Serão os animais exóticos bons animais de estimação?

Texto escrito por Claudia Correia, Filipa Abreu e Maria da Paz, alunas da PG de Bem-Estar e Comportamento Animal do ISPA

O desejo de adquirir um animal diferente tal como um papagaio, salamandra, cobra, furão ou até mesmo um primata tem vindo a crescer, sendo actualmente considerado uma “moda” com os media a actuarem como um dos principais agentes de influência. O desafio de manter uma espécie exótica, o suposto estatuto social de ter um animal raro ou simplesmente a facilidade na sua obtenção contribuiram para que a comercialização destes animais tenha vindo a aumentar nos últimos anos em todas as partes do Mundo. E não falamos só em comércio legal, pois o tráfico destes animais é o terceiro maior negócio ilícito do planeta.

O tráfico de animais exóticos põe em perigo a biodiversidade do planeta e é uma das principais causas de extinção de espécies, uma vez que provoca uma diminuição da população animal até ao limite crítico para a sua sobrevivência. Estudos indicam que nove em cada dez animais que são vendidos ilegalmente acabam por morrer devido a captura e transporte inadequados e por vezes até cruel (ver figuras). Portugal é um dos países usados como rota, sendo muitos casos detectados pelo ICNB.

No comércio legal, os comerciantes são obrigados a ter um certificado de importação, em animais que não são criados no país, e a reger-se pelas normas dos anexos da CITES. Se por um lado há uns que defendem que a legalização de comerciantes e criadores poderá ser uma medida que contribuirá para a perservação e manutenção das espécies e acabar com o tráfico ilegal, outros acreditam que a melhor solução seria não comprar animais exóticos em qualquer situação e que esta medida é imoral, dando outras opções para combater este crime, por exemplo, apelando à sociedade civil (Do Wild Animals Only Belong In the Wild?).


Fonte: Padrone, J. M. B., 2004. O comercio Ilegal de animais silvestres: avaliação da questão ambiental no estado do Rio de Janeiro. Dissertação de Pos-Graduação.

Mas será correcto o uso destes animais como animais de estimação?
São muitos os futuros donos que ao levarem um animal destes para suas casas não pensam nos riscos e problemas tanto para o animal como para si próprios. Adquirir um destes animais implica alguns riscos inerentes à saude pública, tais como transmissão de doenças e ameaças de ataque ao ser humano tendo em conta que estes animais são selvagens e o seu comportamento será sempre imprevisível. Para além disso, o bem-estar animal pode também ser comprometido se as condições físicas e o maneio não forem adequados. A inexperiência e falta de conhecimento dos compradores levam a situações de má nutrição, stress e solidão, que resultam em problemas graves de saúde, física e comportamental, e mesmo à morte. Muitas vezes por não atingirem as expectativas iniciais dos donos, por serem animais de elevada longevidade ou por atingirem dimensões maiores que inicialmente previstas, estes são doados a instituições ou abandonados, podendo pôr em perigo espécies autóctones.

No entanto, e não referindo apenas aspectos negativos da aquisição deste tipo de animais, as situações acima referidas podem ser minimizadas através do enriquecimento ambiental que consiste em criar um ambiente mais complexo e interativo de modo a estimular os seus comportamentos naturais e aumentar o nivel de bem-estar. Mas se a avaliação do comportamento dos animais é essencial para averiguar o seu bem-estar então quais serão as condições mínimas essenciais para que seja eticamente aceitável ter um animal deste tipo? E será, na vossa opinião, a legalização deste comércio uma solução para o problema?

Reducing animal suffering in nature? Conferência 2 de março

Esta sexta-feira na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o filósofo e blogista Oscar Horta da Universidade de Santiago de Compostela falará sobre o tema Disvalue in the Natural World: Should We Intervene to Reduce Animal Suffering in Nature? (ver resumo abaixo).

