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Meat is murder?
“Meat Is Murder” – dizem alguns amigos dos animais mais radicais. Terão eles aqui um argumento válido? Será eticamente aceitável matar animais só porque gostamos de comer carne? Esta questão irá provavelmente fazer com que algumas pessoas se engasguem com o seu bife, costeletas ou perna de frango.
As três últimas respostas, na minha opinião, conjugam-se para justificar como pode ser eticamente aceitável matar animais sem que isso torne, por sua vez, aceitável o assassínio premeditado de pessoas. Esse raciocínio tem seu preço. A tradicional distinção entre o animal, que existe para nós, e seres humanos, cuja vida é em princípio inviolável, já não é credível. A diferença na avaliação ética de matar, respectivamente, animais e pessoas, baseia-se em equilibrar as consequências e não em diferenças principais.
Também é importante notar que pode haver outras perspectivas éticas sobre a morte de animais do que aquelas aqui apresentadas. Alguns, por exemplo, argumentam que os animais superiores têm direito à vida e, portanto, é nosso dever viver como vegetarianos (ou melhor dizendo, vegans) e deixar os animais continuarem a viver suas próprias vidas até que morram de morte natural. Esta ética dos direitos dos animais estará em forte contraste com a nossa cultura, onde comer e utilizar os animais é algo profundamente enraizado. Mas isso não faz com que essa visão esteja errada. Já foi também um valor profundamente enraizado na nossa sociedade que os homens tinham mais direitos que as mulheres. Isso não significa que os primeiros defensores da igualdade das mulheres estivessem errados. Estavam apenas a lutar contra poderes muito fortes.
A declaração de Basileia – informação, debate e transparência contra a intolerância
A 29 de Novembro, e em resposta aos actos de violência por parte de grupos extremistas defensores dos direitos dos animais, juntaram-se em Basileia 50 cientistas de topo alemães e suíços para redigir e assinar a Declaração de Basileia, recentemente em destaque na Nature News.
A mesma fundamenta-se na importância que a informação transparente e pormenorizada pode ter no esclarecimento da opinião pública acerca do uso de animais em biomedicina. No seu preâmbulo, faz-se uma pequena resenha dos argumentos que, no seu entender, justificam o uso actual de animais para dar resposta a problemas emergentes da saúde humana e de outros animais.
Os signatários comprometem-se, entre outras coisas, a apenas usar animais quando estritamente justificado, no menor número possível e de acordo com as mais escrupulosas medidas de preservação do bem-estar animal e do ambiente, fazendo ainda esforços na promoção do entendimento da ciência por parte do público e da classe política.
É também devidamente vincado que a educação científica nas escolas, bem a informação dos media e a promoção de um debate informado são da maior importância, que não é possível separar investigação básica da aplicada, que o uso de animais em biomedicina não deva ser travado, que novas leis e regulações sejam promulgadas como resultado de um entendimento objectivo, democrático e factual e que condenem quem a pretexto dos direitos dos animais transgride a lei e promove actos de violência.
Todos os cientistas cujo trabalho se relaciona de alguma maneira com o mundo animal são convidados a subscrever esta declaração (instruções aqui).
Diferentes culturas, diferentes éticas?
Texto escrito por Bárbara Oliveira, Fátima Sousa, Irina Pereira e Raquel Matos, alunos do curso de Pós-Graduação em Bem-Estar Animal, ISPA
Ao comentarmos esta questão somos levados a pensar que o seu conteúdo está intrinsecamente associado às diferenças culturais dos povos e, como tal, podemos inferir que os valores éticos também podem mudar com as variações culturais. Esta pergunta reveste-se de um conteúdo gigantesco quando pensamos nas várias escolhas alimentares de diferentes civilizações.
Analisemos a situação sobejamente conhecida do uso de cães e gatos na alimentação dos povos asiáticos. Do ponto de vista ocidental, a ideia de comer animais domésticos, como o cão e o gato, com os quais (tradicionalmente) se criaram fortes laços afectivos, origina repulsa e, em muitos casos, indignação, uma vez que não são percepcionados como alimento. Estas espécies, como seres sencientes que são, poderiam ser alvo do mesmo “tratamento” que as espécies pecuárias sem originar grande controvérsia, não fossem as relações emocionais que os entrelaçam com os humanos.
Noutra perspectiva, e colocando de parte qualquer teoria relacional, será muito diferente o consumo de carne canina ou felina do consumo de qualquer outra carne? Até que ponto a moralidade de alguém ou algum povo pode ser posta em causa pelo tipo de carne que consome? Onde se enquadra, por exemplo, o consumo de carne de cavalo nesta escala?
Tal como no Ocidente as pessoas podem ficar chocadas pela maneira como os cães são tratados nas culturas orientais, onde são utilizados como fonte de alimento, levando-nos a pensar que ética e que moralidade terão esses povos, questionamos o que pensarão os habitantes da Índia sobre as civilizações ocidentais, onde os bovinos são tratados sob controlo humano, para depois servirem de alimento, enquanto, que para eles são considerados animais sagrados?
