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Quais os limites para o uso de animais no turismo ?
1. Práticas inaceitáveis em atrações turísticas com animais de cativeiro
• Exibir animais em restaurantes ou espaços de entretenimento, envolvendo más práticas.
• Criação ou comércio de animais em Santuários ou Orfanatos.
• Animais usados como adereços fotográficos, envolvendo más práticas.
• Atuações de animais, tendo por base comportamentos não-naturais e espectáculos onde os métodos de treino comprometem o bem-estar.
• Passeios de elefante e outras atividades que envolvem interação direta com elefantes.
• Caça de troféu.
• Polo com elefantes.
• Passeios de avestruz.
• Parques zoológicos não licenciados.
• Cirurgia ou modificação física da pele, tecidos, dentes ou ossos de um animal,
excepto para fins terapêuticos.
• Formas de eutanásia que não cumpram com as melhores práticas.
2. Práticas inaceitáveis envolvendo animais em eventos e atividades culturais
• Animais utilizados para mendigar (e.g.ursos dançarinos, serpentes encantadas ou primatas).
• Lutas com Ursos (Bear baiting).
• Indústria de bílis de urso.
• Poços para Ursos.
• Corridas e largadas de Touros.
• Lutas de galos.
• Criação de répteis, envolvendo más práticas.
• Lutas de crocodilos.
• Criação de tigres.
• Cirurgia ou modificação física da pele, tecidos, dentes ou ossos de um animal,
excepto para fins terapêuticos.
3. Práticas inaceitáveis em atividades turísticas com animais no meio natural
• Recolha não regulamentada de animais e plantas silvestres.
• Contacto direto e alimentação de animais.silvestres.
• Interação física com baleias selvagens e golfinhos iniciada por humanos.
• Passear leões, tigres ou quaisquer outros gatos selvagens.
• Comércio e venda de produtos de animais selvagens em perigo de extinção.
• Caça de Troféu.
• O uso de animais selvagens como adereços fotográficos sob qualquer forma, tais como selfies.
Nuno Franco em documentário na RTP
Porque é o presépio vivo mais ético do que o circo?
Tempo então de palhaços, acrobatas, cavalos e…tigres! Infelizmente, ainda é comum encontrarmos estes últimos nos circos portugueses, ao contrário de Inglaterra, por exemplo, onde a partir deste ano os circos estão proibidos de incluir animais de espécies selvagens nos espetáculos.
E as suas características são também mais compatíveis com as condições de alojamento e maneio que podemos oferecer. Se viramos esta questão ao contrário e perguntamos quais os animais mais mal adaptados para uma vida em cativeiro, a resposta clássica é: os grandes carnívoros. São os animais que associamos com mais comportamentos anormais e pior bem-estar nos jardins zoológicos. Num estudo agora clássico, as investigadoras Georgia Mason e Ros Clubb tentaram perceber as características dos grandes carnívoros que os fazem tão pouco preparados param uma vida em cativeiro. Analisaram dados de estudos científicos de 35 espécies e encontraram um fator que, mais do que qualquer outro, determina se os animais terão problemas em cativeiro: o tamanho do seu território natural. Quanto maior o território, maiores ou mais frequentes os problemas com comportamento estereotipado e mortalidade infantil em cativeiro. E o tigre é uma das espécies com maiores territórios.
Ao contrário dos circos, os presépios portugueses apenas contêm animais domésticos. Embora Papa Bento XVI considere a vaca e o burro no presépio uma invenção moderna, do ponto de vista de ética e biologia animal fazem muito mais sentido do que os tigres no circo!
Faz parte da mudança
No momento, a palavra “mudança” faz-me pensar mais nas caixas no meu gabinete do que em hábitos alimentares, e foi de facto a arrumação associada a iminente mudança de lugar (IBMC está a trocar o Polo de Campo Alegre para o Polo de Asprela e as novas instalações do novo i3S) que me fez pegar novamente no folheto “Faz parte da mudança”, produzido pela Associação Vegetariana Portuguesa.
Entregaram-me o folheto em maio, quando a AVP estava a distribui-lo em diversos polos universitários em Portugal. O folheto utiliza celebridades vegetarianos, estórias com animais, problemas de bem-estar na pecuária, aquacultura e pesca, aspetos ambientais e observações nutricionais para argumentar em prol de uma alimentação vegetariana. Claro que a informação apresentada é escolhida em função do objetivo da campanha, mas os factos apresentados são corretos, e não há um exagero na escolha de imagens para ilustrar práticas desagradáveis na produção de animais.
