De novo a China – "Porta-chaves" com peixes e tartarugas

Interrogo-me porque aparece tantas vezes a China como um país onde não se tem em consideração o sofrimento animal.
Evidentemente, esta descrição não corresponde à posição de todos os chineses perante os animais, mas a verdade é que a China continua a ser um grande consumidor de carne de golfinho, chifres de rinoceronte, barbatanas de tubarão, bilis de urso, etc., com consequências desastrosas para o bem-estar animal e a conservação das espécies.
Crédito da foto: Li Bo
 (“Global Times“)
Agora, parece que o novo “negócio da China” é a comercialização de “porta-chaves” de plástico transparente e selado, onde são colocados pequenos peixes ou tartarugas, que eventualmente morrem asfixiados. Indiferentes a isso, os compradores destes “acessórios” simplesmente cozinham no microondas os cadáveres e consomem-nos. De salientar que esta prática não infringe lei alguma, sendo os “animais embalados” vendidos em plena praça pública, à luz do dia, sendo comprados frequentemente por chineses que o fazem para os poderem libertar de seguida. Esta atitude, ainda que bem-intencionada, poderá levar a problemas ecológicos e/ou de saúde pública, caso esta “moda” esteja para ficar.
Como nota de rodapé, deixo a  notícia do Global Times de Novembro do ano passado, que divulgava a existência de grupos secretos na China que pagam a  mulheres para maltratar animais até à morte e que filmam esta prática, colocando os vídeos on-line, como forma de satisfazer um mórbido fetiche.
Olhando para tudo isto, apetece perguntar:  “What`s wrong with China?”

O pastor ausente

A convivência entre humanos e animais não se limita às situações em que os animais estão em cativeiro, acontece também no contacto com os animais selvagens ou assilvestrados. Um artigo do Público de sexta-feira dia 18 de Março, infelizmente não acessível on-line, relata a preocupação dos agricultores em Paredes de Coura com o impacto dos cavalos garranos. Mais do que preocupar-se, a Vessadas, Associação para o Desenvolvimento Agrícola e Rural das Terras de Coura está a processar o Estado por não controlar os garranos. Afirma-se que o problema tem a ver com o ‘pastor ausente’: “um novo tipo de pastoreio que surgiu nas últimas duas décadas. Passou a existir um novo tipo de ’criador’ de gado, que não é agricultor. Não exerce qualquer actividade produtiva que possa suportar os animais, nem possui qualquer estrutura de curral que permita conter os animais. O ‘pastoreio’ consiste numa visita semanal ou quinzenal à zona onde se abandonaram os animais, normalmente realizada em viatura todo o terreno ou mota.”
Não conheço o fenómeno além do que leio no jornal, não posso confirmar se a descrição da situação é verosímil. Mas a leitura leva-me a pensar num outro encontro entre espécies diferentes, o Homo sapiens rural e o Homo sapiens urbano. Criada num meio agrícola, vivendo agora na cidade, penso que sou uma híbrida entre as duas, o que me faz reflectir bastante sobre o seu difícil encontro. Muito do trabalho de conservação, em Portugal e não só, é caracterizado por uma tensão entre as preocupações da população local que convive com as especies a ser protegidas e as preocupações de conservação que na maior parte das vezes vêm de fora. Isto é muito evidente no caso do lobo na zona de Douro e Trás-os-Montes, um caso que espero poder explorar mais ao longo dos próximos tempos cá no animalogos.
Não sei de onde vem o pastor ausente ou onde mora, mas tudo indica que não é lá, na terra onde vivem os seus animais e onde vivem outros agricultores. Esta constatação incomoda. O garrano não tem uma vida fácil. O agricultor de pequena escala do Norte de Portugal também não. A última coisa que precisam são intervenções de origem urbana que agudizam a confrontação.

Knut, um simbolo da conservação ou da opressão?

Poucas serão as pessoas ligadas à conservação animal que nunca ouviram falar de Knut. O primeiro urso-polar a nascer no Zoo do Berlim em mais do que 30 anos, Knut foi rejeitado pela mãe e adoptado por biólogos do zoo que conseguiram criá-lo em ambiente artificial e em contacto com seres humanos. Na altura da sua adopção colocou-se o dilema: seria melhor eutanasiar Knut para que ele não viesse a sofrer ou, pelo contrário, adoptá-lo e através disso sensibilizar o público para perigo de extinção do uros polar? E aqui colidem duas formas muito diferentes de entender a ética animal: por um lado temos a visão de que o bem-estar individual se sobrepõe aos interesses da espécie e por outro temos um indivíduo instrumentalizado para, de alguma forma, beneficiar a espécie que ele representa. As pessoas responsáveis por Knut optaram pela segunda via. Knuk morreu em idade precoce e exibindo sinais evidentes de disfunção comportamental mas será que os fundos que ele gerou e a atenção mediática que despertou suplantam o seu sacrifício?

Vai uma sopa de barbatana de tubarão?