Face a esta reflexão, questionamos – diferentes culturas, diferentes éticas? Não, entendemos que não. A ética, como princípio filosófico, é a mesma. A aplicação prática desta é que difere de cultura para cultura. A moralidade impressa a todos os “actos” com animais é divergente, e isso sim, depende da cultura dos vários povos. Talvez a grande questão se coloque não no tipo de carne consumida, mas as condições em que estes animais são mantidos e abatidos.
Experimentação animal no século XXI: Necessidade ou Capricho? – O debate possível ( parte 1)
Antes de mais, peço desculpa pela extemporaneidade deste post, que diz respeito ao debate que ocorreu na FEUP a 26 de Novembro a propósito das II Jornadas de Bioengenharia e subordinado ao tema em epígrafe.
A convite dos alunos de Bioengenharia, fui moderador deste debate, que contou com as apresentações da Prof. Fátima Gartner (ICBAS/IPATIMUP) e de Rita Silva, Presidente da Direcção da Associação Animal.
A apresentação da prof. Fátima foi, fundamentalmente, uma apologia àquilo que entendeu ser a actual necessidade imperiosa do uso de animais como modelos em investigação básica e aplicada, como garante da eficácia e segurança das terapias e outras intervenções usadas em contexto clínico e veterinário. Uma das questões mais focadas foi a da Responsabilidade – que salientou ser o “quarto R” da experimentação animal – dos investigadores no uso de animais. Assim, frisou ser o dever de qualquer investigador responsável o de apenas usar animais quando absolutamente inevitável, no menor número possível e com a maior atenção para o seu bem-estar. Outro tópico que destacou foi o uso em investigação de modelos espontâneos de doenças em animais de companhia que chegam às clínicas veterinárias.
Da parte de Rita Silva, foi feita essencialmente uma oposição ao uso de animais no plano ético. Assim, independentemente de quaisquer outros factores, o uso de animais não deveria ser sequer equacionado como uma possibilidade, tendo afiançado – ainda que sem especificar – a existência de alternativas ao uso de animais sencientes, aqueles que, efectivamente, deveriam ser protegidos do sofrimento. Ainda que sem desenvolver em concreto a que se referia, foram ainda apontados “os dramas e horrores do passado” atribuíveis à alegada falta de validade do uso de animais como modelos de seres humanos e o facto do uso de animais apenas ser praticado devido à existência de grandes interesses económicos detrás dos mesmos.
Aparte a enorme diferença de posturas, houve também uma grande diferença de estilos. Ao contrário do que estava à espera, a participação mais entusiasta e emocionada partiu da Prof. Fátima, que não se coibiu de lançar desafios à plateia (“quem tomaria uma droga ou vacina não testada? Ou a daria ao seu animal?”), que prontamente aderiu e corroborou em massa o que pretendia demonstrar. Outra diferença a assinalar foi que a Prof. Fátima falou a título individual e com base na sua experiência de décadas como investigadora, enquanto que a Rita foi porta-voz da posição oficial da Animal, não se desviando da mesma.
No geral, o debate correu com elevação e respeito de parte-a-parte, algo que temia poder não acontecer, uma vez que tinha já tido a má experiência do debate no Clube Literário do Porto, que foi absolutamente kafkiana, nomeadamente ao nível das reacções inflamadas do auditório (mas não dos oradores), onde termos como “sadismo”, “tortura” e “mentira” foram apontados ao trabalho de cientistas que dedicam os seus esforços à melhoria da saúde e qualidade de vida dos seres humanos. Tal não foi o caso, contudo.
Ambas as convidadas deram a conhecer a sua diferente visão de um mesmo fenómeno – o uso de animais como modelos em investigação biomédica – cada uma de algum modo influenciada pela subjectividade da sua própria experiência e sensibilidade. Mas isto fica para a segunda parte…
Experimentação animal pre-eutanásia: Parte 3
Experimentação animal pre-eutanásia: Parte 2
(ver Parte 1)
Qual é o mal de experimentar num ser-vivo saudável?
Experimentação animal pre-eutanásia: Parte 1
Em termos de sofrimento, parece claro que não vão existir implicações. Experimentar num cadáver, não vai alterar o seu bem-estar, pois, depois da morte, no corpo deixa de existir a capacidade de sentir prazer ou sofrimento, tanto quanto nos é possível inferir.
Experimentação animal pré-eutanásia
Alternatives to animal use – part 6
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| Images borrowed from the EPAA website |
Typing and listening at the same time, I understood the first of these recommendations (which reads “keeping Replacement as the ultimate goal”) as “skipping Replacement as the ultimate goal”. I found this really interesting, definitively daring but rather coherent with Richard Fosse’s lecture. So, when the time for post-lecture questions came, I took the chance to ask more or less the following:


