manancial de informação enorme e que está ainda por explorar. Aliás, muito está para fazer em quase todas as áreas das ciências veterinárias no que diz respeito ao touro bravo. Para se avançar neste sentido é necessário abrir a tourada a estudos científicos rigorosos e daí ser fundamental a colaboração com os colegas responsáveis pelas corridas. Existe, por exemplo, a crença, comum entre os aficionados, de que o touro tem de sentir dor para investir. Não será que o touro investe apesar de sentir dor e que aí reside a suposta bravura que os ganadeiros procuram alcançar?
  3. Introduzir o conceito de 3 R’s nas Corridas: O conceito dos 3’Rs (Reduction, Refinement, Replacement). foi introduzido no uso de animais de laboratório em investigação biomédica há mais de 50 anos (Russell & Burch 1959) e pode ser adaptado para o contexto da tourada. Estudos que visem refinar (Refinement) os métodos de desponta e embolação; de recolha, transporte e alojamento; do tempo que dista entre a lide e o abate. A procura de alternativas (Replacement) menos traumáticas às tradicionais bandarilhas e à prova da tenta. E a redução (Reduction) do número de animais lidados, do tempo da lide ou do número de ferros a que cada touro é sujeito. 
  4. Reforçar o papel dos Médicos Veterinários Taurinos: Aos colegas especialistas em touros de lide cabe a importante missão de comunicar a ciência à indústria ganadeira. Eles são a linha da frente no diálogo entre o conhecimento científico e a tradição popular e devem assumir um papel activo na educação dos ganadeiros e participar na desmistificação de algumas das crenças comuns entre os aficionados. Como confessa o colega e aficionado Joaquim Grave (2000), “o mundo dos touros é bastante fechado e enferma de alguns tabus”. A missão complica-se porque o jargão tauromáquico é pródigo em termos, como “humilhar do touro” ou “entrega ao sacrifício”, que podem suscitar interpretações erróneas ou desfasadas da ecologia do animal.
  5.  Promover a educação para os valores no ensino da Medicina Veterinária: O ensino pré-graduado em Medicina Veterinária deve previligiar não só a componente deontológica (códigos normativos) mas também o ensino da ética e do profissionalismo. É necessário fornecer aos alunos as ferramentas decisionais que lhes permitam compreender o pluralismo de opiniões da sociedade contemporânea e defender as suas próprias opções éticas. A abordagem a questões como qual deve ser o papel do Médico Veterinário na tourada ou qual a justificação moral para defender a sua atitude em relação aos touros de lide devem fazer parte da sua formação base.
  6.  Criar-se uma plataforma de discussão dentro da classe:  Este artigo constitui uma reflexão introdutória sobre os passos que a classe veterinária pode dar no sentido de se envolver de forma responsável na problemática social e ética das corridas de touros. Estou ciente que algumas das sugestões deixadas não colherão fácil aceitação, nem serão porventura as mais adequadas. Por isso seria útil que se criasse, no futuro próximo, uma plataforma de discussão no seio da nossa classe – em congressos, publicações escritas ou usando as tecnologias de informação – onde o papel do Médico Veterinário na tourada à Portuguesa seja debatido.

Considerações finais

As competências e responsabilidades inerentes à nossa profissão fazem do Médico Veterinário um interlocutor privilegiado na procura de soluções práticas para o conflito social dos espectáculos tauromáquicos. Não devemos assistir de braços cruzados ao desenrolar dos acontecimentos, esperando que sejam outros a decidir por nós. Se nada fizermos, seremos avaliados pela nossa inércia. A actividade tauromáquica faz parte da paisagem cultural (rural e urbana) do nosso país e cabe à sociedade a última palavra, decidindo se de medidas como as que aqui foram propostas resulta uma festa mais humana – e que merece ser defendida – ou, pelo contrário, menos autêntica – e talvez inaceitável. Só discutindo pontos discordantes podemos, em concreto, ir ao encontro do único ponto que todos parecem defender: os interesses do touro de lide.

