350 anos a escrever sobre ciência

O início de março marca os 350 anos da primeira revista científica. No dia 6 de março em 1665, a primeira edição da Philosophical Transactions foi publicada em Londres. Ao contrário de muitas revistas, em que não se consegue aceder às edições pre-digitais, temos acesso a todo o arquivo desta publicação do The Royal Society.

Na diversidade de tópicos na primeira edição, não faltam assuntos com clara relevância para ética e bem-estar animal, como por exemplo Of the New American Whale-Fishing about the Bermudas. O que esta história conta, sobre o comportamento das baleias e a sua alimentação, é essencialmente coerente com a visão científica contemporanea – embora o assunto de caça científica de baleias é bem mais controverso agora.

Na segunda edição podemos aprender An Easier and Safer Way of Transfusing Blood out of one Animal into another Além de constatar que a forma de descrever trabalhos experimentais com animais é radicalmente diferente de hoje, fiquei a pensar na despreocupação com o facto de ser animais de especies diferentes. Mas descobri que a xenotransfusão ainda não foi abandonada na medicina veterinária.

Deve haver cavalos nas ruas de Nova Iorque?

Bill de Blasio é presidente de Nova Iorque. Um dos assuntos na sua agenda política é o futuro dos cavalos que puxam carruagens nas ruas e parques da cidade. É uma prática desumana, diz de Blasio, que a quer banir.

A controvérsia não tardou. Tal como em outras cidades, como Viena e Sintra, as charretes e os seus cavalos são emblemáticas e há muita gente que não quer ver a sua cidade sem elas.

O igualmente emblemático jornal New York Times pegou no assunto e lançou um debate. Sob o título Horse Carriages Are Not Just A Ride In The Park, convidou um conjunto de pessoas com perspetivas diferentes a pronunciar-se sobre o futuro dos cavalos nas ruas de uma cidade com 8 milhões de habitantes e um número desconhecido de carros.

O frio do inverno provavelmente é mais problemático para os passageiros do que para os cavalos. Já os dias de verão com temperaturas acima dos 30ºC e elevada humidade são mais problemáticos para os cavalos.

O veterinário e especialista em saúde equina Harry H Werner argumenta que os cavalos estão de boa saúde, vivem em boas instalações e são bem cuidados. Contrária a esta visão, Holly Cheaver, também veterinária e representante de associações de proteção animal, defende que as condições nas ruas de Nova Iorque  e também nos estábulos são nefastas para o bem-estar dos cavalos.

Um terceiro veterinário, Dean W Richardson, defende o valor dos cavalos como uma forma de dar a conhecer os animais aos cidadãos urbanos e que a forma de abordar os problemas deve ser através da regulação e não da proibição.O académico Kenneth Shapiro, por sua vez, discorda que este uso de cavalos sirva como exemplo de uma boa relação humano-animal.

O debate acima referido decorreu há um ano. A proposta agora em cima de mesa é um phasing-out da atividade. Os charretistas marcaram um dia de greve em protesto.

Doutoramento em bem-estar de animais de laboratório


Queres trabalhar num projeto internacional com o objetivo de desenvolver novas técnicas para medir bem-estar de animais de laboratório?

Procuramos candidatos com um mestrado em ciências de vida para trabalhar neste projeto. As tres partes envolvidas no trabalho são na Dinamarca  Universidade de Copenhaga onde o doutorando terá a sua base de trabalho e Novo Nordisk e em Portugal Instituto de Biologia Molecular e Celular.

Mais detalhes sobre o projeto e como candidatar-se.

Produção pecuária e bem-estar animal – Debate

Está disponível o vídeo que resultou do debate sobre Produção Pecuária e Bem-estar Animal (que teve lugar na Faculdade de Ciências da U.Porto a 22-11-2012), organizado pelo projeto Ciência 2.0 e no qual participaram autores do Animalogos. Em estúdio esteve a Anna Olsson (IBMC) na companhia da Virgínia Joaquim (Associação Zoófila Portuguesa) e de José Oliveira (Confederação de Agricultores de Portugal), com a moderação do jornalista Daniel Catalão. 
Foi sem dúvida um debate construtivo, pontuado por perguntas pertinentes do público presente. Gostei particularmente da forma como a Anna lidou com a pergunta do acesso aos estados mentais (‘sentimentos’) dos animais, comeҫando a resposta pelas metodologias mais progressistas mas também mais fáceis de entender por um público leigo (o Qualitative Behaviour Assessment e a Mouse Grimace Scale) e só depois explicando os testes etológicos mais clássicos. Também gostei que, do pouco que retiraram da minha entrevista, tenham seleccionado a parte sobre a insuficiente protecção da vaca leiteira, opinião que teve reflexo nas palavras do Presidente da APROLEP. Este tema foi também trazido a debate por outro membro do público relativamente ao efeito da genética sobre o bem-estar dos bovinos leiteiros. No entanto, a resposta rápida – mas irreflectida – da Virgínia Joaquim, atirou as culpas para a selecção artificial como um mal em si próprio, esquecendo – como apontou a Anna – que a melhoramento genético também permite seleccionar para a saúde e a longevidade.

Treinar ratos para detectar minas


O uso de ratos (que não são os europeus Rattus norvegicus mas os seus primos distantes Cricetomys, bastante maiores, de tamanho de um cão pequeno) para detetar minas antipessoais é um elegante exemplo de colaboração humano-animal que aproveita as característica físicas e mentais do rato para abordar um problema humano gigantesco. Ativo e inteligente, o rato é fácil de treinar, e pesando pouco mais do que um quilo não faz disparar as minas.

No vídeo do TEDx de Roterdão, Bart Weetjens fala da iniciativa de treinar e disponibilizar ratos para deteção de minas e de tuberculose em Africa e Asia. O site da associação APOPO tem informação vasta sobre a sua atividade no terreno, que inclui Angola e Moçambique.

