Magia para Cães

Com mais de 14 milhões de visualizações, os vídeos de Magia para Cães de Jose Ahonen, mágico e mentalista finlandês, são um enorme sucesso.
Claro que, pelos comentários, nem toda a gente parece concordar que se faça tamanha artimanha aos pobres canídeos, simplesmente para nos entreter. Mas de todas as coisas que nós humanos fazemos a cães (nomeadamente Exposições Caninas e Concursos de Beleza) esta parece ser a mais inocente (e divertida) de todas. Para mim o que me cativa nestes videos não é tanto a reacção dos cães mas mais a razão de ser dela. Porque se Ahonen se limitasse a esconder o biscoito por entre os dedos ou na manga, não seria fácil para os cães detectar o biscoito pelo odor? Mas os cães parecem não fazer ideia para onde o biscoito foi parar. Enganar um humano é fácil, pois muitas vezes vemos aquilo que esperamos ver. Mas enganar um cão parece-me ser mais difícil. Sugestões?

Política Comum Das Pescas – Aprender a gerir o bem comum

Numa altura em que a nova Política Comum de Pescas (PCP) entrou em vigor e quando se finaliza o futuro Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP), a PONG-Pesca convida a todos a participar num debate público sobre os desafios e as oportunidades que a fase de implementação da nova PCP apresenta. O debate decorre no dia 23 de Abril na sede da FLAD em Lisboa. Este evento também irá marcar o final da atividade da coligação da OCEAN2012 em Portugal e o início de uma nova etapa do trabalho das Organizações Não Governamentais nacionais sobre os assuntos das pescas.

A entrada é livre mas sujeita a inscrição através do endereço pong.pesca@gmail.com

Dia Mundial da Medicina Veterinária: Global Webminar em Bem-Estar Animal

Por ocasião das comemorações do Dia Mundial da Medicina Veterinária, realiza-se no próximo dia 29 de Abril (entre as 14h e as 16h, hora portuguesa) um seminário on-line sobre Bem-estar Animal. Organizado pela Associação Mundial de Veterinária e pela Comissão Europeia, este Global Webminar intitula-se: “Liderança Veterinária: disponibilizar ferramentas para veterinários na área de Bem-Estar Animal”. A inscrição é gratuita (termina hoje!) e permite ao público colocar questões e participar no debate.

Petição para abolir o uso do Diclofenac na Europa

Fonte: BBC – Poisoning drives vulture decline in Masai Mara, Kenya
Está a decorrer uma petição enderaçada aos Comissários Europeus do Ambiente e da Saúde para abolir o uso do medicamento veterinário Diclofenac no espaço europeu. Este anti-inflamatório não esteróide é usado há décadas no combate da dor e inflamação em ruminantes (bovinos, ovinos e caprinos). Trata-se, no entanto, de uma droga altamente nefrotóxica noutras espécies, nomeadamente cães e aves. Especialmente vulneráveis são as espécies necrófagas – como os abutres – que se alimentam das carcaças de ruminantes medicados com diclofenac. Segundo o Programa Antídoto-Portugal:

dados relativos à mortalidade massiva de várias espécies de abutres em países asiáticos, nomeadamente na Índia e no Paquistão (…) revelaram que a elevada diminuição anual de adultos e sub-adultos se devia à insuficiência renal que era provocada pela ingestão de cadáveres com resíduos de Diclofenac, um anti-inflamatório de uso veterinário com que os ruminantes são medicados naquela região (Oaks et al. 2004).

Com o advento de novas drogas mais seguras e eficazes (como o meloxicam) o uso sistémico de diclofenac não apresenta qualquer benefício (para os animais tratados, a saúde pública e as espécies selvagens) que não seja o seu baixo preço. No entanto, a sua comercialização é permitida em Espanha e Itália, onde residem 80% dos abutres da Europa. Acresce o facto de que qualquer medicamento veterinário vendido em Espanha rapidamente se torna disponível em Portugal, já que existe um mercado paralelo que permite que os produtores pecuários se abasteçam, sem grandes dificuldades, de medicamentos para os seus animais no país vizinho.

O valor ecológico dos abutres – espécies que podem ser facilmente avistadas em Portugal nas regiões raianas do Tejo e do Douro Internacional – é inestimável e o seu papel na remoção de carcaças e prevenção de doenças insubstituível. Assinar a petição é, por isso, um dever de cidadania.

