The meat that we eat

(M)eat production depends upon a system of protein-components-in and far-less-protein-out. As well as protein that is not absorbed but is excreted, livestock animals need a substantial bone-structure, hoof, horn and all the body parts that we don’t eat. This is where a good deal of the nutritional contents of grains and soy ends up when it is fed to livestock. Some of this can be recycled in various ways but much of it is straightforwardly lost. Feeds also have to sustain animal movement and that involves energy loss of a more straightforwardly unrecovarable sort.

We may then wonder why humans ever farmed animals at all but the answer to this is simple. Some nutrients are difficult to access or to process (such as the acorns that pigs love to eat). But more fundamentally, we lacked any other way to access the nutrients in certain kinds of grasses. Cattle can eat what we find indigestible. (..)

Vaca e vitelos da raça Maronesa na serra; terreno inacessível para cultivo. Imagem de http://autoctones.ruralbit.com/

 The simple model of cattle eating grass and humans then eating cattle is an efficient solution to tap into the available natural resources. But once cattle are fed on grains and pulses instead of grass or difficult-to-access nutrients, that is on foods that humans can without any great difficulty eat (and enjoy and be creative with), meat production becomes grossly inefficient. (…) The only merit of meat produced in this way is that it continues to supply us with complete proteins and relieves us of the daily burden of having a more varied diet. Contemporary meat-eating may not be a dietary formula for gluttony but it is a formula for a certain kind of dietary laziness that has little in common with the meat-eating of our ancestors.

Pig Business – O Filme


Os filmes em formato de documentário têm-se tornado cada vez mais um veículo previlegiado pelos grupos activistas para denunciar sistemas de produção animal intensivos e globalizantes. “Pig Business” (Director: Tracy Worcester, UK, 2009) é um produto desta estratégia que denuncia os investimentos feitos pela empresa norte-americana Smithfield na Polónia de forma a conquistar o mercado europeu de carne de porco. O filme – com legendagem de português do Brasil – está disponível na íntegra no You Tube.

Sem querer de forma alguma desvalorizar a relevância do tema, penso que a narrativa é por vezes demasiado linear e parece deixar de fora aspectos importantes na compreensão da dinâmica global de alimentos de origem animal. O filme recorre, em especial, à vox populi como forma de legitimar a demonização de todas as empresas de suinicultura que, de alguma forma, procuram o lucro, enjaulam animais, poluem o ambiente, propagam doenças, violam directivas europeias e esmagam os pequenos produtores. Da mesma forma, quando a realizadora quis mostrar um exemplo do pequeno produtor (30:05), não foi capaz de escapar ao esteriotipo da exploração familiar que vive em harmonia com a natureza a criar meia dúzia de animais e cuja triste condição se deve tão somente à incapacidade em competir com os preços praticados pelas grandes indústrias. Aí o filme parece atirar sobre todas as formas de globalização de forma indiscriminada, o que lhe rouba credibilidade sem acrescentar substância. A entrevista com um responsável da Smithfield (43:18) – que deveria ser um ponto alto da investigação da autora – cai no ridículo quando ela começa por comparar as fezes de 10 milhões de porcos com as de 100 milhões de pessoas.

Interessante foi a exibição de imagens de jaulas de reprodutoras numa suinicultura intensiva portuguesa (49:20) e que inaugura a questão do bem-estar animal, que ainda assim merece um tratamento superficial (qual a diferença das etiquetas “freedom food“, “free range“, “organic” ou “outdoor“? Podemos – ou devemos – colocá-las a todas dentro do mesmo saco?). Só no final (53:45), a autora procura contextualizar a política alimentar europeia mas limita-se a fazer uma entrevista de rua a um parlamentar anti-sistema sem a equilibrar com uma voz de dentro do sistema europeu que, mal ou bem, dita as regras.

Qual a sua opinião sobre este filme? E sobre a suinicultura intensiva?

Meat is murder?