WSPA passa a ser World Animal Protection

Tem mais do que 50 anos e agora um novo nome: 
World Animal Protection está presente em tudo o mundo. O seu trabalho vai desde ações concretas no terreno para proteger animais que vivem em contacto com seres humanos (como por exemplo populações de cães asilvestrados) até uma campanha junto às Nações Unidas para uma Declaração Universal de Bem-Estar Animal (não a confundir com a muito divulgada mas completamente inoficial Declaração Universal dos Direitos dos Animais).

O valor da preocupação ética


Sendo que a preocupação humana com os seres humanos é maior do que a preocupação humana com outros animais, se calhar não é de surpreender que quem se preocupa profissionalmente com seres humanos recebe maior remuneração do que quem se preocupa profissionalmente com outros animais. Mas as recentes decisões sobre remuneração de peritos nos processos de revisão ética de investigação clinica versus a investigação com animais são flagrantes.

Acabou de ser publicado o Despacho n.º 8548-P/2014 que regula a remuneração dos membros da Comissão de Ética para a Investigação Clínica (CEIC). Esta é a única comissão de ética para investigação com seres humanos que opera ao nível nacional. Avalia todos os ensaios clínicos e os estudos com intervenção de dispositivos médicos, enquanto outros estudos que envolvem sujeitos humanos estão sob a responsabilidade de comissões de ética locais. Acabou de ser publicado o despacho que estabelece a remuneração dos membros da CEIC, do qual cito:

Assim, ao abrigo do n.º 4 do artigo 35.º da Lei n.º 21/2014, de 16 de abril, determina -se o seguinte: 

1 — Os membros da Comissão de Ética para a Investigação Clínica (CEIC) têm direito, por cada reunião da CEIC ou da comissão executiva, 
a senhas de presença nos termos seguintes: 
a) Presidente da CEIC — € 180; 
b) Vice -presidente da CEIC — € 160; 
c) Restantes membros da comissão executiva — € 130. 
2 — Os restantes membros da CEIC que não façam parte da comissão executiva têm direito por cada reunião em que participem ao abono de senhas de presença no valor correspondente a € 90. 

3 — Das taxas cobradas nos termos do artigo 48.º da Lei n.º 21/2014,de 16 de abril, e para efeitos da emissão do parecer previsto na referida lei, 40 % das quantias cobradas são afetos, a título de remuneração, aos membros e peritos a quem forem distribuídos os processos.

O mais próximo da CEIC para a área de experimentação animal será a Comissão Nacional para a Proteção dos Animais Utilizados para Fins Científicos, estabelecida pelo Decreto-Lei nº 113/2013. Um ano depois da publicação desta lei, a comissão ainda não existe, mas o documento que a estabelece já definiu que aos seus membros “não é devido o pagamento de qualquer prestação, independentemente da respetiva natureza, designadamente a título de remuneração, subsídio ou senha de presença.” 

Esta questão não é apenas simbolica, pois existe um real trabalho que tem que ser feito pelos membros das diferentes comissões. Qual a disponibilidade para realizar este trabalho espera-se quando já antes de criar a comissão se declara que o trabalho não vale um tostão?

Técnica revolucionária para estudos de comportamento animal?

Uma das maiores dificuldades para o estudo de comportamento animal é a recolha de dados. Qualquer etólogo tem uma mão-cheia de histórias sobre as dificuldades por que passou. Tanto os livros da Jane Goodall como os documentários de National Geographic relatam bem os desafios que é trabalhar com animais selvagens no meio deles.

Mas não é necessariamente fácil estudar o comportamento de animais em cativeiro. Muitas vezes o trabalho requer captura de imagens, pois por um lado a presença do observador pode influenciar os animais de uma forma indesejada, por outro lado animais que são pequenos, rápidos e/ou notívagos são muito difíceis de observar em direto. Ao começar uma carreira em estudos de comportamento animal, muitos de nós iniciamos também uma odisseia entre as tecnologias de filmagens e processamento de imagens. Durante anos, os nossos melhores aliados eram as empresas que fornecem equipamento de segurança, pois as necessidades de captar imagens em condições diversas de luz e 24/7 são partilhadas entre quem precisa de monitorizar as entradas de uma fábrica e quem procura ver o padrão de atividade numa vacaria.
Ao começar a trabalhar com roedores de laboratório deparei-me com novas dificuldades que desconhecia no meu trabalho com animais de pecuária. Como montar um sistema de filmagem que me permite ver um animal que vive numa gaiola do tamanho de uma caixa de sapato? A gaiola é transparente e permite gravações através da parede, mas se quero nesta gaiola fornecer um ambiente minimamente adaptado às necessidades do animal, ou seja material de ninho e abrigos, acabo por criar inúmeras oportunidades para o animal desaparecer da vista. As pequenas camaras feitas para gravar dentro de ninhos de pássaro parece um instrumento potencialmente interessante que ainda não tive oportunidade de experimentar. Permitiria a colocação da camara imediatamente acima dos animais, entre grades da gaiola. 

Um artigo recente na revista Nature Methods apresenta uma potencial solução para o segundo problema: Como identificar vários animais que vivem na mesma gaiola num vídeo, quando estes animais são quase iguais de tamanho e de coloração e quando qualquer marcação que é colocada na pelagem deles ou é potencialmente tóxica ou é rapidamente removida pelo animal?  Como podemos ver no video-clip, um grupo de investigadores espanhois desenvolverem uma abordagem em que o próprio sistema identifica os animais pelas suas caracteristicas individuais, sem a necessidade de marcação.

Creio que ainda teremos que esperar algum tempo até o sistema estiver no mercado. mas que parece interessante, parece.