Exemplares de uma espécie de tubarão (pinta-roxa) à venda no mercado de Olhão.
(Repare na ausência de barbatanas)

A Comissão Europeia (CE) tem aberta uma consulta pública sobre a revisão da lei que regula a remoção de barbatanas de tubarão (finning) em águas europeias. A consulta é aberta a todos e decorre até ao próximo dia 21 de Fevereiro.

Um dos aspectos mais interessantes desta consulta é que, ao contrário do que aconteceu em 2003, a CE está determinada a banir em definitivo a prática do finning e não apenas a limitá-la. Para esta reviravolta legislativa muito contribuiu o papel interventivo das ONGA’s, nomeadamente da Shark Alliance e da portuguesa APECE.

As barbatanas de tubarão atingem valores muito elevados, nomeadamente nos mercados asiáticos, por serem o ingrediente principal da famosa sopa. No entanto a carne de tubarão tem menor valor económico e por isso torna-se menos rentável descarregar as carcaças na doca. Em vez disso, as barbatanas são removidas a bordo e os tubarões, ainda vivos, são devolvidos ao mar para virem a morrer de asfixia, hemorragia ou como petisco para outros peixes.

A anterior lei visava regulamentar a prática de finning, impondo limites e obrigando os pesqueiros a descarregar a totalidade do peso vivo dos tubarões. Para contornar uma legislação já de si confusa e difícil de controlar, muitos pescadores – e aqui estamos a falar de frotas industriais e não de pesca artesanal – em vez de desistirem da pesca ao tubarão direccionaram-na para os exemplares mais pequenos (e portanto mais leves e com menos volume) e também por isso mais rentáveis. Em vez de diminuir, a lei de 2003 estava a contribuir para o aumento da pressão da pesca sobre as populações de tubarões.

Registe-se que em sintonia com a Europa, o Senado dos EUA aprovou no mês passado uma moção semelhante, a Shark Conservation Act of 2010 que obriga os pesqueiros a transportarem os tubarões inteiros para terra.

Como podem ler, a participação nesta consulta pública é simples e rápida. Contribuam!!

Nagoya virá a tempo de salvar o Macaco Constipado?

Credit: Thomas Geissmann

O Ano Internacional da Biodiversidade tem sido pródigo em notícias sobre a extraordinária riqueza de vida na Terra. Uma expedição recente à Papua e Nova Guiné, por exemplo, levou à identificação de cerca de 200 espécies, entre animais e vegetais, nunca antes vistas. A comunicação social tem estado particularmente atenta à descoberta de novas espécies, em especial daquelas mais exóticas e bizarras. Insectos e anfíbios são vistosos mas pouco mediáticos ao passo que novos mamíferos são raros e normalmente diminutos. Mas não é todos os dias que se anuncia uma nova espécie de primata!

Uma equipa internacional publicou um estudo na revista American Journal of Primatology onde dá conta da descoberta de um bizarro macaco sem nariz e que, segundo relatos das polulações locais, espirra sempre que chove. O Rhinopithecus strykeri vive nas florestas do Nordeste de Myanmar (antiga Birmânia), mas nunca foi avistado vivo por cientistas e por isso a imagem acima foi criada em computador. A população deve rondar os 300 indivíduos, o que a coloca, desde já, como uma das espécies mais ameaçadas do planeta.

Por estes dias, em Nagoya, no Japão, Ministros de 179 países aprovaram um novo plano global para travar a perda de biodiversidade do planeta. Se bem se lembram, o anterior objectivo da Convenção sobre Diversidade Biológica (2002) de alcançar, até 2010, uma redução significativa do actual ritmo de perda de biodiversidade resultou num rotundo fracasso. Os objectivos eram irrealistas, mal concertados e não pareciam contar com o simples facto de que os países mais ricos em termos de biodiversidade serem, também, dos mais pobres do planeta. Com tudo isto, o ritmo em vez de diminuir, aumentou.

Passados oito anos, a CDB parece ter introduzido novos factores na equação que podem augurar um futuro menos negro para a vida na Terra, nomeadamente o compromisso de aumentar a percentagem de áreas protegidas – um dos poucos mecanismos que tem provado ser eficiente na protecção de ecossistemas – e a partilha dos lucros gerados pelo uso de recursos genéticos com os países de origem. Mas tenho dúvidas que medidas como estas sejam suficientes. A meu ver, o combate à perda de biodiversidade deve ser encarado como uma faceta do combate maior à pobreza e à exclusão social, capítulo sobre o qual os intervenientes da CDB não têm qualquer poder. E assim uma pergunta subsite: pode ainda uma conferência no Japão ajudar um macaco em Myanmar?

A Floresta Nativa e o Pássaro Misterio

Em Julho deste ano, a Antena 1 emitiu uma reportagem sobre o Projecto LIFE PRIOLO, por ocasião do prémio “BEST OF THE BEST NATURE” ganho por este projecto de conservação, e que é atribuído aos cinco melhores projectos da Comissão Europeia na área da Biodiversidade.

