Experimentação animal pre-eutanásia: Parte 3

Por Joel Ferraz, médico veterinário e Mestre em bioética
(Ver Parte 1 e Parte 2)

Qual é o mal de experimentar num ser-vivo prestes a ser eutanasiado?
Quanto ao bem-estar, em princípio não haverá tanto comprometimento como na hipótese anterior, já que, pelo menos, não haverá sofrimento continuado, como no caso do pós-operatório, ou de experiências repetidas.
O valor da vida não é também ameaçado pelo procedimento em si, pois a eutanásia encontra-se eminente independentemente da experimentação.
Relativamente à dignidade do ser-vivo, continuamos numa zona cinzenta. Provavelmente, neste caso, a dignidade será implicada num grau intermédio, quando comparado com as duas situações anteriores.
E então, onde ficamos?
De uma forma resumida, penso que a experimentação num ser-vivo que está prestes a ser eutanasiado, pode ter menos implicações no bem-estar e na vida, quando comparada com a experimentação num ser-vivo saudável, mesmo que este tenha sido concebido para a experimentação. Por sua vez, a utilização de cadáveres acarreta ainda menos possibilidades de comprometer o ser-vivo, julgando por estes três valores em jogo no nosso tabuleiro.
Para finalizar, gostaria de ressalvar a existência de muitos outros factores e valores que devem ser atendidos e bem pesados, para uma mais útil discussão sobre esta matéria, factores e valores que não são vislumbrados pelo objectivo deste texto. Exemplo disso é o benefício da experimentação, na forma de resultados, para a Ciência, para a humanidade, para o indivíduo, podendo incluir também o ser-vivo utilizado na experiência. Outro exemplo é o impacto social que a instrumentalização poderá ter, no aumento ou diminuição do respeito pela vida. Outro, ainda, é a incapacidade parcial de um cadáver em simular as condições em vida; ou de um animal que vai ser eutanasiado em oferecer certos resultados a longo prazo. Mais, a necessidade de no caso de investigação científica os indivíduos testados apresentarem-se normalizados, não implicando desvios nos resultados, e não ameaçando a segurança e a sanidade da equipa em experimentação.
Para finalizar mesmo, proponho que se questione se a utilização de um animal de rua que vai ser eutanasiado, não poderá ser incluída num dos 3 R´s propostos para melhorar o uso de animais na experimentação científica e, para melhor rigor, em qual deles: Refinement, Replacement ou Reduction.

Experimentação animal pre-eutanásia: Parte 2

Por Joel Ferraz, médico veterinário e Mestre em bioética

(ver Parte 1)

Qual é o mal de experimentar num ser-vivo saudável?


Poderemos afirmar que não existirá sofrimento inerente ao uso para experimentação? Mesmo que o ser-vivo seja criado e mantido para esse fim, em condições unanimemente consideradas apropriadas, pode advir sofrimento da experiência, nomeadamente, e especificando, para experimentar técnicas cirúrgicas, e respeitando os protocolos ideais, vai existir um distúrbio inevitável no bem-estar, pelo menos, pós-operatório (dor, enjoo, confusão mental). Parece-me que o bem-estar será comprometido na experimentação, independentemente de o ser de uma forma significativamente importante, independentemente de ser ou não justificável, pelo acrescento que trará à Ciência.

Relativamente à vida, ela poderá estar mais ou menos ameaçada, dependendo muito do que é experimentado, de que forma, do número de vezes, ou por quem é praticada a experiência.

Quanto à dignidade, continuará a existir pouca clareza, mas parece-me que a implicação da instrumentalização no bem-estar e na protecção da vida, torna esta questão mais inclinada para um dos lados: talvez a dignidade do ser-vivo esteja a ser mais lesada, se a experiência implicar uma ameaça ao seu bem-estar e à sua vida, independentemente de o ser de uma forma significativamente importante, independentemente de ser ou não justificável, pelo acrescento que trará em termos de conhecimentos ganhos. (continua)

Experimentação animal pre-eutanásia: Parte 1

Por Joel Ferraz, médico veterinário e Mestre em bioética
Este post devia se calhar antes ter o cabeçalho Experimentação animal peri-eutanasia (proximo da eutanasia), porque a pergunta que aborda é:
Qual é o mal de experimentar num cadáver?

Em termos de sofrimento, parece claro que não vão existir implicações. Experimentar num cadáver, não vai alterar o seu bem-estar, pois, depois da morte, no corpo deixa de existir a capacidade de sentir prazer ou sofrimento, tanto quanto nos é possível inferir.

Quanto à vida, deixa de haver constrangimento, porque ela já não existe. Já não há risco ou possibilidade de se ameaçar esse valor.
E quanto à dignidade do ser? Aqui as opiniões vão estar sujeitas a muitos outros factores, nomeadamente, do que se entende por dignidade, em que medida ela existe num ser-vivo morto (e, se sim, se é no corpo que ela continua a existir, ou se é noutro sítio diferente), do que se vai experimentar, de que forma e por quem vai ser feita a experiência, entre outros. A dignidade de um ser pode ser posta em causa quando ele está a ser instrumentalizado, independentemente do seu bem-estar e da sua vida? A instrumentalização de um cadáver, para o bem de outros sujeitos, pode ferir a sua dignidade? Aparentemente, esta questão da dignidade trará muitas voltas, menos consentâneas que a questão do sofrimento e da questão da vida. (continua)

Experimentação animal pré-eutanásia

Em 3 mensagens (Parte 1, Parte 2, Parte 3) segue uma reflexão do médico veterinário e mestre em bioética Joel Ferraz sobre o problema ético de experimentação em animais, visto na perspectiva da recente debate sobre o uso no ensino veterinário de animais vindos do canil municipal.
O termo experimentação é algo ambíguo no contexto, e na minha ligeira revisão dos posts optei por manter esta ambiguidade. Pode por um lado tratar-se de uma experiência científica em que se procura saber algo que ninguém sabe. Mas pode também se tratar de um aluno que experimenta técnicas que para ele são novas, embora já são conhecidas e descritas por outros.
Esta observação é relevante porque como temos visto em discussões anteriores, é explicitamente proibido (Directiva 86/609/CEE, transposta pelo Decreto-Lei 129/92, de 6 de Julho 1992) usar cães e gatos vadios na experimentação científica, mas a lei não é clara sobre o seu uso no ensino. No entanto, como já se reflectiu aqui varias vezes, nem todos os actos legais são moralmente indiscutíveis. Mais, um acto pode ser ilegal apesar de ser de muitas perspectivas moralmente correcto.

