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Inovações na medição e avaliação de bem-estar animal: ecos do meeting NC3Rs/BBSRC
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| Duas sociedades científicas colaborando em prol do bem-estar de animais usados em ciência. |
A conferência teve organização conjunta com a BBSRC, a principal agência financiadora de investigação biomédica fundamental e aplicada no Reino Unido, e que através da NC3Rs apoia projectos de investigação em saúde e bem-estar animal. Esta conferência destinou-se assim a apresentar o progresso de estudos em curso promovidos pelas duas entidades financiadoras nesta área, tendo assim sido primariamente focada em Refinement, em detrimento dos outros Rs. Um conjunto de prestigiados investigadores da área estiveram assim presentes, dos quais destaco Marian Dawkins, Mike Mendl, Jane Hurst e Georgia Mason.
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| Tiveram destaque nos estudos financiados pelo NC3Rs os roedores, peixes e primatas não-humanos |
Acho pertinente começar pela própria natureza das instituições organizadoras. A BBSRC tem uma dotação anual de cerca de 600 milhões de Euros para financiar projectos e bolsas de investigação (já por si superior aos 400 milhões da FCT, practicamente a única fonte de financiamento público da ciência em Portugal), num país onde dezenas de outras agências públicas e privadas financiam investigação biomédica, para não falar do avultado investimento da indústria. O orçamento para o bem-estar animal é contudo, e compreensivelmente, uma pequena fracção do total (cerca de 7 milhões de euros).
Já o NC3Rs não têm paralelo em qualquer parte do mundo. Apesar de haver vários centros para os 3Rs no mundo industrializado – e em particular na Europa – nenhum deles tem a dimensão, o nível de financiamento e o alcance desta agência britânica, que deve mesmo a sua existência à própria iniciativa do governo, o que até nem é de estranhar num país com tão grande tradição na protecção dos animais usados para fins científicos, e de onde o conceito dos 3Rs é originário.
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| Os estudos financiados pelo BBSRC focavam-se mais na saúde e bem-estar de animais de produção |
O orçamento anual do NC3Rs é de cerca de 10 milhões de Euros, e é responsável actualmente por alguns dos principais avanços científicos nos 3Rs. A ciência é aliás, o foco principal desta organização, cuja política se centra em promover uma ciência mais humana, mas também mais fidedigna e com maior valor translacional (i.e., com maior e mais directo benefício para as medicinas humana e veterinária). E foi exactamente essa a imagem que me veiculou Mark Prescott, numa breve reunião informal (a propósito de um projecto de promoção dos 3Rs para Portugal, ainda numa fase muito embrionária) onde fez questão de salientar a primazia dada à ciência e o enquadramento da actividade do NC3Rs no progresso científico, não só como políticas centrais da organização, mas também como o seu principal cartão de visita.
- O destaque dado ao bem-estar de espécies emergentes como modelos em investigação biomédica, nomeadamente os peixes, para os quais muito há ainda a fazer ao nível do seu bem-estar.
- O recurso a novas tecnologias como instrumentos de eleição na medição e avaliação de bem-estar animal
- A apresentação da Animal Welfare Research Network, uma rede que integrará os investigadores em saúde e bem-estar animal do Reino Unido, e que será financiada pela BBSRC.
O progresso científico em Portugal nos últimos vinte anos é absolutamente surpreendente, mas falta igual evolução na consideração dada à importância da saúde e bem-estar dos animais, sejam eles os de laboratório ou quaisquer outros.
Portugueses investigando em bem-estar animal – Kelly Gouveia
No meu projecto de doutoramento estudei formas práticas de reduzir o stress associado ao manuseamento, em ratinhos de laboratório. O stress associado ao manuseamento constitui um problema de bem-estar e pode induzir variação nos resultados experimentais. Animais de laboratório necessitam constantemente de ser manuseados, quer seja para efeitos de limpeza, simples inspecções diárias ou para fins experimentais. Dado que o ratinho é a espécie laboratorial mais usada neste momento, isto pode ter implicações para muitos milhões de animais utilizados em ciência mundialmente. Embora o método mais comum de manusear ratinhos seja levantá-los pela cauda, uma publicação relativamente recente (Hurst & West, 2010) demonstrou que este método induz aversão ao manuseamento e ansiedade, contrariamente a dois métodos alternativos: guiar o animal para dentro de um túnel presente na jaula ou usar a técnica da mão aberta em que o animal e apanhado com a mão aberta e segurado na palma da mão (hand cupping). Curso de delineamento experimental e estatística para estudos com animais
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| Melhorar as experiências E diminuir o número de animais. Não só é possível como é um imperativo de ordem ética e científica. |
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| A FRAME tem uma abordagem científica como um dos seus princípios basilares. |
Mais informações aqui.