Referências
Capucha, Luís (2002) “Barrancos na ribalta, ou a metáfora de um país em mudança”, Sociologia – Problemas e Práticas, n.º 39, pp. 9-38
ERCS (2008) “Deliberação 13/CONT-TV/2008”, Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Lisboa, 3 de Setembro de 2008
Grave, Joaquim (2000) Bravo! Lisboa: Oficina do Livro
Pereira, António Maria (2006) “Ética e Touradas”, Crítica: Revista de Filosofia, Acesso por: http://criticanarede.com/html/ed130.html, em 11 Nov. 2009
Público (2009) “Destaque – Tauromaquia”, Jornal Público, nº 6975, 08/05/2009, pp. 2-3
Russell, W.M.S. & Burch, R.L. (1959) The principles of humane experimental technique. London: Methuen

Este texto foi publicado originalmente como:

M. Magalhães-Sant’Ana (2010) “Haverá lugar a consensos na Tourada à Portuguesa? O papel do Médico Veterinário”. Veterinária Atual – Revista Profissional de Medicina Veterinária, 25: 32-33.

"Rat Park" – Uma história ilustrada sobre ratos, drogas, ciência e sociedade

Um aspecto central para avaliar a aceitabilidade ética do uso de animais em ciência é a importância atribuída aos benefícios científicos ou médico que se espera daí poderem advir. 
Um exemplo da aplicação deste raciocínio foi o da proibição de testes de cosméticos em animais na União Europeia, uma vez que o consenso atingido – por legisladores, cidadãos, indústria, academia e grupos de protecção animal – foi que o fim não justificava os meios. Também pela mesma razão, a investigação em doenças humanas vistas como resultantes de “más escolhas” por parte dos pacientes – como as associadas ao tabagismo ou à obesidade –  é frequentemente alvo de crítica por alguns segmentos da sociedade, algo que contudo foi já posto em causa neste blog. 
Rat Park – Um estudo clássico que contribuiu para
mudar o modo como vemos a adição às drogas. 
Mas que dizer então da toxicodependência? O actual paradigma para lidar com este problema é o de o encarar como uma doença – ainda que com contornos particulares – reconhecendo contudo a influência de aspectos comportamentais, genéticos e sociais que não podem ser menosprezados. Mas o estigma persistente na sociedade civil, religiosa, política e até académica da toxicodependência como o resultado de uma escolha intrinsecamente ligada a estilos de vida censuráveis e à marginalidade, poderá levar a que muitos coloquem em causa a legitimidade moral e científica do seu estudo em animais.  
Na minha opinião, é precisamente a complexidade do problema que exige uma análise atenta e sobre diferentes perspectivas, que poderá incluir estudar isoladamente alguns aspectos da adição em animais. E é um estudo clássico nesta áreas, por Bruce Alexander e colegas, que aqui apresento, sob a forma de banda desenhada pela mão do artista Stuart McMillen. 
Gosto particularmente desta banda desenhada, que se coíbe de fazer quaisquer juízos morais sobre o uso de animais para estudar a dependência, ficando isso ao critério do leitor. É ainda um excelente exercício de comunicação de ciência que descreve eficazmente uma série de estudos, sem contudo se perder em aspectos técnicos, que destaca o potencial impacto médico e social das conclusões obtidas sem cair no erro de o sobrestimar e que consegue um bom equilíbrio no destaque dado a investigadores, animais, pacientes e à própria ciência e suas conclusões. 
Ao invés de procurar descrever esta estória aos leitores, convido-os antes a ler na íntegra a banda desenhada, que se encontra disponível em Português (sob o título Ratolândia). 

"I’ve got a three-legged cat, a one-eyed cat, three dogs that required major surgeries, one goat, and 11 chickens"

Não estava a contar referir a Reader’s Digest num blog cujo cariz é profissional, mas 50 Things Your Vet Won’t Tell You é tanto divertido como profissionalmente fundamentado. Ou o que acham os leitores veterinários?

The reason your pet is fat is because you’re fat too

Centro para o Conhecimento Animal: entrevista com Sara Fragoso

Animalogos: Sara Fragoso, no dia 15 de julho  foi inaugurado o Centro para o Conhecimento Animal em Lisboa. Em que consta esta nova iniciativa?

Sara Fragoso: O Centro para o Conhecimento Animal (CPCA) é o primeiro centro português dedicado ao comportamento e bem-estar animal. Os projetos que estamos a desenvolver e os serviços que disponibilizamos têm como denominador comum o objetivo de contribuir para uma relação bem sucedida entre humanos e outros animais, em que o bem-estar de todos os envolvidos é a base do que fazemos.