O programa de recuperação da espécie Pyrrhula murina – que, segundo a SPEA, é a ave mais ameaçada em toda a Europa e a segunda mais rara – esteve em curso entre 2003 e 2008 e o seu sucesso pode ser avaliado em várias vertentes:
1) Recuperação do habitat original, com benefícios directos para as espécies vegetais de floresta de laurissilva introduzidas e benefícios indirectos para as outras espécies animais autóctones (como o pombo torcaz ou o milhafre).
2) Eliminação das espécies infestantes e exóticas vegetais (cletra, contreira) e animais (ratos), com benefícios directos para as populações locais.
3) Abertura de postos de trabalho permanentes na região mais pobre da ilha de S. Miguel (Nordeste e Povoação) e uma das mais pobres do País.
4) Execução de estudos científicos interdisciplinares (sociologia, ecologia, zoologia, hidrologia, topografia), com benefícios evidentes para a Região Autónoma dos Açores.
5) Realização de iniciativas de turismo ecológico, que levam à criação de infra-estruturas e postos de trabalho adicionais.
6) Implementação de uma estratégia de Educação e Sensibilização Ambiental com a realização de programas de formação para adultos e educativos para crianças que no seu conjunto contribuem para o bem-estar social das populações.
7) Beneficiação de vias de comunicação.

O Projecto LIFE-Priolo é um bom exemplo de como actuando na defesa de espécies e da biodiversidade se pode harmonizar a vida comum entre homens e animais na criação das bases para um futuro sustentável.

Cavalo Lusitano: Terra de Puro Sangue


A revista Pública do último Domingo dedica uma extensa reportagem ao Cavalo Lusitano, leitura que recomendo. De entre todas as espécies domesticadas pelo homem ao longo da história, o cavalo desempenhou, a meu ver, o papel primordial. Embora conviva connosco há muito menos tempo do que o cão (uns meros 5-6 mil anos comparados com os 14 mil anos de vida em comum com o “fiel amigo”), o ser humano não seria o que é hoje sem o inefável auxílio do Equus caballus, embora a sua influência nas nossas vidas tenha decrescido muito no último século. Ao cavalo foi exigido tudo: ser máquina de guerra, instrumento de trabalho, meio de transporte, animal de companhia, bailarino e até fonte de alimento. A tudo correspondeu e quando deixou de ser preciso para uma determinada função, reinventou-se para desempenhar outra, até chegarmos à miríade de raças existentes nos dias de hoje, como é o caso do Puro Sangue Lusitano. Se quiser saber mais sobre o Cavalo Lusitano visite o sítio da Associação de Criadores.

Conferência Conservação de Vertebrados Terrestres Ameaçados

O dia 24 de Setembro conta com mais uma iniciativa na área da protecção ambiental. Depois da Anna Olsson ter dado conta de um Colóquio sobre Educação e Ética Ambiental na FPCE – Universidade do Porto, eis que no mesmo dia decorre na Universidade de Évora a Conferência “Conservação de Vertebrados Terrestres Ameaçados em Portugal: Situação Actual e Perspectivas”.

As inscrições deverão ser efectuadas até ao dia 10 de Setembro de 2010. O secretariado do Seminário é garantido pela Naturlink e os respectivos contactos são os seguintes:

Naturlink
Rua Robalo Gouveia, 1-1º A
1900-392 Lisboa
Telefone: 217991100
Fax: 217991119
E-mail: naturlink@naturlink.pt

Ética e Educação Ambiental – Colóquio no Porto

I Colóquio sobre Educação e Ética Ambiental
24 de Setembro de 2010
Porto, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

Programa
9.00 h Recepção dos participantes
9.30 h Abertura do colóquio
10.00 h Da etologia à ética: fundamentos bio-culturais dos valores ambientais por Professora Doutora Marina Lencastre
10.30 h Menos teoria e mais prática nas actividades de Educação Ambiental por Professor Doutor Paulo Santos
11.00 h Debate
11.30 h Será possível educar para a ética ambiental? – a ética da terra de Aldo Leopold, o sentido do maravilhamento em Rachel Carson e o movimento criança na natureza, de Richard Louv por José Carlos Marques
12.00 h O poder educativo da Natureza nas teorias pedagógicas (séc. XVII-XX) por Professora Doutora Margarida Felgueiras
12.30 h Debate
13.00 h Intervalo para almoço
15.00 h As causas e as consequências: como a Filosofia para Crianças se cruza com a ética ambiental por Professora Doutora Teresa Santos
15.30 h Animais, ciência e tecnologia: a questão ética por Professora Doutora Anna Olsson
16.00 h Debate
16.30 h Ética Animal e a expansão do círculo moral: porquê só os animais e não a natureza em geral? por Mestre Ana Lúcia Cruz
17.00 h Protecção dos animais em Portugal: percurso associativo por Mestre Alexandra Amaro
17.30 h Debate
18.00 h Encerramento do colóquio

Entrada livre com inscrição obrigatória para o email pdce08002@fpce.up.pt até 15 de Setembro de 2010.