Outra vez Marius, e o abate de animais saudáveis em Zoos.

O caso de Marius – a girafa que foi abatida no Zoo de Copenhaga, necropsiada em público e dada de comer aos leões – continua a dar que falar. No vídeo aqui reproduzido podemos observar como o Director do Zoo de Copenhaga, Bengt Holst, procura defender-se de forma serena do criticismo apaixonado por parte do jornalista do Channel 4, Matt Frei. Esta entrevista espelha bem o confronto de valores entre duas formas muito diferentes de entender o papel dos animais na sociedade.
O Director do Zoo justifica a prática como sendo uma aproximação à natureza. No estado selvagem a girafa também é comida por leões e a autópsia pública permite um exame naturalista do interior de uma girafa, com evidentes benefícios pedagógicos. Em resposta à pergunta ‘Gosta de animais?’ Bengt Holst responde que sim, em função de manter populações saudáveis. Para Bengt Holst, o valor moral está no grupo ou população e não tanto nos indivíduos que compõem o grupo. Por outras palavras, o todo vale mais do que a soma das suas partes.
O jornalista, por seu lado, procura enfatizar a componente emocional, usando termos como ‘crueldade’, ‘desmembramento’, ‘crianças horrorizadas’, e acusando o entrevistado de usar uma linguagem ‘clínica e fria’. Para ele, o valor parece estar nas relações que nós humanos estabelecemos com os outros animais. No entanto, Matt Frei não é capaz de articular um único argumento válido para contrapor as justificações do entrevistado. Mais do que o abate em si, o jornalista parece chocado com o facto de Marius ter apenas dois anos e ser saudável. Mas não parece fazer sentido esperar que os animais fiquem doentes ou velhos para que o seu abate se torne permissível.
A discussão enfatiza a diferença fundamental entre o abate de Marius e o abate de outros animais selvagens (como coelhos e roedores) para controlo das suas populações: a qualidade de “praga”. Aqueles mamíferos silvestres que são considerados pragas podem ser abatidos, mas o mesmo não se passa com girafas em zoos. A resposta de Holst espelha bem este dilema: mas quem decide o que é uma praga?
Uma crónica publicada ontem por Hannah Barnes, jornalista da BBC, procura contextualizar o abate de animais em Zoos. Trata-se de uma prática recorrente na gestão de um Zoo, nomeadamente daqueles que são membros da Associação Europeia de Zoos e Aquários (EAZA). Segundo a jornalista, na semana anterior ao escândalo de Marius um outro Zoo dinamarquês, o Odense Zoo, tinha abatido dois leões. Os exemplos de abate incluem ainda zebras no Reino Unido, hipopótamos em Portugal ou crias de tigre na Alemanha. Para mim, o mais curioso desta história é que à medida que os Zoos melhoram as usas práticas e a qualidade de vida dos animais em cativeiro aumenta, mais hipóteses existem destes se reproduzirem e maior número de animais terá de ser abatido para manter populações captivas saudáveis.

Gatos na Sociedade – Ordem dos Médicos Veterinários

A Ordem dos Médicos Veterinários lançou o vídeo didático “Gatos na Sociedade“, depois de em Outubro passado ter disponibilizado o vídeo “Cães na Sociedade“. Estes vídeos destinam-se à população em geral e focam-se bastante nas questões comportamentais. Neles pode-se aprender sobre socialização, medos e fobias, aprendizagem e cuidados básicos com vista a promover uma saudável interação entre o Homem e os Animais, assim como sensibilizar os donos para a importância dos cuidados médico veterinários regulares aos seus animais de companhia.
Estes vídeos passarão a estar disponíveis na janela “Animalogos no Ensino”, na barra superior do blog.