2 de Março – 14:30
Sala Mattos Romão, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Entrada Livre – Lotação Limitada

Many people think nonhuman animals live great lives in the wild.
However, this view is wrong. Population dynamics teach us that the
overwhelming majority of the animals that come to existence in nature
die shortly after. Those deaths are often painful. Furthermore, those
who survive often suffer and die from malnutrition, disease,
accidents, harsh weather conditions, fear, etc., or are killed by
predators or parasites. This gives us a strong reason to intervene in
nature to reduce the harms animals suffer. We may reject this if we
think (i) that only human interests count; (ii) that alleged
impersonal values such as environmental ideals count for more than the
interests of sentient beings; or (iii) that intervention in nature
cannot succeed. However, there are powerful arguments to reject all
these claims. If they are right, there is a strong case for
intervention in nature for the sake of nonhuman animals. This also
entails that if the interests of individuals count significantly
beyond what speciesist anthropocentric views assume, we must defend
the interests of nonhuman animals over environmentalist concerns.

Comércio ilegal de animais

Trabalho realizado por:
Tiago Cardão, Francisco Ventura, Carlos Dias e Juliana Pego.
Alunos de Medicina Veterinária, EUVG – Coimbra.

O tráfico de animais tem um impacto significativo sobre a conservação das espécies, colocando em perigo a biodiversidade. Este comércio pode envolver várias espécies de animais, vivos ou mortos, carcaças no seu todo ou apenas a venda de certos fragmentos. Quanto mais raro for o animal, maior o seu valor económico, sendo colocadas em risco as espécies ameaçadas e em risco de extinção. Muitos destes animais acabam por morrer durante o transporte até ao seu destino.

Grande parte dos animais traficados provém de regiões em desenvolvimento (América Latina, Ásia, África e Europa Oriental) sendo os mesmos (ou as suas carcaças) transportados para regiões mais ricas, como a Europa e América do Norte. O mercado negro asiático e africano, em conjunto, colocam em perigo mais de 7 mil espécies selvagens. A Ásia tem um papel de destaque no mercado negro de animais pela extensão, diversidade e peso económico do mesmo (Hong Kong é o centro mundial de compra e venda de peles de várias espécies). Não é também alheio o uso de animais (é o caso do urso), órgãos ou tecidos com fins terapêuticos na Medicina Tradicional Chinesa, estando os seus resultados por vezes relacionados com o tratamento aplicado ao produto animal antes de utilizado pelo consumidor final e sendo perfeitamente substituíveis por componentes sintécticos ou herbais mais eficazes e precisos.


Em África, esse mercado negro fomenta a captura e venda de animais selvagens para alimentação das populações, exportando essencialmente peças decorativas (como peças em marfim do elefante africano), acessórios de moda, produtos para a indústria farmacêutica e cosmética. Verifica-se ainda uma procura crescente de animais exóticos e selvagens como animais de companhia.

Este tipo de mercado exite em vários pontos do globo, não só na China ou em África (em particular na África do Sul), mas também na América do Sul, na Austrália e em vários países europeus. Muitos destes mercados estão relacionados não só com o tráfico de animais, mantendo-se também associados ao comércio internacional de drogas, armas, álcool e pedras preciosas, muitas vezes havendo mesmo rotas cruzadas.

Várias estratégias podem ser aplicadas na luta contra este tráfico de animais, tais como: formação de brigadas anti-caça furtiva; criação de parques e reservas naturais (criando-se assim postos de trabalho com rendimentos melhores, incentivando as populações “praticantes” da caça ilegal ao seu abandono); controlo em aeroportos e portos; inspecção a lojas de animais (para detecção de espécies exóticas que não sejam permitidas comercializar) e campanhas de apelo / alerta junto das comunidades, com principal destaque para o sector turístico, informando os potenciais compradores de artesanato feito à base de animais protegidos sobre a proveniência de tais produtos, bem como dos métodos de abate utilizados, salientando ainda que, ao comprar esses produtos, estariam a compactuar com o comércio ilegal de animais.

Cabe-nos ainda a nós, cidadãos comuns, alertar as entidades competentes para qualquer situação anómala. Contudo, o mercado ilegal de animais e produtos derivados destes continua a criar fortunas e a destruir ecossistemas, levando a que nos interroguemos se estas medidas referidas estão ser verdadeiramente eficazes ou se, pelo contrário, será necessário um controlo mais apertado por parte das entidades competentes? E o que nos garante que muitas vezes este assunto não seja negligenciado por parte dos agentes de fiscalização e controlo ?

Poluição sonora no mar mata cefalópodes?

Há vários registos da ocorrência, em vários pontos do globo, de cefalópodes (como polvos, chocos e lulas) que aparecem mortos no litoral.em grandes números (entre várias dezenas a centenas).