Por Professor Peter Sandøe, Danish Centre for Bioethics and Risk Assessment


“Meat Is Murder” – dizem alguns amigos dos animais mais radicais. Terão eles aqui um argumento válido? Será eticamente aceitável matar animais só porque gostamos de comer carne? Esta questão irá provavelmente fazer com que algumas pessoas se engasguem com o seu bife, costeletas ou perna de frango.


O actual debate ético sobre a produção de carne centra-se em como os animais vivem e são abatidos. É assim, hoje, mais ou menos consensual que matar animais para consumo é aceitável desde que os mesmos tenham vivido uma boa vida. No entanto, é fácil demonstrar que as nossas atitudes perante o abate de animais são mais complexas do que isto. Imaginemos o caso de uma pessoa que a cada primavera compra um cachorrinho e o leva para a sua casa de verão. O filhote vê todas as suas necessidades atendidas e vive uma boa vida até que a pessoa, no final do verão, o leva ao veterinário para ser morto antes de regressar ao seu apartamento na cidade. A maioria acharia anti-ético tratar um cão dessa maneira, mas qual a diferença em comparação com o abate de suínos sustentado no facto de terem tido uma vida boa enquanto durou?

Alguns poderiam dizer que precisamos de carne para sobreviver, mas que podemos perfeitamente viver bem sem um cachorro. A estes pode-se retorquir que se pode viver fácil e saudavelmente como vegetariano, e que à maior parte das pessoas na nossa parte do mundo não faria mal comer menos carne do que a que comem agora. Por outro lado, o enriquecimento da vida de alguém com o tempo passado com um cachorro pode ser equiparado à felicidade de comer um bife mal passado ou um porco no espeto.

Se envolvermos o relacionamento com os nossos congéneres seres humanos na reflexão ética, as coisas não se tornam menos complicadas. É um ponto fundamental da ética predominante a ideia que matar deliberadamente pessoas não é aceitável. Em geral, o acto de matar premeditadamente é aceite apenas em casos de extrema urgência, como por exemplo num cenário de guerra. No entanto, é considerado um crime tirar a vida a pessoas, salvo em situações de auto-defesa. No que diz respeito à morte, portanto, nós estabelecemos uma nítida distinção ética entre os seres humanos e animais. Então, qual será a diferença eticamente relevante entre matar um ser humano e abater um porco? Há quatro respostas comuns para esta pergunta.

A primeira resposta é a de que cada ser humano tem uma personalidade única, enquanto os animais não têm individualidade sendo, por assim dizer, “dezenas de criaturas”. Mas vivendo de perto com cães ou gatos, por exemplo, descobre-se que eles não são idênticos. Cada animal tem os seus hábitos específicos, excentricidades e outras características individuais. Que alguns animais de produção sejam vistos como anónimos, provavelmente tem a ver com o seu grande número e o facto de serem mantidos de uma maneira que não permite muito contacto humano com o animal. A primeira resposta não se sustem, por si, quando analisada atentamente.

Outra resposta é a de que os animais, ao contrário das pessoas, vivem no momento, não tendo portanto qualquer desejo de continuar vivendo. O abate de um animal não é contra a vontade do animal. No entanto, a maioria das pessoas expressam um forte desejo de viver e têm planos de vida que vão muito além do momento actual. Portanto, o assassinato de um ser humano geralmente entra em conflito com o seu desejo de viver e com os seus planos concretos para o futuro. A fraqueza dessa resposta é que não é válida para todas as pessoas. Existem algumas que, tal como os animais, vivem “no momento”, como por exemplo crianças muito pequenas e algumas pessoas com deficiência mental. Se é correcto matar animais porque eles vivem no momento, também é correcto matar estas pessoas. Alguns poderão tentar resolver este problema dizendo que estas pessoas, contrariamente ao que sucede com os animais, têm o potencial para serem indivíduos plenamente desenvolvidos. Esta solução tem como consequência que o aborto induzido deva ser considerado eticamente inaceitável, uma vez que um feto humano é também, potencialmente, um ser humano plenamente desenvolvido.

As duas outras respostas têm a ver com as consequências do abate dos animais.