Pretendemos dar resposta a uma sociedade cada vez mais consciente e exigente nestas matérias, através de cursos, elaboração de publicações, desenvolvimento de estratégias de prevenção e resolução de problemas do foro comportamental e do bem-estar. Gatos e cães que atacam os donos, cães que puxam a trela, xixis fora do sítio, sofás e mobília arranhados são apenas alguns exemplos de situações que interferem na vida das pessoas e afetam a sua relação com os seus animais de companhia e para as quais o CPCA poderá dar resposta num acompanhamento especializado. Apostamos ainda no desenvolvimento de investigação científica, cujo conhecimento daí resultante serve de suporte para a adoção e divulgação de estratégias de intervenção mais cada vez mais eficazes.

Animalogos: Quem são os potenciais utilizadores ou clientes do CPCA?

SF: Tutores em geral e todos os profissionais que intervenham e influenciem direta ou indiretamente o bem-estar animal, em diferentes contextos, podem usufruir da nossa oferta formativa e apoio no desenvolvimento de estratégias para a prevenção e resolução de problemas comportamentais ou de bem-estar. A nossa ação é dirigida tanto a particulares como a clientes empresariais, e abrange animais de companhia, de produção e selvagens. Além de um conjunto de serviços mais dirigidos a outros animais, também os humanos podem usufruir dos nossos serviços, como consultas de intervenção psicológica no apoio ao luto na perda do seu animal de companhia, bem como, terapias e actividades assistidas por animais.

Animalogos: Quem trabalha no Centro, e como pode-se entrar em contacto?

SF: Somos uma equipa multidisciplinar que conta com vários especialistas de diversas áreas: antropólogos, biólogos, veterinários, professores do ensino especial, psicólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, treinadores habilitados e outros profissionais altamente qualificados nas respectivas áreas de intervenção.

Para entrar em contacto:
– Tlf: 911 114 911
– Email: geral@cpcanimal.pt
– através do site (apesar de estar em construção tem campos disponíveis para o envio de mensagens): www.cpcanimal.pt 

Pass(e)ando sobre os Elefantes ?

Por Alexandra Alves e Matilde Caramelo, alunas do Pós-graduação em Comportamento e Bem-Estar Animal, ISPA. 
Elephas maximus, o elefante Asiático, é um dos maiores animais terrestres. Este mamífero herbívoro pesa 3 a 5 toneladas e alimenta-se de 135 kg de folhagem diariamente. São animais gregários, que constituem famílias, as quais se juntam em grupos de 15 a 30 fêmeas e crias, formando manadas conduzidas por uma única fêmea, a matriarca. Os machos são mais solitários, seguindo o seu próprio caminho quando atingem a puberdade.
A espécie asiática diferencia-se da africana por algumas características anatómicas como ser mais pequena, e ter orelhas redondas e mais pequenas e uma tromba preênsil que termina em apenas um lóbulo, o que lhes permite agarrar objetos pequenos. E ao contrário do que se passa no continente africano, há uma longa tradição na Asia de manter elefantes em cativeiro.
Estes elefantes são muitas vezes referidos como domesticados, mas na realidade são domados, ou seja, foram habituados a estar próximos de seres humanos e colaborar com eles. Não houve um processo de domesticação da éspecie, não há uma sub-população distinta de elefantes domesticados, e muito raramente procriam em cativeiro. Ou seja, como diz uma fonte da FAO “a domesticated elephant is simply a wild animal in chains
Na Tailândia, estima-se haver cerca de 4.000 indivíduos, dos quais 2.500 estão em cativeiro e apenas 1.500 vivem em liberdade. Antigamente, nesta região, este animal era utilizado em transporte de cargas, mas a prática foi banida e estes animais foram direcionados para reservas naturais e para o comércio turístico.
Para que possam participar no comércio turístico têm de ser domados. Este processo é descrito como um treino intensivo e violento, que afasta as crias das mães, coloca-as em jaulas onde mal se conseguem mover e são agredidas durante 3 a 7 dias com objetos perfurantes e cordas, privando-as de comida, água e de sono.
Os elefantes são usados em atrações turísticas, tais como transporte de pessoas, em circos e outros espetáculos. Além do treino violento, estas práticas em si são perigosas para o elefante, cuja coluna vertebral não suporta pesos além de cerca de 150 quilogramas, enquanto o que carrega na realidade é bastante superior. Como o documentário ilustra, os turistas em geral desconhecem a prática por trás dos passeios de elefante.
An Elephant Never Forgets (Groundbreak Productions)
Esta prática implica uma série de problemas éticos e de bem-estar. Por um lado, muitos dos elefantes de trabalho não têm uma qualidade de vida satisfatória, medida ou avaliada com base no seu estado de saúde, no seu equilíbrio físico e psíquico. Não se encontram numa situação em que lhe são oferecidas as condições mínimas para este não se encontrar em sofrimento. 
Por outro lado, o elefante asiático é uma espécie em perigo segundo a Lista Vermelha da IUCN. Os elefantes em cativeiro podem contribuir para a salvaguarda da espécie. E as atividades com elefantes são uma fonte importante de rendimento para muitos tailandeses. Mesmo que os animais não possam viver no habitat natural da sua espécie, podem estar em harmonia com o ambiente envolvente.
Para isto será necessário abolir práticas violentas com os animais, tanto em termos de treino como em termos das próprias atividades turísticas. Isto implicaria obviamente uma radical mudança de métodos, em que as atividades passem por observar os elefantes e não passear em cima deles.

O gato-helicóptero!

Por falar em gatos, partilho aqui mais um caso polémico, ao qual fui chamado à atenção por uma amiga que, por acaso, é defensora acérrima dos direitos dos animais. 
Esta é a estória do artista plástico holandês Bart Jansen, que desgostoso pela perda do seu gato por atropelamento, decidiu após um período de luto dar-lhe uma “oitava vida”, desta feita como “gato-voador”. Para isso, instalou um rotor em cada uma das patas do cadáver embalsamado de “Orville” e o equipamento que lhe permite controlá-lo à distância. 
O “Orvillecopter”(Fonte)
A face embalsamada do animal parece até ter um ar de estupefacção, como se um animal vivo ali estivesse, interrogando-se sobre o que se está a passar. E é por este cadáver embalsamado parecer reter tanto do animal original (na verdade, é só mesmo a pele e o pêlo) que esta obra nos surpreende e joga com os nossos sentimentos de empatia para com os animais. 
A arte contemporânea tem sido definida como tudo que nos suscitar emoções, mas aparte a discussão sobre o que é ou não é arte, podemos interrogar-nos sobre a moralidade deste tipo de intervenção póstuma. Será uma degradação da dignidade do animal? Se sim, quais os limites para o que podemos fazer com os ‘restos mortais dos animais’? Estará fazer sapatos, cintos e malas do couro, ou consumir a sua carne dentro desses limites, mas obras de arte não? 
Se seguirmos uma linha de pensamento contratualista, esta peça é sem dúvida um faux pas, já que desperta fortes sentimentos negativos em muitos daqueles que gostam de gatos, e essas pessoas importam, claro. Mas se apenas estamos perante arte se nos despertar emoções, deve um artista preocupar-se com que essas não sejam negativas?
Já um utilitarista poderia considerar que nenhum dano está a ser feito, e interrogo-me sobre o que Peter Singer (um ‘utilitarista de interesses’) diria disto, já que o animal não foi morto para este efeito, e assim o seu interesse em permanecer vivo não foi contrariado deliberadamente.

Mas que dirá um apologista dos direitos dos animais, à laia de Tom Regan?  Têm os animais direitos sobre os seus próprios cadáveres? A ser o caso, o consumo natural destes pelos necrófagos e outros decompositores não constituiria uma violação destes direitos? Confesso que tenho alguma dificuldades com o conceito de dignidade intrínseca dos animais, até porque o próprio conceito de dignidade humana é uma construção social, que valorizo muitíssimo, mas não é natural e intrínseca à espécie humana ou a qualquer outra (não me parece que o Universo se importa com tal conceito, ou com qualquer outros), no meu entender. E se para um ‘bem-estarista’ (não gosto muito de rótulos, mas vou usar este aqui, como faço amiúde) como eu, que se preocupa com a qualidade de vida dos animais (vivos), o conceito de dignidade animal é vago e quasi-esotérico, que dizer do de um cadáver? 