CAROdog


O portal carodog apresenta-se como uma ferramenta electrónica educativa que visa promover a detenção responsável de animais de companha (no caso, cães). Foi criado pela Comissão Europeia, em colaboração com a FVE, a organização zoófila Four Paws e o Istituto “G. Caporale”, Teramo, Itália.
O carodog pretende reunir no mesmo espaço informação relevante sobre a problemática dos cães vádios, errantes ou assilvestrados, de modo a procurar soluções que conciliem a protecção do bem-estar animal e da saúde pública.

Ao mesmo tempo que o carodog foi apresentado, a FAO abriu no site Gateway for Animal Welfare uma consulta pública sobre medidas de gestão e controlo de populações caninas, aberta a todos aqueles que queiram partilhar experiências e apresentar soluções para um problema global. Embora a data limite apresentada seja 8 de Outubro, soube de fonte segura que a consulta vai permanecer aberta devido à grande e relevante participação. Contribua!

Conferência Conservação de Vertebrados Terrestres Ameaçados

O dia 24 de Setembro conta com mais uma iniciativa na área da protecção ambiental. Depois da Anna Olsson ter dado conta de um Colóquio sobre Educação e Ética Ambiental na FPCE – Universidade do Porto, eis que no mesmo dia decorre na Universidade de Évora a Conferência “Conservação de Vertebrados Terrestres Ameaçados em Portugal: Situação Actual e Perspectivas”.

As inscrições deverão ser efectuadas até ao dia 10 de Setembro de 2010. O secretariado do Seminário é garantido pela Naturlink e os respectivos contactos são os seguintes:

Naturlink
Rua Robalo Gouveia, 1-1º A
1900-392 Lisboa
Telefone: 217991100
Fax: 217991119
E-mail: naturlink@naturlink.pt

Ética e Educação Ambiental – Colóquio no Porto

I Colóquio sobre Educação e Ética Ambiental
24 de Setembro de 2010
Porto, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

Programa
9.00 h Recepção dos participantes
9.30 h Abertura do colóquio
10.00 h Da etologia à ética: fundamentos bio-culturais dos valores ambientais por Professora Doutora Marina Lencastre
10.30 h Menos teoria e mais prática nas actividades de Educação Ambiental por Professor Doutor Paulo Santos
11.00 h Debate
11.30 h Será possível educar para a ética ambiental? – a ética da terra de Aldo Leopold, o sentido do maravilhamento em Rachel Carson e o movimento criança na natureza, de Richard Louv por José Carlos Marques
12.00 h O poder educativo da Natureza nas teorias pedagógicas (séc. XVII-XX) por Professora Doutora Margarida Felgueiras
12.30 h Debate
13.00 h Intervalo para almoço
15.00 h As causas e as consequências: como a Filosofia para Crianças se cruza com a ética ambiental por Professora Doutora Teresa Santos
15.30 h Animais, ciência e tecnologia: a questão ética por Professora Doutora Anna Olsson
16.00 h Debate
16.30 h Ética Animal e a expansão do círculo moral: porquê só os animais e não a natureza em geral? por Mestre Ana Lúcia Cruz
17.00 h Protecção dos animais em Portugal: percurso associativo por Mestre Alexandra Amaro
17.30 h Debate
18.00 h Encerramento do colóquio

Entrada livre com inscrição obrigatória para o email pdce08002@fpce.up.pt até 15 de Setembro de 2010.

Um colega no blogosfera

Paul Brain, nome classico na etologia de roedores, mantem o Professor P Brain’s blog cujo objectivo é de “help students and others explore some of the ‘hidden’ issues involved in some media treatments of environmental and scientific issues”. Tem os pes bem assentos no solo do sul de País do Gales e muitas fotografias. Recomenda-se!

Guide for the Care and Use of Agricultural Animals in Research and Teaching

A Federação das Sociedades de Ciência Animal (FASS, em inglês) editou a terceira edição do Guide for the Care and Use of Agricultural Animals in Research and Teaching. A versão electrónica do guia está disponível para download gratuito. Trata-se de uma ferramenta muito útil e transversal para todos aqueles que trabalham em ciência de animais de produção: bovinos de leite e de carne, cavalos e aves, pequenos ruminantes e suínos. Os capítulos são sintéticos mas condensam informação útil, não só para veterinários e cientistas, mas também para os produtores e responsáveis pelas explorações pecuárias.

Anfíbios: Uma Pata na Água, outra na Terra

Os anfíbios são animais desconhecidos e geralmente mal-amados. Para contrariar esta visão, propõe-se a exploração, de forma lúdica e interactiva, das características mais espantosas destes animais ameaçados. Nesta exposição, encontrar-se-ão rãs, salamandras, sapos e tritões de Portugal em aquaterrários que recriam os seus habitats naturais, juntamente com imagens de alguns dos melhores fotógrafos de natureza ibéricos, que permitirão observar a sua beleza e impressionante diversidade de cores, formas e comportamentos.

Saiba mais.