 A terceira resposta é a de que matar seres humanos acarreta graves consequências para os enlutados. Em primeiro lugar, o assassínio de humanos leva a sentimentos de luto e perda. Em segundo lugar, a morte sistemática de pessoas levaria a medo e horror generalizados. Estas consequências também sustentam a que nos oponhamos ao matar de crianças pequenas e pessoas com deficiência mental. O abate de gado não tem – ou tem apenas num sentido muito limitado – um impacto tão adverso.

A quarta resposta baseia-se nas consequências para os animais. Muitos animais existem apenas na medida em que humanos beneficiam dos mesmos. Sem a possibilidade de abater animais de produção, estes seriam de valor muito limitado para os seres humanos e, assim sendo, a grande maioria dos mesmos não existiria, de todo. Como a alternativa é a de que os animais não existiriam, e dado que uma vida curta e boa é melhor que vida nenhuma, o abate de animais não surge como eticamente incorrecto. Em contraste, o aceitar que se matem pessoas não levará a que se criem mais pessoas.

As três últimas respostas, na minha opinião, conjugam-se para justificar como pode ser eticamente aceitável matar animais sem que isso torne, por sua vez, aceitável o assassínio premeditado de pessoas.
Esse raciocínio tem seu preço. A tradicional distinção entre o animal, que existe para nós, e seres humanos, cuja vida é em princípio inviolável, já não é credível. A diferença na avaliação ética de matar, respectivamente, animais e pessoas, baseia-se em equilibrar as consequências e não em diferenças principais.

Também é importante notar que pode haver outras perspectivas éticas sobre a morte de animais do que aquelas aqui apresentadas. Alguns, por exemplo, argumentam que os animais superiores têm direito à vida e, portanto, é nosso dever viver como vegetarianos (ou melhor dizendo, vegans) e deixar os animais continuarem a viver suas próprias vidas até que morram de morte natural. Esta ética dos direitos dos animais estará em forte contraste com a nossa cultura, onde comer e utilizar os animais é algo profundamente enraizado. Mas isso não faz com que essa visão esteja errada. Já foi também um valor profundamente enraizado na nossa sociedade que os homens tinham mais direitos que as mulheres. Isso não significa que os primeiros defensores da igualdade das mulheres estivessem errados. Estavam apenas a lutar contra poderes muito fortes.

O texto original foi publicado no Weekendavisen 17 de Setembro de 2010. A presente versão foi traduzida e revista por Anna Olsson e Nuno Franco com ajuda do Google Translator.

Diferentes culturas, diferentes éticas?

Texto escrito por Bárbara Oliveira, Fátima Sousa, Irina Pereira e Raquel Matos, alunos do curso de Pós-Graduação em Bem-Estar Animal, ISPA

Ao comentarmos esta questão somos levados a pensar que o seu conteúdo está intrinsecamente associado às diferenças culturais dos povos e, como tal, podemos inferir que os valores éticos também podem mudar com as variações culturais. Esta pergunta reveste-se de um conteúdo gigantesco quando pensamos nas várias escolhas alimentares de diferentes civilizações.

Analisemos a situação sobejamente conhecida do uso de cães e gatos na alimentação dos povos asiáticos. Do ponto de vista ocidental, a ideia de comer animais domésticos, como o cão e o gato, com os quais (tradicionalmente) se criaram fortes laços afectivos, origina repulsa e, em muitos casos, indignação, uma vez que não são percepcionados como alimento. Estas espécies, como seres sencientes que são, poderiam ser alvo do mesmo “tratamento” que as espécies pecuárias sem originar grande controvérsia, não fossem as relações emocionais que os entrelaçam com os humanos.

Noutra perspectiva, e colocando de parte qualquer teoria relacional, será muito diferente o consumo de carne canina ou felina do consumo de qualquer outra carne? Até que ponto a moralidade de alguém ou algum povo pode ser posta em causa pelo tipo de carne que consome? Onde se enquadra, por exemplo, o consumo de carne de cavalo nesta escala?