Afinal de contas, isto poderá resumir-se a uma questão estética. Mas a estética importa, principalmente se afectar o modo como percepcionamos os animais. E tratar como objecto um corpo embalsamado que retém a aparência de um animal vivo poderá como ser visto como uma contribuição para a instrumentalização dos animais. Não concordo necessariamente com esta conclusão, mas  há algo que me incomoda, nesta ‘obra’. 

O "caso" da queda do gato hipotético

[Actualização: foi hoje também notícia no Público]

Foi postado recentemente no blog Aventar um post  do professor de história do ensino secundário João José Cardoso  intitulado “Quando os animais escrevem manuais”, e no qual o autor manifesta a sua repulsa por um exercício de um livro de Físico-Química do 9º ano (Zoom, Areal Editores), sendo o cerne do problema o lançamento de um gato de uma altura de 5 metros.

No mesmo post, destila fel pelos presumíveis autores do exercício, os quais refere pelo nome, lamentando a impossibilidade de os poder largar de uma janela abaixo, acto que o autor presume que fosse causar danos substanciais (ao piso, claro está) pela densidade do “calhau rolado” que presume possuírem (confesso não conhecer a expressão, só os propriamente ditos). No chorrilho  de comentários ao post incendiário, alguns do próprio autor, sobe-se a fasquia: os autores são agora bestas, dever-se-ia atirá-los e medir a profundidade do buraco no chão. 
O exercício polémico
Segundo o autor, apela-se neste exercício ao incumprimento de uma lei. Não vejo como, confesso, já que sendo claramente ilegal atirar um animal de uma janela, não vejo que o exercício faça qualquer apelo nesse sentido. Carecerá este livro de um disclaimer à laia de “nenhum animal foi magoado na escrita deste manual”? Ou “não tentem isto em casa”? Porventura considerará o autor mais benigno incitar à violência contra autores de manuais escolares, pessoas que existem, de facto, com direitos (inclusive ao bom nome) que alguém que presumo de esquerda deveria ter na mais alta consideração?

É assustador como um simples exercício num manual (ainda que um tanto ou quanto infeliz) de imediato faça com que estes professores, e colegas do autor do post, passem a “bestas”. Já vi este exercício de alterização por estigmatização ‘do outro’, e das consequências que pode ter, como é o caso dos ataques (na forma tentada, concreta e até virtual) a investigadores que usam animais nas suas experiências. Se estas pessoas forem apresentadas como sub-humanos, haverá quem não veja problema em tratá-los da mesma forma. 

E, ainda que de mau-gosto, será tão desumano o exercício em questão? É de notar que:

  1. Há um problema clássico da Física relacionado com o modo dos gatos caírem “de pé” 
  2. A imagem ilustra o righting reflex, mostrando que o animal cai com as quatro patas no chão. 
  3. Uma queda desta altura em princípio não teria consequências de maior para o animal (mas por favor não tentem isto em casa, OK?) **
  4. É um gato hipotético. Get over it. 

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*[Mas não é o caso do exercício apresentado, que é somente um problema de queda de graves] 
Há uma aparente contradição do princípio da conservação do momento angular, pois o gato começa com momento angular zero, mas roda 180º, quando o momento angular deveria continuar a ser zero durante a queda. Isto explica-se pelo facto de um gato não ser um sólido inerte e ter ossos e músculos cuja acção conjunta permite exercer a necessária torção. O popular podcast “Smarter Everyday” exemplifica esta experiência neste vídeo

** Mais intrigante ainda é o facto de ser mais seguro para um gato cair de alturas superiores a sete andares. Presume-se que o seu rácio peso/área de superfície em queda (ao estenderem o corpo como “pára-quedas”) lhes permita uma velocidade terminal não fatal, como ocorre com os esquilos-voadores. Isto, associado à combinação de  flexibilidade, força e leveza das suas patas (que permite dissipar muita da a energia do impacto), leva a que possam cair de dezenas de andares de altura, ainda que frequentemente com mazelas a merecerem atenção de um veterinário.