Author: Manuel Sant'Ana
The End of the Line
Nós e os Outros
No artigo Nós e os Outros publicado no Diário de Notícias do passado dia 17 de Abril, o Padre Anselmo Borges – teólogo, filósofo e docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra – recupera o argumento da Cultura para diferenciar humanos de animais não humanos. Reproduzo aqui o trecho inicial da crónica (que aos animais diz respeito) mas recomendo a sua leitura integral. Vários argumentos têm sido ensaiados na literatura para justificar a diferença de valor entre humanos e não humanos nomeadamente racionalidade, linguagem, inteligência, consciência reflexiva, pensamento abstracto, liberdade, autonomia, o conceito emocional de paixão, etc, etc. De todos eles, tendo a identificar-me mais com a questão cultural. Se hoje sabemos que outras espécies animais são capazes de transmitir entre indivíduos métodos aprendidos através da experiência repetida – e que vão para além do determinismo genético – não deixo de partilhar a ideia de que o ser humano é um ser cultural e não apenas um ser capaz de transmitir cultura. É através da capacidade infinita de aculturação que o ser humano se constrói como indivíduo e como espécie. É a transmissão de cultura, como característica evolutiva bem desenvolvida, que permite ao ser humano seguir continuamente por caminhos novos e diferentes.
Primeiros linces nascidos em cativeiro em Portugal
A notícia do nascimento de duas crias de Lince-ibérico (Lynx pardinus) no Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), em Silves supreendeu todos, mesmo aqueles envolvidos no projecto de reintrodução desta espécie emblemática no nosso País. De facto, decorreram apenas cinco meses desde que os progenitores, Azahar e Drago, foram introduzidos no CNRLI, e a extrema facilidade com que os dois indivíduos se adaptaram às novas condições (e um ao outro) augura um futuro mais risonho para a espécie.
Não deixa de ser curioso, no entanto, que a campanha de recuperação do Lince Ibérico – o mamífero mais ameaçado da Europa e o felino mais ameaçado do mundo – não seja mais do que uma medida de compensação ambiental imposta por Bruxelas pela construção da Barragem de Odelouca, na Serra de Monchique, no Algarve. Já anteriormente, nos finais dos anos setenta, houve uma campanha nacional para salvar o lince da extinção que se saldou num rotundo fracasso.
A campanha da Liga Portuguesa para a Protecção da Natureza visava, como ilustra o poster, combater a industria da celulose e o crescimento da monocultura do pinheiro-bravo e do eucalipto em detrimento da vegetação autóctone. A campanha, ao fazer perigar o desenvolvimento económico, criou uma barreira intransponível entre os interesses humanos e os interesses da natureza (e os do lince em particular). A prioridade foi, claro está, para os interesses humanos mais imediatos pese embora as consequências nefastas a médio-longo prazo do monocultivo vegetal: maior vulnerabilidade aos fogos florestais, desertificação dos solos e diminuição de biodiversidade.
Muito caminho está ainda por percorrer para que o lince volte a fazer parte da fauna nacional. Tão importantes como a reprodução em cativeiro, são a recuperação das populações de coelho-bravo e a requalificação de habitats.
Anfíbios: Uma Pata na Água, outra na Terra

Animais de Rua + Canil Municipal de Loures
Apesar do folclore televisivo, aqui está um bom exemplo de cooperação entre Canis Municipais e Associações Zoófilas. A Médica Veterinária do Município de Loures procedeu ao arresto de uma centena de cães, após um longo processo legal. A Associação Animais de Rua soube do caso e tomou a iniciativa de encontrar uma solução para a esterilização e adopção desses mesmos animais. A associação zoófila funciona, neste caso, como o veículo intermediário entre o canil municipal, outras associações e a sociedade, em vez de se sobrepor ao trabalho do Médico Veterinário Municipal (MVM). O que muitas vezes acontece é serem as associações a tomar nas suas mãos a missão de apreender animais vadios ou “maltratados” e a encontrar as suas próprias vias de adopção à revelia de qualquer controlo médico-veterinário.
A Associação Animais de Rua é um caso à parte no panorama nacional das associações zoófilas pelo facto de ter uma linha de rumo muito objectiva e definida: capturar, esterilizar e devolver animais errantes. Como não possui instalações próprias esta associação funciona em parceria com outras entidades ou associações, procurando sinergias.
Má sorte nascer com pelos e ter um dono "alérgico"
Somos aquilo que comemos
Quando pensamos em investigação em animais é provável que a primeira imagem que nos surja seja a de um pequeno mamífero, como o ratinho da imagem, usado em investigação biomédica. De uma forma geral, estamos cientes das repercussões que este tipo de investigação tem na vida quotidiana, nomeadamente na nossa saúde. Mas com mais dificuldade nos apercebemos que quando vamos a um (vulgar) mercado comprar peixe podemos ter à nossa frente um produto que é o resultado de um trabalho de investigação tão intenso e meticuloso como a aspirina que compramos na (asséptica) farmácia.
Na última edição da Revista Pública, é-nos dado a conhecer o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido na área da aquacultura em Portugal. Guiados pela investigadora do CCMAR Maria Teresa Dinis, viajamos desde os ensaios experimentais nos anos 80 – numa altura em que o oceano era ainda visto como uma fonte de recursos inesgotável – até aos dias de hoje em que mais de metade dos stocks marinhos estão sobre-explorados e o cultivo se prepara para ultrapassar as pescas de captura como a principal fonte mundial de peixe para consumo. Projectos como o SEACASE caminham no sentido de explorarmos os nossos recursos marinhos de forma mais sustentável (do ponto de visto social, económico e ambiental) mas cabe-nos a nós, consumidores, tomarmos decisões responsáveis e informadas.
E o leitor, sabe de onde provém o peixe que consome?
Darwin e as emoções animais
“A woman, who sold a monkey to the Zoological Society, believed to have come from Borneo (Macacus maurus or M. inornatus of Gray), said that it often cried; and Mr. Bartlett, as well as the keeper Mr. Sutton, have repeatedly seen it, when grieved, or even when much pitied, weeping so copiously that the tears rolled down its cheeks. There is, however, something strange about this case, for two specimens subsequently kept in the Gardens, and believed to be the same species, have never been seen to weep, though they were carefully observed by the keeper and myself when much distressed and loudly screaming.”
Charles Darwin (1872)
The expression of the emotions in man and animals
London: John Murray, pp.135-6
São famosos os relatos de elefantes que choram os seus mortos, de cães que ficam cegos de raiva ou de gatos felizes por se deitarem ao colo dos seus donos. Mas sentirão os animais o que nós pensamos que eles sentem? Qual a sua opinião sobre as emoções animais?
Exuberâncias da Caixa Preta
Cebus rubustus Kuhl, 1820
Macaco-prego, Brasil
Colecção Braga Júnior
Museu História Natural da Faculdade de Ciências
Universidade do Porto
Charles Darwin (1872)