Um trabalho da equipa de investigadores liderada por Michel André, da Universidade Politecnica de Barcelona e publicado recentemente na Frontiers of Ecology and the Environment, sugere uma possível explicação para este fenómeno. Experiências em laboratório mostram que ruidos de baixas frequências com comprimentos de onda semelhantes aos produzidos pela exploração de petróleo, gás e navios, danificam de modo severo e permanente os orgãos de equilíbrio nestes animais, que deixam de se poder mover normalmente, perdendo assim capacidade de caçar e tornando-se também facilmente vítimas de outros predadores.

Fonte: New scientist

A primeira resposta comportamental é a fuga, que rapidamente se converte em imobilização, ficando os animais imóveis no fundo do tanque (chocos) ou a flutuar estaticamente à superfície, sendo de esperar que possa ocorrer um comportamento semelhante no meio ambiente.

Estes dados vêm reforçar a necessidade de regular a produção humana de ruído nos oceanos, uma vez que a poluição sonora – proveniente de navios, extracção de combustíveis fósseis ou exploração eólica – pode afectar de modo significativo os ecossistemas marinhos. É este aspecto que a edição de 16 de Abril da New Scientist destaca no seu editorial, onde consta que Cephalopods may not be as charismatic as whales and dolphins but they are integral to the marine food chain.”  Não é por acaso que os cephalopodos são comparados com estes emblematicos mamíferos marinhos. Entre os invertebrados, os cephalopodos mostram uma capacidade cognitiva extraordinária, com um sistema nervoso bem desenvolvido e um comportamento rico e complexo.

Com base nas suas capacidades cognitivas, os cefalopodes foram recentemente incluidos como os primeiros invertebrados na legislação euroeia que protege os animais usados em experimentação. Mas no mar continuam desprotegidos.

Em que século?

Este post tem pouco a ver com animais mas preciso de expressar a minha perplexidade. Desde sexta-feira passada, a caixa de correio do grupo de investigação tem vindo a encher com publicidade de uma empresa de material de laboratório. Endereçado individualmente a cada um dos membros do grupo, num envelope de A4 e enviado pelo correio. Chegou hoje o decimo-quinto despacho. O valor total só de porte até data é de 9 euros e 72 cêntimos. Mais os custos dos envelopes e da impressão das folhas de publicidade. E isto só a contar os custos directos para a empresa – não os custos de gastos de recursos suportados por todos nós ou pelo planeta, como preferirem.

Pode ser que seja retro, pode ser que a melhor maneira de se diferenciar em 2011 é de enviar publicidade em papel. Mas a única mensagem da empresa que me chega a mim é “retrógrado”.

Contemplo a possibilidade de devolver o quilo de papel à empresa. Na realidade, a despachar tudo directamente no papelão perco uma oportunidade de me juntar à empresa no estímulo a economia nacional. Até porque uma vez que ninguém no grupo gasta o tipo de material anunciado não há outra maneira de contribuir. 

No entanto, deixo aqui uma sugestão: a próxima vez enviem-nos o dinheiro directamente. Comprometo-me a gasta-lo bem e em produtos nacionais.

Nagoya virá a tempo de salvar o Macaco Constipado?

Credit: Thomas Geissmann

O Ano Internacional da Biodiversidade tem sido pródigo em notícias sobre a extraordinária riqueza de vida na Terra. Uma expedição recente à Papua e Nova Guiné, por exemplo, levou à identificação de cerca de 200 espécies, entre animais e vegetais, nunca antes vistas. A comunicação social tem estado particularmente atenta à descoberta de novas espécies, em especial daquelas mais exóticas e bizarras. Insectos e anfíbios são vistosos mas pouco mediáticos ao passo que novos mamíferos são raros e normalmente diminutos. Mas não é todos os dias que se anuncia uma nova espécie de primata!

Uma equipa internacional publicou um estudo na revista American Journal of Primatology onde dá conta da descoberta de um bizarro macaco sem nariz e que, segundo relatos das polulações locais, espirra sempre que chove. O Rhinopithecus strykeri vive nas florestas do Nordeste de Myanmar (antiga Birmânia), mas nunca foi avistado vivo por cientistas e por isso a imagem acima foi criada em computador. A população deve rondar os 300 indivíduos, o que a coloca, desde já, como uma das espécies mais ameaçadas do planeta.

