Tag: animais na sociedade
Há raças perigosas?
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| Independentemente do seu temperamento, em nenhuma circunstância o cão da esquerda apresentará perigo de vida para seres humanos. Já para o cão da direita, isso dependerá do seu temperamento. |
| epidemiology of canine aggression randal lockwood pdf |
Dito isto, podemos facilmente estabelecer uma relação linear entre raça e agressão? Como seria de esperar, tal não se afigura fácil, de todo. Primeiramente, porque a causa dos incidentes com cães é multifactorial. Por outro lado, não há desde Scott e Fuller estudos sistemáticos significativos de avaliação do grau de perigosidade de cada raça, para os humanos (e sobretudo crianças e idosos, os mais vulneráveis, como reportado por Lockwood) ou outros animais. Para além disso, restringir essa avaliação apenas a raças definidas irá ignorar as suas diversas variantes e crossbreeds.
Então, o que fazer? Cada animal um caso, e é improvável que consigamos ter soluções “universais” para cada raça, ou mesmo cada indivíduo. Uma possível solução poderá passar pela contribuição dos veterinários para a caracterização do temperamento de cada animal, do seu potencial para a agressividade (tendo em consideração factores como raça, idade, sexo, historial do animal, condições dos donos, ou outros) e das consequências de um eventual ataque, advertindo os proprietários sobre os cuidados a ter para evitar situações perigosas. Outras medidas poderão incluir o registo e acompanhamento destes animais pelas autoridades.
Independentemente de todos os cuidados que se possam ter com estes animais, tenho ao nível pessoal alguns problemas com a criação e aquisição deliberada de cães tendencialmente perigosos, principalmente por parte de quem não tem formação nem recursos para lidar com eles, não havendo grande controlo a esse nível. Para além disso, ainda que reconheça que os factores ambientais são também determinantes para a perigosidade de cada animal e no despoletar de situações de perigo, reconheço também que estes factores ambientais são muitas vezes desconhecidos, imprevisíveis e por isso difíceis de controlar.
Face a isto, e a nível pessoal, costumo recomendar a quem pretende partilhar a sua vida com um cão e possa escolher, que opte por cães de menor porte – com a vantagem de poderem ser mais longevos – e de trato tão dócil quanto for possível determinar pela raça e historial do animal, principalmente se viver com crianças ou idosos. Mas outras opiniões são bem-vindas…
O difícil conceito de direitos
Dois fenómenos relacionados, na esfera de debate publico em Portugal neste momento e que pelo tema pede comentário animalógico:
I) A quantidade de subscritores a uma petição pública pedindo para deixar viver o cão que causou a morte de uma criança de 18 meses.
Neste momento vai em mais que 65 000. É verdade que apenas é 0.5% da população portuguesa e que o acto de subscrever a uma petição on-line não exige muito esforço. Por outro lado, 4000 destes a subscrever a uma petição sobre, por exemplo, o tratamento de animais na lei portuguesa, seria suficiente para levar a uma apreciação no Plenário da Assembleia de Republica.
A petição em si é demasiado curta para permitir grandes conclusões sobre a base dos seus argumentos. De facto, parece mais baseada numa reação espontânea contra o que quem escreveu entende como injustiça no tratamento do cão do que numa coerente visão sobre o estatuto do animal na sociedade humana. Mas mostra que em Portugal em Janeiro de 2013, na plena crise económica, este assunto preocupa.
2) O frenesim com que comentadores com espaço privilegiado respondem declarando que os animais não têm direitos.
Isto não é um novo fenómeno. A primeira vez que o encontrei foi há tanto tempo que o formato era um recorte do jornal que já perdi. A mais recente anterior, do qual tomei nota, foi o Paulo Rangel numa entrevista no jornal Sol (ver ‘recorte digital’ aqui). A argumentação anda quase sempre a volta da consideração que os animais não podem ter direitos porque não podem ser responsabilizados pelos seus atos, ou não têm direitos porque só os seres humanos têm porque os seres humanos ocupam um lugar de excecionalidade (cuja justificação ora não é explicado, ora é baseado nesta capacidade cognitiva anteriormente referida). Tanto Rangel acima como Daniel Oliveira (no jornal Expresso, em comentário à petição) usa o segundo argumento, Henrique Monteiro (também no Expresso) tem uma explicação relacionada mas ainda mais simples: “não podem ter direitos, uma vez que o direito tem por objeto a regulação entre pessoas”.
Bem, se fosse tão simples descartar o conceito de direitos dos animais, podíamos igualar a alquimistas os muitos académicos (filósofos e juristas) que dedicam horas de trabalho e páginas de escrita à questão. Não é, evidentemente, o caso. E por ser um assunto complexo e parcialmente fora do domínio dos animalogantes da casa, pedimos um comentário a uma especialista em direito e em ética animal, a ser publicado brevemente.