É preciso falar e alertar, mesmo que muitos já saibam e concordem que o atual consumo de carne no mundo industrializado e o crescimento do consumo nas economias emergentes é insustentável. Mas entre consumir menos carne e tornar-se vegetariano há um passo enorme, e um passo que se calhar nem sequer é necessário.
Eis a minha única reserva sobre esta campanha. Poucos portugueses estarão dispostos a excluir completamente carne da sua alimentação, mas muitos poderão vir a reduzir o seu consumo. Infelizmente, a campanha parece muito mais dirigido para o (muito mais pequeno) primeiro do que para o segundo grupo.
"I’ve got a three-legged cat, a one-eyed cat, three dogs that required major surgeries, one goat, and 11 chickens"
Não estava a contar referir a Reader’s Digest num blog cujo cariz é profissional, mas 50 Things Your Vet Won’t Tell You é tanto divertido como profissionalmente fundamentado. Ou o que acham os leitores veterinários?
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| “The reason your pet is fat is because you’re fat too“ |
Centro para o Conhecimento Animal: entrevista com Sara Fragoso
Animalogos: Sara Fragoso, no dia 15 de julho foi inaugurado o Centro para o Conhecimento Animal em Lisboa. Em que consta esta nova iniciativa?
Sara Fragoso: O Centro para o Conhecimento Animal (CPCA) é o primeiro centro português dedicado ao comportamento e bem-estar animal. Os projetos que estamos a desenvolver e os serviços que disponibilizamos têm como denominador comum o objetivo de contribuir para uma relação bem sucedida entre humanos e outros animais, em que o bem-estar de todos os envolvidos é a base do que fazemos.
Pretendemos dar resposta a uma sociedade cada vez mais consciente e exigente nestas matérias, através de cursos, elaboração de publicações, desenvolvimento de estratégias de prevenção e resolução de problemas do foro comportamental e do bem-estar. Gatos e cães que atacam os donos, cães que puxam a trela, xixis fora do sítio, sofás e mobília arranhados são apenas alguns exemplos de situações que interferem na vida das pessoas e afetam a sua relação com os seus animais de companhia e para as quais o CPCA poderá dar resposta num acompanhamento especializado. Apostamos ainda no desenvolvimento de investigação científica, cujo conhecimento daí resultante serve de suporte para a adoção e divulgação de estratégias de intervenção mais cada vez mais eficazes.
Animalogos: Quem são os potenciais utilizadores ou clientes do CPCA?
SF: Tutores em geral e todos os profissionais que intervenham e influenciem direta ou indiretamente o bem-estar animal, em diferentes contextos, podem usufruir da nossa oferta formativa e apoio no desenvolvimento de estratégias para a prevenção e resolução de problemas comportamentais ou de bem-estar. A nossa ação é dirigida tanto a particulares como a clientes empresariais, e abrange animais de companhia, de produção e selvagens. Além de um conjunto de serviços mais dirigidos a outros animais, também os humanos podem usufruir dos nossos serviços, como consultas de intervenção psicológica no apoio ao luto na perda do seu animal de companhia, bem como, terapias e actividades assistidas por animais.
Animalogos: Quem trabalha no Centro, e como pode-se entrar em contacto?
SF: Somos uma equipa multidisciplinar que conta com vários especialistas de diversas áreas: antropólogos, biólogos, veterinários, professores do ensino especial, psicólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, treinadores habilitados e outros profissionais altamente qualificados nas respectivas áreas de intervenção.
Para entrar em contacto:
– Tlf: 911 114 911
– Email: geral@cpcanimal.pt
– através do site (apesar de estar em construção tem campos disponíveis para o envio de mensagens): www.cpcanimal.pt
Animalogos em congresso

Há duas semanas estivemos no congresso de UFAW – Universities Federation for Animal Welfare em Zagreb. Ou mais corretamente, estive, porque ao contrário de há 2 anos em que estivemos todos presente, fui sozinha em representação dos três animalogantes, para apresentar o nosso trabalho sobre quantidade e qualidade de vida (mais sobre isso abaixo).