Por estes dias, em Nagoya, no Japão, Ministros de 179 países aprovaram um novo plano global para travar a perda de biodiversidade do planeta. Se bem se lembram, o anterior objectivo da Convenção sobre Diversidade Biológica (2002) de alcançar, até 2010, uma redução significativa do actual ritmo de perda de biodiversidade resultou num rotundo fracasso. Os objectivos eram irrealistas, mal concertados e não pareciam contar com o simples facto de que os países mais ricos em termos de biodiversidade serem, também, dos mais pobres do planeta. Com tudo isto, o ritmo em vez de diminuir, aumentou.

Passados oito anos, a CDB parece ter introduzido novos factores na equação que podem augurar um futuro menos negro para a vida na Terra, nomeadamente o compromisso de aumentar a percentagem de áreas protegidas – um dos poucos mecanismos que tem provado ser eficiente na protecção de ecossistemas – e a partilha dos lucros gerados pelo uso de recursos genéticos com os países de origem. Mas tenho dúvidas que medidas como estas sejam suficientes. A meu ver, o combate à perda de biodiversidade deve ser encarado como uma faceta do combate maior à pobreza e à exclusão social, capítulo sobre o qual os intervenientes da CDB não têm qualquer poder. E assim uma pergunta subsite: pode ainda uma conferência no Japão ajudar um macaco em Myanmar?

Conferência Conservação de Vertebrados Terrestres Ameaçados

O dia 24 de Setembro conta com mais uma iniciativa na área da protecção ambiental. Depois da Anna Olsson ter dado conta de um Colóquio sobre Educação e Ética Ambiental na FPCE – Universidade do Porto, eis que no mesmo dia decorre na Universidade de Évora a Conferência “Conservação de Vertebrados Terrestres Ameaçados em Portugal: Situação Actual e Perspectivas”.

As inscrições deverão ser efectuadas até ao dia 10 de Setembro de 2010. O secretariado do Seminário é garantido pela Naturlink e os respectivos contactos são os seguintes:

Naturlink
Rua Robalo Gouveia, 1-1º A
1900-392 Lisboa
Telefone: 217991100
Fax: 217991119
E-mail: naturlink@naturlink.pt

Ética e Educação Ambiental – Colóquio no Porto

I Colóquio sobre Educação e Ética Ambiental
24 de Setembro de 2010
Porto, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

Programa
9.00 h Recepção dos participantes
9.30 h Abertura do colóquio
10.00 h Da etologia à ética: fundamentos bio-culturais dos valores ambientais por Professora Doutora Marina Lencastre
10.30 h Menos teoria e mais prática nas actividades de Educação Ambiental por Professor Doutor Paulo Santos
11.00 h Debate
11.30 h Será possível educar para a ética ambiental? – a ética da terra de Aldo Leopold, o sentido do maravilhamento em Rachel Carson e o movimento criança na natureza, de Richard Louv por José Carlos Marques
12.00 h O poder educativo da Natureza nas teorias pedagógicas (séc. XVII-XX) por Professora Doutora Margarida Felgueiras
12.30 h Debate
13.00 h Intervalo para almoço
15.00 h As causas e as consequências: como a Filosofia para Crianças se cruza com a ética ambiental por Professora Doutora Teresa Santos
15.30 h Animais, ciência e tecnologia: a questão ética por Professora Doutora Anna Olsson
16.00 h Debate
16.30 h Ética Animal e a expansão do círculo moral: porquê só os animais e não a natureza em geral? por Mestre Ana Lúcia Cruz
17.00 h Protecção dos animais em Portugal: percurso associativo por Mestre Alexandra Amaro
17.30 h Debate
18.00 h Encerramento do colóquio

Entrada livre com inscrição obrigatória para o email pdce08002@fpce.up.pt até 15 de Setembro de 2010.

Um colega no blogosfera

Paul Brain, nome classico na etologia de roedores, mantem o Professor P Brain’s blog cujo objectivo é de “help students and others explore some of the ‘hidden’ issues involved in some media treatments of environmental and scientific issues”. Tem os pes bem assentos no solo do sul de País do Gales e muitas fotografias. Recomenda-se!