Tal como no Ocidente as pessoas podem ficar chocadas pela maneira como os cães são tratados nas culturas orientais, onde são utilizados como fonte de alimento, levando-nos a pensar que ética e que moralidade terão esses povos, questionamos o que pensarão os habitantes da Índia sobre as civilizações ocidentais, onde os bovinos são tratados sob controlo humano, para depois servirem de alimento, enquanto, que para eles são considerados animais sagrados?

Face a esta reflexão, questionamos – diferentes culturas, diferentes éticas? Não, entendemos que não. A ética, como princípio filosófico, é a mesma. A aplicação prática desta é que difere de cultura para cultura. A moralidade impressa a todos os “actos” com animais é divergente, e isso sim, depende da cultura dos vários povos. Talvez a grande questão se coloque não no tipo de carne consumida, mas as condições em que estes animais são mantidos e abatidos.

Alternatives to animal use – part 6

Finally, the Freudian slip. Or maybe the last-speech-before-lunch effect. 
This lecture (all lectures now available here) was given by Gianni Dal Nigro, veterinarian and toxicologist from GlaxoSmithKline. He reported from the EPAA workshop Combining excellence in science and animal welfare, held in October this year, which gave a number of recommendations for the future activity of the EPAA.
Images borrowed from the EPAA website
Typing and listening at the same time, I understood the first of these recommendations (which reads “keeping Replacement as the ultimate goal”) as “skipping Replacement as the ultimate goal”.  I found this really interesting, definitively daring but rather coherent with Richard Fosse’s lecture. So, when  the time for post-lecture questions came, I took the chance to ask more or less the following:
Thank you for a very interesting presentation. I find it interesting that you have decided to skip Replacement as the ultimate goal, and I wanted to ask you if the workshop took this decision because it is not possible to reach replacement in the foreseeable time, or because it is not considered a relevant aim. I will explain why I’m asking the question. As has already been commented on by others, the animal use we are talking about in this conference is only about 10-15% of the total numbers of animals used in experimentation. And if we look at the overall use of animals, it is an even smaller fraction. Interestingly, we never discuss Replacement or even Reduction as regards animal production for human consumption, although the nuimbers are much larger and the amount of suffering is often considerable. Why is it, then, that it’s so important to replace the use of animals in testing? Are we really investing the efforts where they are best needed?
The answer was not very clear, which I now fully well understand, as what I asked must have made no sense whatsoever to the speaker, who had said something completely different. But the question remains. Why is it that using animals in research is such a questionable activity that we ought to make every effort to avoid it, when using animals for food production is reasonably accepted? 
One can turn the question around: why don’t we discuss the 3Rs for animal production? 


O caso das galinhas cegas

Texto escrito por Ana Margarida Costa, Diva Oliveira e Sónia Saraiva, alunas no Curso de Pós-Graduação em Bem-Estar Animal, ISPA

O sofrimento põe de forma inequívoca em causa a integridade e dignidade dos seres sencientes. Se podemos diminuir a dor ao custo de outros aspectos da integridade fisica, será um objectivo desejável?

Vemoso caso das galinhas cegas. Aqui, Costa et al. (2001)* dá-nos conta da utilização da técnica do corte de bico para prevenção do canibalismo e picacismo entre galinhas poedeiras em sistemas de produção intensivos, sendo estes comportamentos predominantes entre galinhas com plumagem castanha. Estes problemas têm uma origem multifactorial englobando as condições de criação, de alimentação e de manutenção tornando difícil o seu controlo.

O corte do bico constitui um procedimento doloroso para as galinhas e pode resultar numa privação sensitiva permanente e definitiva. Uma solução alternativa consiste na reprodução selectiva a partir de uma mutação espontânea que origina galinhas cegas que não mostram tendência para nenhum dos comportamentos apontados. Não existe alteração na produção precoce de ovos e apesar de haver uma diminuição de cerca de 25% de consumo de alimento, como são menos activas mantêm os seus níveis de peso. No entanto, como a visão é um dos sentidos mais importantes para as aves, há um risco considerável que as galinhas cegas deixem de ter os comportamentos normais da espécie como o “banho-de-pó” e têm dificuldade em alimentar-se.