Desde o primeiro em que participei (2001, em Londres), considero os congressos de UFAW uma prioridade profissional por vários motivos. São sempre excelentes, focando um tema com relevância e pertinência, com palestrantes de renome internacional. São inspiradores, tanto pela qualidade das palestras como pela diversidade da participação. Aqui encontra-se não só académicos, mas pessoas de todo o tipo de organismos governamentais e não-governamentais na área de bem-estar animal. Quem quer saber mais concretamente do que foi falado no congresso, encontra um relato no Twitter do UFAW.
Na nossa apresentação abordamos o dilema de quantidade e qualidade de vida, com base em três exemplos: a (redução em) longevidade da vaca leiteira, as formas de criar vitelos machos de raças de produção de leite e a tensão entre redução e refinamento na experimentação animal. O trabalho resulta do desafio que aceitamos em 2013, de contribuir para o livro Dilemmas in Animal Welfare (CABI Publishing, 2014).
Além das palestras, consegui aproveitar um bocado da hora do almoço para visitar o Croatian Museum of Naïve Art e a sua coleção que não podia ser mais tematicamente relevante para um congresso onde a relação humano-animal está em enfoque.
Quer apadrinhar uma vaca?
World Meat Free Day
Seria preferível sermos todos vegetarianos ou até vegans? Não há uma resposta ética ou científica consensual, vai depender por um lado do peso que é atribuído aos diferentes interesses em causa, por outro lado de como se entende que estes interesses são respeitados em situações diferentes. O mundo seria radicalmente diferente se toda a gente deixasse de consumir produtos de origem animal, e não é completamente claro se será um mundo melhor. Esta dilema ético é muito bem abordado pelo Tony Milligan no livro Beyond animal rights: food, pets and ethics, e cito do meu análise do livro publicada aqui há um par de anos:
Dos cinco capítulos dedicados ao consumo de carne, o primeiro de todos, “The Depth of Meat-Eating”, oferece um olhar geral e serve de introdução ao tópico. No capítulo 2, “An Unwritten Contract”, explora a ideia de que a agro-pecuária e o consumo de carne oferecem um bom “contrato” aos animais, como grupo, na medida em que lhes permitiu que prosperassem, em número. Por um lado, é um fraco negócio para os animais que pagam pela protecção e alimento com a sua morte precoce, e que por vezes é precedida por uma vida que não vale a pena ser vivida. Por outro lado, em condições que proporcionam uma vida que valha a pena ser vivida, o argumento de que de outro modo estes animais não teriam sequer existido é muito forte. Isto deixa-nos com uma situação “in which rival considerations can be balanced up against each other but no single consideration obviously trumps the others. On the one hand, the opportunity of life argument does real work (…) to give some justification for ethically informed meat-eating. It is the means by which animals come into existence and enjoy some approximation to a good, if short, life. (…) Ethical vegetarianism, on the other hand, might better save the interests of already existing creatures” (página 40)(…)O capítulo 4, “Diet and Sustainability”, foca-se nos aspectos ambientais das diferentes aspectos que envolvem as diferentes opções alimentares. Milligan considera que a produção de carne actual deixa uma pegada ecológica inaceitável, mas também que há terreno que só pode contribuir para a alimentação humana atraves de produção de carne e leite de animais de pastoreio. Tendo em consideração todos os factores (tanto quanto a complexidade do problema o possibilita), Milligan admite que uma dieta contendo pequenas quantidades de carne de origem local e produzida com respeito pelo ambiente, poderá ser tão ou mais sustentável que uma dieta vegetariana. Mas de imediato observa não ser esta a dieta típica de um consumidor de carne, e que “(t)here is just as much danger that the sheer possibility of an eco-friendly carnivorous diet may be used as a stalking horse to provide dubious justification for widespread carnivorous practices that are not nearly as eco-friendly as their practitioners may assume” (página 84). O valor ecológico do consumo limitado de carne, é a razão pela qual o veganismo, como opção universal, poderá ser “The Impossible Scenario” (Capítulo 5), mas que um vegetarianismo universal, que permita alguma produção animal, poderá ser mais exequível.
E a perda gustatória? O seu peso ético se calhar é menor do que as considerações ambientais, de saúde e até económicas. Mas o que gostamos é provavelmente um dos fatores mais importantes quando escolhemos o que vamos comer. Eis a importância do World Meat Free Day: uma oportunidade para experimentarmos comer algo diferente e potencialmente gostoso!