A "Ilha do Dr. Moreau" é um laboratório na Universidade de Rochester?
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| Crédito da imagem: Scientific American (Fonte) |
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| Ilustração representativa de células gliais (fonte) |
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| Representação artística de um oligodendrócito revestindo axónios com baínhas de mielina.(fonte) |
É de salientar que num estudo paralelo a este transplantaram estas células para ratinhos neonatos com uma deficiência na produção de mielina. Neste caso, as células humanas diferenciaram-se em oligodendrócitos, especialistas no envolvimento dos axónios neuronais com camadas de mielina. De alguma maneira, as células reconheceram o defeito e procuraram compensá-lo, sendo ainda mais surpreendentemente se considerarmos que fizeram no cérebro de um animal de outra espécie! Isto abre possibilidades para o tratamento de doenças como a esclerose múltipla, sendo que esta equipa já pediu autorização para conduzir ensaios clínicos para testar se o recurso a esta biotecnologia pode ajudar no tratamento desta doença.
Devemos assim questionar se existem limites para o que se poderá fazer neste domínio, independentemente da nossa capacidade técnica para o fazer? Poderá estar de alguma maneira em risco a dignidade humana? E a dignidade do animal?
"E se os animais do Biotério entrassem em greve?"
Segundo a companhia, não se pretende retratar o quotidiano do investigador, mas antes “reflectir sobre as expectativas e alguns dos estereótipos que o grande público parece partilhar em torno do que é a prática do cientista.” Segundo os criadores, pretende-se ainda celebrar algumas características que acreditam serem comuns a artistas e cientistas: “a persistência, o sacrifício, a paixão, a constante dúvida e o permanente desejo de perceber e ajudar a melhorar o humano.”
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| Crédito da foto: Susana Neves. Fonte. |
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| Crédito da foto: Susana Neves. Fonte. |
"I don’t like you" – Jane Goodall e John Oliver
Uma peça despretensiosa, interessante, didática e cativante como a comunicação de ciência deverá ser. Uns cinco minutos bem passados.
II Congresso Internacional de Medicina de Asininos
Estudos com animais em destaque nos Prémios (Ig)Nobel 2014
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| Fonte: Hart et al |
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| Ao que parece, não é só o Grumpy Cat que fica de mau humor… |
| Uma das imagens bem-humoradas apresentadas pelos autores na cerimónia de atribuição dos prémios, em Boston. |
O Burro-de-Miranda – uma visita à sede da AEPGA em Miranda do Douro
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| Burriquitos nascidos este ano. Todos baptizados com nomes começando por “J” (para o ano será com “L”, e por aí adiante) (Foto: Nuno Franco) |
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| O “Lourenço”, de oito anos, um belíssimo exemplar da raça. (Foto: NF) |
– Pelagem comprida, grossa, de cor castanha
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| Os burros até nem gostam muito que lhes mexam nas orelhas, mas este nem se queixou… (Foto:NF) |
São animais de temperamento muito dócil, ainda que apenas machos castrados e fêmeas sejam utilizados nos passeios (a associação dispõe de 6 garanhões, não castrados, para reprodução). Quer os juvenis quer os adultos com quem contactei procuravam activamente a presença e os mimos dos visitantes, tornando muito difícil não nos afeiçoarmos a estes animais.
A longevidade dos animais de trabalho é de cerca de 30 anos, mas prevê-se que os animais que se encontram nas instalações da AEPGA possam chegar aos 40 anos de idade.
A associação conta com dois médicos veterinários a tempo inteiro, que se encarregam da monitorização dos animais da associação, mas que também fazem acompanhamento veterinário de outros burros na região, por um valor simbólico, dada a idade e perfil sócio-económico da maioria dos proprietários de gado asinino na região.
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| Nada é deixado ao acaso pela equipa veterinária da AEPGA, como se pode constatar neste quadro. (Foto: NF) |
Já o passeio em si, foi uma experiência muito positiva e didáctica. Toda a família adorou e eu confesso que me apaixonei por estes belos animais. Partilho com os animalogantes alguns destes momentos passados em Atenor na companhia dos Burros-de-Miranda, aproveitando ainda para recomendar esta experiência a todos que gostem de animais, de contacto com a natureza e de aventura.




