Entretanto, aproveito para declarar que ao contrário do mito prevalecente e ao contrário do declarado na crónica do Henrique Monteiro, não existe uma Declaração de UNESCO dos direitos dos animais. A entrada lusófona da Wikipedia esclarece corretamente do que se trata: “uma proposta para diploma legal internacional, levado por ativistas da causa pela defesa dos direitos animais à UNESCO em 15 de Outubro de 1978”. Portanto, algo muito diferente do que a UNESCO a proclamar!
Cães e crianças
Decorre nas redes sociais em Portugal uma discussão sobre o abate do cão que feriu mortalmente uma criança em Beja. Uma petição com dezenas de milhares de assinaturas pede que o cão não seja abatido, e que seja investigado o que realmente passou e porque reagiu como reagiu.
Que o caso é bicudo é indiscutível. Que nenhum os animalogantes no momento tem o tempo de se debruçar em profundidade sobre o assunto também. Então, ignora-lo ou dizer algo superficialmente?
Escolho partilhar convosco uma cena que vi recentemente e que não me tem saído da cabeça. No pleno centro do Porto, Rua da Cedofeita, um solarengo sábado de manhã. Um cão de porte médio anda a trela, junto ao dono na parte pedestre da rua, tranquilamente. Uma criança de 2 ou 3 anos caminha igualmente tranquila e bem-disposta, de mão dada com um adulto. Ao ver o cão, a criança solta a mão da pessoa que a acompanha, desata a correr, atira-se para o cão e tenta abraça-lo. Tudo acompanhado de gritos entusiastas por parte da miúda cuja experiencia prévia de cães claramente tinha sido positiva.
Felizmente, tudo que o cão (que ficou visivelmente transtornado) fez foi de recuar e tentar fugir. Mas se se tivesse tentado defender?
Por que não me proponho para adotar um ratinho
"Quem quer adoptar um ratinho?"
O suplemento P3 do Público noticiou esta semana uma iniciativa do Núcleo de Estudantes de Bioquímica da Universidade do Porto, que pretendem dar para adopção murganhos (ratinhos) e ratos saudáveis usados em aulas.
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| Uma iniciativa do Núcleo de Estudantes de Bioquímica da Universidade do Porto |
Ainda que sejam apenas anestesiados sem qualquer outra intervenção, não podem no entanto regressar ao Biotério do ICBAS por razões de segurança. Assim, a solução habitualmente utilizada é eutanasiar os animais findo o seu propósito. Esta medida, embora comum, este ano chocou vários alunos, que empreenderam esforços no sentido de serem autorizados pela universidade a procurarem lares de acolhimento para dez destes animais – que os alunos garantem terem sido tratados com o maior respeito pelo seu bem-estar – como alternativa à eutanásia.
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| Murganhos |
Academicos opinativos – entrevista com Mickey Gjerris
AO: Qual foi a reacção ao teu comentário?
* Mickey Gjerris é professor associado na Universidade de Copenhaga. Com formação inícial em teologia, fez o seu doutoramento em bioética. Hoje desenvolve trabalhos sobre tópicos como alterações climaticas, ética animal, bioética e ética da natureza. É membro do Danish Ethical Council (www.etiskrad.dk), acredita profundamente em tofu fumado, gosta de abraçar arvores e ver as nuvens passar e tem uma relação quase apaixonada com o seu iPhone.
E porque hoje é dia do animal…
Uma série de iniciativas tem lugar hoje por todo o globo, não sendo Portugal a excepção. De entre as actividades organizadas por autarquias, zoológicos e várias associações, destaco a devolução de vários animais ao habitat natural pelo Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Parque Biológico de Gaia.

Clique na imagem para um programa detalhado da libertação de animais selvagens pelo Centro de
Recuperação do Parque Biológico de Gaia
A autarquia de Valongo é uma de várias que hoje dedicam um programa especial para comemorar este dia (clique na imagem para mais informações).
O Centro Veterinário Universitário Vasco da Gama abrirá hoje as suas portas para um dia destinado a várias sessões de aconselhamento veterinário, apelando às Associações de Protecção Animal que se juntem a essa acção (clique na imagem para mais informações).
Memento Mori – Podem os cães ter dignidade?
Prevenção da mordedura canina – Mesa Redonda
No debate estarão os seguintes convidados: Sónia Ramalho – jornalista (moderadora), Gonçalo da Graça Pereira (Presidente da PsiAnimal), Nuno Vieira e Brito (Director Geral de Alimentação e Veterinária), o presidente da Associação de Médicos Veterinários Especialistas em Animais de Companhia, Dra Clara Alves Pereira (Médica Pediatra) e entre outros a confirmar.









