Galinhas de quatro patas? Porque não?

A crescente demanda pela produção de carne está a expandir rapidamente a actividade pecuária. Como resultado da selecção genética directa, o ritmo de crescimento e conversão de alimento em músculo nos frangos de engorda são mais elevados do que para qualquer outro animal. Contudo, o crescimento acelerado destes animais resulta em fraqueza relativa dos membros posteriores, tendo por consequência um notório impacto no bem-estar dos animais e dificuldades de locomoção durante a última semana de vida. Em comparação com os frangos, os porcos são menos eficientes na conversão de alimento em carne e grandes instalações de produção destes animais são frequentemente apontadas como grandes poluentes dos cursos de água superficiais e subterrâneos.
Após um post-doc no Canada, “W”, um jovem investigador agora recentemente radicado numa universidade sueca sugeriu aplicar o seu conhecimento em biologia do desenvolvimento de modo a explorar a possibilidade de criar uma empresa spin-off para desenvolvimento de frangos geneticamente modificados de modo a que apresentem quatro membros posteriores (“pernas”) para dar resposta aos conhecidos problemas de mal-estar e poluição. Estes frangos teriam uma maior base de sustentação para o torso desproporcionado, apresentando ainda o dobro da parte mais apetecível e vendida do frango, as pernas.

Fonte da imagem: USAToday

Esta técnica parece resultar bem em Drosophila e resultados preliminares da aplicação desta tecnologia em frangos são promissores. De facto, galinhas com quatro patas ocorrem por vezes até espontâneamente, e “W” neste momento procura apoio financeiro para desenvolver técnicas qe permitam controlar esta mutação de modo a produzir sistematicamente destes animais, respeitando os mais elevados níveis de saúde e bem-estar.

Evidentemente, há questões a ponderar, desde o ponto de vista do veterinário até ao do consumidor final. Mas hoje em dia quem sabe de onde vêm realmente os “nuggets” das cadeias de fast-food?

2 thoughts on “Galinhas de quatro patas? Porque não?”

  1. Casos como este, à semelhança das galinhas cegas e de outras sem penas apresentadas há uns anos atrás, põem em causa a nossa concepção \”Welfarista\” (assente no bem-estar) da produção animal moderna. Será que tudo se justifica desde que o bem-estar não saia comprometido? A verdade é que as roliças coxas de frango são muito mais apreciadas do que as escanzeladas asas. E como abordar manipulações genéticas – como estas são – que têm o potencial de melhorar a qualidade de vida do animal? Na minha opinião o bem-estar não é tudo. Dimensões como a integridade e o princípio da precaução devem igualmente fazer parte da nossa avaliação ética da produção animal. Para já, a minha primeira reacção a este projecto é: Yuk!

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  2. Tem muito que se diga, este post, mesmo tendo em conta a data de hoje. O blogue tem uma clara conotação de welfarismo, é um facto. E é também um facto que há mais a dizer sobre ética animal do que a promoção do bem~estar dos animais. O que ultrapassamos no caso dos frangos de quatro patas parece-me ser aquele que Bernard Rollin determina como \”telos\” do animal – a essência do que é um frango. Mas tal como no caso das galinhas cegas. é este caso extremado que nós choca. E os perus que têm o peito tão grande que não conseguem acasalar normalmente? Ou o crescimento tão rápido dos frangos que faz com que os pais deles têm que passar fome toda a vida para poder sobreviver além dos 35 dias de um frango de engorda? Por outro lado, consigo também perceber o entusiasmo do cientista que teve a ideia e se alicia com a possibilidade de levar do insecto para vertebrado este \”proof of principle\”. Avigdor Cahaner, o geneticista israelita que teve a ideia do frango sem penas esteve na UTAD há 7 ou 8 anos, e tive a oportunidade de o ouvir. E é com entusiasmo genuíno e convicção que está a fazer algo de bom tanto para o frango como para o mundo que fala da sua ideia. Como cientista com um pé em cada campo, consigo bem ver os dois lados. E também consigo ver como estes não se possam entender, é como é complexo e cheio de paradoxos o nosso relacionamento com os outros animais.

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