Aparentemente, o procedimento de cortar o bico por ser doloroso põe em causa o bem-estar animal, parecendo ignorar qualquer código moral e ético da relação homem/animal. Segundo J. Bentham (1748-1832) quando se preocupa com o bem-estar de alguém não interessa se ele pensa ou raciocina, mas sim se sente ou consegue manifestar de algum modo o seu sofrimento mesmo sem falar. À primeira vista parece evidente existir apenas uma preocupação economicista, uma vez que o canibalismo causa a morte de alguns animais acarretando prejuízo para a exploração. Contudo, pode estar presente também uma preocupação ética animal, na medida em que existe o desejo de minimizar o sofrimento que os animais causam uns aos outros. Este caso suscita assim alguma ambiguidade, levantando algumas questões. O que provocará maior dor, o canibalismo e picacismo, ou o corte do bico? Ou será que um enriquecimento do meio ambiente seria suficiente para evitar os comportamentos agressivos?

A reprodução selectiva de modo a originar galinhas cegas, numa lógica puramente utilitarista constituiria um bem e deveria ser incentivada, ao passo que, do ponto de vista da integridade psicofísica do animal, representaria uma forma de mutilação, impedindo o uso de um dos orgãos para o fim que evoluiu. Além disso, sob o ponto de vista do bem-estar animal existiu uma interferência humana que impede o animal de ter uma vida própria dos da sua espécie. E seguramente, os ancestrais selvagens das galinhas usavam a visão para a generalidade dos seus comportamentos, desde a procura de alimento até à fuga de predadores. Tom Regan lembrou que se “os animais são sujeitos à vida” têm direito à sua própria vida e não àquela que achamos melhor para eles. O maneio de animais de produção e de consumo em explorações intensivas, que P. Singer (1975) descreve como “a granja-fábrica”, justifica-se, se considerarmos que a humanidade necessita de proteínas animais. No entanto, nessas explorações, é essencialmente contemplado o factor custo/benefício a par dos aspectos técnicos, económicos e de rentabilidade da produção, sendo descurados os aspectos étnicos e morais no maneio e utilização dos animais, o que nos leva de imediato a questionar se será ou não lícito e moralmente aceite manipulá-los de acordo apenas com os interesses dos seus proprietários.

A questão ética de adaptar os animais às condições de manutenção através da criação selectiva ou do corte do bico, tem como alternativa adaptar tais condições às necessidades nos animais. Pensamos que a relação homem/animal, do ponto de vista ético seria mais equilibrada se fosse de facto possível melhorar as condições ambientais e sociais. Tal seria possível melhorando e enriquecendo as instalações e os espaços de permanência das galinhas, de modo a que estivessem menos animais em cada espaço e que estes pudessem manifestar comportamentos normais de vida livre. Desta forma, contribuir-se-ia para a diminuição dos níveis de stresse e de ansiedade nestes animais que despoletam comportamentos de agressividade como o canibalismo e o picacismo.

A ética empresarial sobrepôs-se assim à ética animal.


*Costa et al 2001 BIOÉTICA PARA AS CIÊNCIAS NATURAIS, compilação de conferências e casos de estudo do FLAD/NSF International Bioethics Institute, coordenado por Humberto D. Rosa

A clonagem animal em tempos de crise


A Comissão Europeia (EC) anunciou a 19 de Outubro que vai suspender temporariamente a aplicação da clonagem animal para produção de alimentos dentro da UE. A clonagem apresenta-se como um dos temas mais controversos no domínio da bioética animal. E, talvez como em nenhum outro, a aplicação do Princípio da Precaução esteja tão patente como no caso da clonagem. Na verdade, tanto a EC como a norte-americana Food and Drugs Administration consideram não existir quaisquer indícios de que os alimentos clonados coloquem problemas diferentes daqueles colocados pelos alimentos mais tradicionais. Mas isso não impede que este tipo de material biológico seja tratado de forma diferente de outros produtos de origem animal. Porque será?