Marius – uma Girafa a mais no Zoo de Copenhaga

A notícia do abate da girafa (ou antes, do girafo) Marius no Jardim Zoológico de Copenhaga tem feito as manchetes dos jornais de hoje. O juvenil de 18 meses foi abatido com um tiro, necropsiado perante o olhar dos visitantes (incluindo crianças), esquartejado e dado de comer aos leões do zoo. Segundo a direcção do parque zoológico, não haveria espaço para mais um animal e o risco de consanguinidade caso o Marius viesse a acasalar seria elevado. O mesmo risco existiria caso o Marius fosse transferido para outro Zoo, como chegou a ser proposto.
É natural que muitos se insurjam contra esta violação dos direitos das girafas. A forma rápida, desapaixonada e funcional como o Zoo tratou do assunto choca alguns mas ajudou a impedir que a indignação crescesse e a pressão da opinião pública colocasse em risco a operação. Mas como é possível que uma instituição com responsabilidades em proteger animais selvagens, os trate de forma tão instrumental?
Para o compreender é preciso perceber o que é um Jardim Zoológico. Um Zoo moderno serve dois propósitos principais: plataforma de preservação de espécies selvagens, especialmente daquelas em risco de extinção, e estrutura educativa sobre zoologia, biologia, ambiente e conservação. Os animais são as peças mais importantes deste processo mas não são o seu fim. Por outra palavras, num zoo os animais são instrumentais para a finalidade de conservar a espécie a que pertencem e educar – e entreter – os visitantes. Os interesses das espécies (onde se inclui também os cohabitantes de Marius que já não terão de dividir o espaço com ele e os leões que o comeram) e os interesses dos seres humanos sobrepõem-se aos dos indivíduos. Pela imagem percebe-se que a necrópsia foi feita pública com propósitos didácticos e não de forma precipitada ou com o intuito de chocar. A mensagem que passa para aquelas crianças é a de que para com os animais só temos deveres indirectos: os animais não têm direitos por si próprios e podem ser usados como um meio para atingir um fim. Essa finalidade é ecocêntrica (a espécie) ou antropocêntrica (o ser humano). E isso ajudará a preservar a cultura dos jardins zoológicos.
Ainda assim, questões mais profundas se levantam: num contexto de espaço e outros recursos limitados porque deixaram os pais de Marius reproduzir-se? E porque deixaram Marius nascer? Quanto vale o nascimento de uma nova cria num zoo em termos de visitantes? Terá sido este o propósito de Marius, que agora juvenil já não serve? E qual a urgência em abatê-lo agora? Segundo a Encyclopedia of Life, a maturidade sexual em girafas ocorre pelos 3-4 anos de idade, mas os machos (em liberdade) raramente têm a oportunidade de procriar antes dos sete. É possível que a forma funcional como o Zoo tratou do assunto lhes tenha evitado maior contestação a curto prazo, mas também pode acontecer que esta forma contractualista de lidar com os seus animais lhes traga oposição acrescida a médio ou longo prazo.

Crudiveganismo – uma estranha forma de vida.

Esta história – que não inclui animais – soube-a pela Alexandra Prado Coelho, a jornalista do Público responsável pelas crónicas de culinária e hábitos alimentares. Francis Kenter é uma cidadã holandesa que vive numa comunidade animista, professando um estilo de vida que inclui o crudiveganismo (ou crudivorismo), isto é, o consumo exclusivo de alimentos de origem vegetal não cozinhados (pelo efeito do calor, portanto). A história não seria merecedora de atenção mediática não fosse esta mãe alimentar o seu filho, Tom, segundo os mesmos proverbiais preceitos e o caso ter ido parar aos tribunais por uma queixa de maus-tratos interposta pelos serviços de acção social. A crónica de Mikel López Iturriaga, no blog El Comidista do Jornal El País, desenrola o novelo da história.

O insólito caso foi seguido pela documentarista holandesa Anneloek Sollart durante vários anos, dando origem a dois filmes: Raw (Cru), de 2008 – quando Tom tinha 10 anos – e Rawer (mais cru), de 2012, com Tom já na adolescência. Segundo os médicos, Tom terá um crescimento 10-15 cms inferior ao esperado para um rapaz da sua idade e apresenta um quadro nutricional característico de crianças da África subsariana. A sua mãe, por outro lado, interroga-se porque é que o Estado quer retira-lhe a custódia do filho ao mesmo tempo que permite que milhares de pais alimentem os seus filhos com junk food, cujos malefícios para a saúde estão sobejamente demonstrados. Nas palavras de Alexandra Prado Coelho, este:

“É um caso que levanta uma série de questões. Devem os pais, por convicção de que estão a fazer o melhor para os filhos, ser autorizados a alimentá-lo de uma forma que os poderá prejudicar? Será legítimo o Estado intervir nestes casos? Tom será mais feliz a viver separado da mãe e a comer comida com a qual não concorda? Terá o rapaz sofrido uma lavagem ao cérebro desde pequeno ou terá capacidade para ter opinião própria neste assunto? E os pais que alimentam os filhos exclusivamente com junk food, devem ver-se também privados do poder paternal?”

