![]() |
| Matadouro Romeno Photo:Daniel Mihailescu – AFP |
Author: Manuel Sant'Ana
“Uma só Saúde” – bom ou mau para os animais?
De acordo com o conceito de Uma Só Saúde, a verdadeira razão para o trabalho do veterinário é prevenir doenças humanas, como por exemplo zoonoses transmitidas a partir de animais doentes para os seres humanos através dos alimentos. Desta forma, a medicina veterinária aproxima-se da medicina humana. Tem sido defendido que esta visão não deve levar a uma menor consideração dos animais e que, pelo contrário, está destinada a ser uma situação de mútuo benefício, onde a saúde humana é assegurada através da garantia de saúde animal e do seu bem-estar.
Vamos continuar a salvar o Priolo ?
Reportagem RTP from SPEA on Vimeo.
A conservação do Priolo contou entre 2003 e 2008 com fundos comunitários através de um projecto LIFE e já aqui demos conta dos efeitos benéficos deste projecto não só sobre a espécie mas também sobre as comunidades humanas locais. O programa teve depois seguimento com o projecto LIFE Laurissilva Sustentável (2008-2013) que providencia as plantas essenciais à dieta alimentar do priolo mas que termina em Junho próximo. Se ainda tem dúvidas sobre a importância da conservação do Priolo, veja o documentário da Madalena Boto.
Uma reflexão sobre cães perigosos, crianças inocentes e petições inconsequentes
Bem-estar no Abate – "Kill it, Cook it, Eat it"
Por Ricardo Reis:
– O processo de abate mostrado parecia de facto seguir as melhores práticas: os porcos nunca se mostraram agitados, o atordoamento foi eficaz, o sangramento foi rápido, de uma maneira geral, parece não ter havido sofrimento da parte dos porcos.
– A responsável do MHS foi explicando o que estava a ser feito e reassegurando as pessoas que os animais estavam a ser abatido da forma o mais humanitária possível. Sem essa responsável lá, algumas pessoas poderiam ter pensado que os porcos estavam a voltar a si quando agitaram a perna durante o sangramento. Além disso, acho que a presença da responsável faz com que as pessoas racionalizem mais o que estão a ver, ao invés de reagirem emocionalmente.
Bo Algers sobre a Conferência Global sobre Bem-estar Animal
AO: Quais os principais pontos discutidos nesta conferência?
BA: Esta conferência abordou, acima de tudo, questões ligadas às circunstâncias regionais, tais como os aspectos culturais e religiosos. Por exemplo, a questão do bem-estar animal durante o abate halal foi tema de um workshop dedicado. Muitos expressaram a necessidade de abertura e transparência durante a produção, transporte e abate para garantir que essas atividades são feitas de uma forma que a sociedade possa aceitar. Outra questão levantada pela OIE foi a das normas que podem ser consideradas como barreiras comerciais razoáveis no comércio internacional. A OIE defendeu que apenas as suas próprias normas possam ser consideradas motivos válidos. Mas muitos interessados defenderam um ponto de vista diferente, argumentando que os países com padrões mais elevados de bem-estar deveriam ser capazes de os usar em vez das normas da OIE. Nesta questão, há uma divisão entre, em especial, os estados membros da UE e outros países. Vários participantes de estados membros da UE argumentaram que, se se evita apelar a normas mais abrangentes, não haverá nenhuma motivação para avançar com a questão do bem-estar animal. A Suécia, entre outros países, pode ser um modelo importante na defesa desta questão no âmbito da OIE.
AO: Para mim foi um momento revelador quando ouvi os responsáveis por assuntos em bioética na UNESCO falarem sobre a reacção que tinham recebido de países em desenvolvimento: “Vocês discutem diagnóstico pré-natal e consentimento informado, para nós bioética centra-se em ter água limpa e cuidados básicos de saúde”. Imagino que haverá distâncias correspondentes no que diz respeito à saúde e bem-estar dos animais. Como se lida com isso numa discussão global?