The Meat Crisis: Developing more sustainable production and consumption

Joyce D’Silva, Director of Public affairs of Compassion in World Farming, has brought together key global experts to produce a powerful and challenging book, which addresses some of the key issues facing our world: how can we achieve global food security for all while ensuring protection of the environment, our own health and the welfare of farm animals? Is the growth of factory farming, with its massive appetite for water and feedstuffs, leading us down a hugely unsustainable path?

John Webster, Professor Emeritus at Bristol University, the book’s co-editor, tells us about the importance of animal welfare in dairy farming. As author of a chapter on dairy cows, he explains why cows’ lives are often so compromised in today’s dairy farms.

The book can be purchased here.

Uma barbatana no mar, outra na sopa

Recordam-se daquela montra no aeroporto com espécimes exóticos (não, não aquela com espuma de barbear e outros líquidos ilegais pós-2006!) que não podem ser introduzidos em Portugal? Que não podem, de facto, ser vendidos ou comprados em lado nenhum do planeta, pelo menos não oficialmente. O mecanismo que estabelece estas regras denomina-se CITES (Convention on the Trade in Endangered Species), foi estabelecido em 1975 e que acabou de concluir a sua mais recente reunião em Doha, no Qatar.

Pela primeira vez esteve em causa uma interdição envolvendo espécies de grande interesse para a pesca comercial – atum-rabilho (bluefin tuna, Thunnus thynnus) e várias espécies de tubarão. O primeiro é procurado sobretudo no Japão, os segundos na China. A estes dois países juntaram-se uma série de outros para vetar a interdição segundo relata New Scientist, passando assim a responsabilidade de gestão para as entidades de regulamentação da pesca comercial.

Enquanto este desfecho é visto como uma derrota por parte dos conservacionistas, é interessante observar que o consumo de barbatanas de tubarão não passa sem discussão na grande economia que é a China. Um motor importante deste debate tem sido Yao Ming, admirado estrela de basket e dono do clube com o nome apropriado de Shanghai Sharks. Veja neste videoclip, lançado em Dezembro do ano passado, o que supostamente acontece quando a estrela se recusa a consumir um dos pratos mais prestigiados da sua cultura natal.

Galinhas de quatro patas? Porque não?

A crescente demanda pela produção de carne está a expandir rapidamente a actividade pecuária. Como resultado da selecção genética directa, o ritmo de crescimento e conversão de alimento em músculo nos frangos de engorda são mais elevados do que para qualquer outro animal. Contudo, o crescimento acelerado destes animais resulta em fraqueza relativa dos membros posteriores, tendo por consequência um notório impacto no bem-estar dos animais e dificuldades de locomoção durante a última semana de vida. Em comparação com os frangos, os porcos são menos eficientes na conversão de alimento em carne e grandes instalações de produção destes animais são frequentemente apontadas como grandes poluentes dos cursos de água superficiais e subterrâneos.
Após um post-doc no Canada, “W”, um jovem investigador agora recentemente radicado numa universidade sueca sugeriu aplicar o seu conhecimento em biologia do desenvolvimento de modo a explorar a possibilidade de criar uma empresa spin-off para desenvolvimento de frangos geneticamente modificados de modo a que apresentem quatro membros posteriores (“pernas”) para dar resposta aos conhecidos problemas de mal-estar e poluição. Estes frangos teriam uma maior base de sustentação para o torso desproporcionado, apresentando ainda o dobro da parte mais apetecível e vendida do frango, as pernas.

Fonte da imagem: USAToday

Esta técnica parece resultar bem em Drosophila e resultados preliminares da aplicação desta tecnologia em frangos são promissores. De facto, galinhas com quatro patas ocorrem por vezes até espontâneamente, e “W” neste momento procura apoio financeiro para desenvolver técnicas qe permitam controlar esta mutação de modo a produzir sistematicamente destes animais, respeitando os mais elevados níveis de saúde e bem-estar.

Evidentemente, há questões a ponderar, desde o ponto de vista do veterinário até ao do consumidor final. Mas hoje em dia quem sabe de onde vêm realmente os “nuggets” das cadeias de fast-food?