Este caso está em contraste gritante com a epidemia de obesidade que grassa no mundo desenvolvido (e não só) mas as questões que coloca são semelhantes. Onde acaba a nossa liberdade como agentes (morais) autónomos em fazer o que entendemos pela nossa saúde e a dos nossos filhos e começa o dever da sociedade em pôr cobro a hábitos alimentares que considera inaceitáveis (e, portanto, imorais)? E onde está a linha que os separa?

Meat Atlas – factos e números sobre os animais que comemos

A ONG ambientalista Friends of the Earth (Amigos da Terra) publicou, em colaboração com a Fundação Heinrich Böll, o Atlas da Carne – factos e números sobre os animais que comemos. Dividido em 26 curtos capítulos ilustrados por 80 gráficos, trata-se de um relatório extremamente pedagógico e de fácil leitura.
O retrato, como seria esperado, não é nada abonatório para a indústria da carne. O mercado global de carne é guiado pelo preço e está cada vez mais na mão de mega-empresas como a americana Tyson Foods, a dinamarquesa Danish Crown e a brasileira JBS. O preço da carne ao consumidor tem vindo a descer em detrimento dos custos sociais, ambientais e de bem-estar animal.
Ainda assim, o relatório dos Amigos da Terra adopta uma postura conciliatória ao considerar que comer carne não resulta forçosamente em dano para o clima e para o ambiente. Pelo contrário – e estou a citar – o uso apropriado de terrenos agrícolas pelos animais pode até trazer benefícios ambientais. A solução para um consumo ‘saudável’ de carne passa pela adopção de esquemas de certificação ambiental e, claro está, pela diminuição da quantidade que comemos. O relatório introduz o conceito – que eu desconhecia – de  ‘flexitarian diets’, e que consiste em comer menos e melhor carne e mais proteína de origem vegetal.
De realçar que as preocupações dos Amigos da Terra são acima de tudo do foro ambientalista e não propriamente de bem-estar animal. Embora não dedique nenhum capítulo ao bem-estar animal, o relatório não ignora por completo este tema. No capítulo do abate, o relatório procura contextualizar as posições dos movimentos de bem-estar animal (reformistas) e de direitos dos animais (abolucionistas). As suas conclusões incluem, também, mais e melhores regras de bem-estar para espécies pecuárias.

Controlo de Animais Errantes na Praia de Faro

A Associação Animais de Rua (AAR), está a desenvolver o Projecto da Praia de Faro que visa controlar as populações de cães e gatos errantes naquela emblemática zona balnear da Ria Formosa. Já aqui elogiei o trabalho da AAR numa mensagem anterior e volto a fazê-lo. Este é um projecto pensado e estruturado, que conta com a colaboração, entre outros, da Dogs Trust e da Universidade Lusófona. Isso é bem visível na forma como o projecto inclui o recenseamento de todos os animais – com recurso a uma aplicação android especialmente desenvolvida para o efeito – e um inquérito à comunidade.

Para quem não conhece, a Praia de Faro é uma das ilhas-barreira que formam a Ria Formosa e aquela que mais pressão humana tem sofrido ao longo dos anos (e também a mais vulnerável). Mas a Praia de Faro não é só local de veraneio; nela também habita uma comunidade que vive da actividade piscatória (em especial mariscadores) que actua numa área protegida pelo estatuto de Parque Natural. Identificar, monitorizar, alimentar e esterilizar os animais errantes vai não só beneficiar o bem-estar destes mesmos animais como permitir controlar o seu efeito sobre as espécies selvagens e promover a relação homem-animal, nomeadamente para quem vive sozinho ou isolado, algo comum por esta bandas. E é por isso que este projecto é tão importante pois contribui activamente para a sustentabilidade ambiental e social da região.

Caso pretenda dar o seu contributo, faça-o por favor através do NIB da AAR (0065 0921 00201240009 31) e envie um email para o geral@animaisderua.org, mencionando que o mesmo se destina ao Projecto da Praia de Faro.