BA: Eu penso que muitos ficariam surpreendidos com a rapidez com que estes assuntos granjearam uma atenção global. E não é alheio o facto de ser precisamente quando os animais são transportados, manuseados e abatidos que pode haver consequências financeiras directas do mau trato aos animais, sendo a quantidade de carne produzida reduzida. Penso que isto é relevante quer para consumo interno, quer para exportação. Por isso para muitos pequenos e grandes intervenientes esta questão é importante. Ademais, aumentar o nosso conhecimento significa que o bem-estar animal é cada vez mais visto como parte da noção de “uma só saúde”. As discussões entre os cerca de 280 delegados de 72 países não pareceram de todo artificiais, mas antes muito relevantes.
aldeia.org – apadrinhe um animal selvagem
Guerra do Leite em Bruxelas
O Jornal Público tem no seu (renovado) site uma excelente fotorreportagem da manifestação dos produtores de leite europeus à porta da Comissão Europeia em Bruxelas, no passado dia 26 de Novembro. Já aqui abordámos a questão da sustentabilidade do sector leiteiro nacional e europeu quer do ponto de vista do bem-estar animal, quer do ponto de vista da regulamentação do mercado. Numa altura em que as falências no sector se sucedem, o anunciado fim das quotas leiteiras em 2015 e das ajudas directas à produção têm deixado as associações de produtores à beira de um ataque de nervos, ao ponto de regarem com leite os edifícios da Comissão. Na prática, o fim das quotas leiteiras implica a liberalização do mercado: por um lado não são impostos limites à produção de cada país mas, por outro lado, isso representa também uma maior exposição dos membros da UE à concorrência interna e externa. As novas regras europeias de compra e venda de produtos lácteos pretendem substituir o regime de quotas mas têm sido acusadas de favorecerem os países do Centro e Norte da Europa em detrimento dos do Sul.
Produção pecuária e bem-estar animal: contrários ou complementares?
Inscreva-se aqui (gratuito).
O pessimista e o seu cão
Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi um peculiar filósofo alemão, fundador de uma corrente ético-filosófica denominada pessimismo metafísico. “Viver é sofrer”, dizia ele, e para esta visão não terão sido alheios o suicídio de seu pai quando Arthur tinha 17 anos e a má relação com a mãe, com quem rompe em definitivo aos 26.
A base do pensamento de Shopenhauer é a filosofia kantiana, a qual funde com as escrituras hindus. Foi ele o responsável pela introdução do pensamento oriental (nomeadamente as religiões da Índia, o Hinduísmo e o Budismo) na metafísica alemã. Contemporâneo de Hegel e opositor visceral das suas teorias, envolve-se numa batalha de protagonismo na Universidade de Berlim, da qual sai perdedor. A sua obra maior é O Mundo como Vontade e Representação, publicada nos finais de 1818. Bertrand Russell diz que Shopenhauer dava enorme importância a esta obra, chegando a dizer que alguns parágrafos tinham sido ditados pelo Espírito Santo. Vivendo em permanente litígio com os seus pares, Shopenhauer lamentava-se da miséria da condição humana e considerava os seres humanos cegos de egoísmo. “Não existe felicidade”, dizia ele, “porque um desejo irrealizado causa pena e, se atingido, saciedade”.
O temperamento de Shopenhauer foi-se tornando progressivamente mais irascível e solipso. Com 45 anos instala-se em Frankfurt e durante os vinte e sete anos que aí viveu, dedicados em exclusivo à reflexão filosófica, levou uma vida solitária, tendo só um cão por companhia. Schopenhauer era amante de cães pois, segundo ele, entre os cães – e contrariamente ao que ocorre entre os homens – a vontade não é dissimulada pela máscara do pensamento. Durante estes anos, Shopenhauer teve uma dinastia de Caniches, sempre de nome Atma, que significa “alma do mundo” em hindu.
A predilecção de Schopenhauer por animais era filosoficamente justificada: ele argumentava que os animais não-humanos possuíam a mesma essência dos humanos, apesar da ausência de razão. Embora não praticasse o vegetarianismo e o considerasse facultativo, defendia que os direitos dos animais deviam fazer parte da reflexão moral. Opunha-se à vivissecção, muito utilizada por pensadores e cientistas da época, e criticou furiosa e demoradamente a ética Kantiana por não incluir os animais no seu sistema moral.
Nietzsche, muito influenciado pelo seu pensamento, apelidava-o de “cavaleiro solitário”. Na sua vida é difícil encontrar provas de virtude, excepto para com os animais. A sua visão da natureza humana era de tal modo pessimista que, quando faleceu a 21 de Setembro de 1860 vitimado por uma pneumonia, deixaria todos os bens ao seu caniche Atma, a alma do mundo.






