Food Futures – congresso da EurSAFE 2016 no Porto!


Submissão de trabalhos até dia 25 de Janeiro de 2016.
  • Temas:
    • Política alimentar, democracia, regulação e direitos individuais
    • Sustentabilidade, ambiente e produção alimentar
    • Ética e bem-estar animal 
    • Perspectivas críticas sobre a alimentação e a experiência humana (migração, cultura, assimilação cultural, resistência e dinâmicas sociais) 
    • Cenários prospectivos utópicos holísticos 
    • Modos de combate ao desperdício alimentar; 
    • Ética em nutrição e política alimentar. 

Mais informação no website do congresso.

Porque é o presépio vivo mais ético do que o circo?

Natal é tempo de circo em Portugal. 

Tempo então de palhaços, acrobatas, cavalos e…tigresInfelizmente, ainda é comum encontrarmos estes últimos nos circos portugueses, ao contrário de Inglaterra, por exemplo, onde a partir deste ano os circos estão proibidos de incluir animais de espécies selvagens nos espetáculos.

Ringling brothers over the top tiger

Mas porque será mais problemático ter um tigre do que um cão, ou pior ter um zebra do que um cavalo numa companhia de circo? A resposta está numa única palavra: domesticação. Cães e cavalos são versões domesticadas de espécies selvagens, ou seja, que durante um processo que levou milhares de anos e gerações de animais houve uma adaptação gradual à vida em comunidade com o ser humano. Como resultado deste processo, os cavalos e os cães de hoje têm um comportamento mais compatível com treino humano do que os equídeos e canídeos selvagens. São mais calmos e não se assustam tão facilmente.

E as suas características são também mais compatíveis com as condições de alojamento e maneio que podemos oferecer. Se viramos esta questão ao contrário e perguntamos quais os animais mais mal adaptados para uma vida em cativeiro, a resposta clássica é: os grandes carnívoros. São os animais que associamos com mais comportamentos anormais e pior bem-estar nos jardins zoológicos. Num estudo agora clássico, as investigadoras Georgia Mason e Ros Clubb tentaram perceber as características dos grandes carnívoros que os fazem tão pouco preparados param uma vida em cativeiro. Analisaram dados de estudos científicos de 35 espécies e encontraram um fator que, mais do que qualquer outro, determina se os animais terão problemas em cativeiro: o tamanho do seu território natural. Quanto maior o território, maiores ou mais frequentes os problemas com comportamento estereotipado e mortalidade infantil em cativeiro. E o tigre é uma das espécies com maiores territórios.


Szopka-Wyszków-3


Ao contrário dos circos, os presépios portugueses apenas contêm animais domésticos. Embora Papa Bento XVI considere a vaca e o burro no presépio uma invenção moderna, do ponto de vista de ética e biologia animal fazem muito mais sentido do que os tigres no circo!

A tecnologia ao serviço de bem-estar animal

Por Ana Margarida Pereira, médica veterinária e colaboradora do grupo Ciências de Animais de Laboratório, IBMC.

A monitorização do estado de saúde dos animais de interesse pecuário tem um impacto no bem-estar animal e na saúde publica. Em relação ao primeiro, está em causa uma das cinco liberdades, apontadas pelo Farm Animal Welfare Council (FAWC), que afirma que, os animais deverão ser mantidos em condições que lhes permitam estar livre de dor, lesões e/ou doença, através de procedimentos de prevenção e diagnóstico seguidos de tratamento célere. O impacto na saude publica por seu lado, envolve a prevenção da transmissão de zoonoses, bem como a garantia da qualidade das carnes ou outros subprodutos para consumo humano.

De acordo com a legislação vigente, Decreto-Lei n.º 157/2008, a inspeção dos animais deve ser efetuada diáriamente. No entanto, a elevada densidade de frangos coloca dificuldades à inspeção. A rotina de inspeção deve seguir os Welfare Quality® Assessment Protocols, que se encontram disponiveis online. A dor é associada a lesões gerais que, causam claudicação, ou mais especificas como dermatites nos membros e/ou queimaduras na região do jarrete. A mortalidade dos bandos, bem como o numero de animais abatidos em consequência de lesões graves anteriormente descritas, são utilizados como indicadores de doença.

Frango com claudicação grave. (Fotografia: Charlotte Berg, Universidade Sueca de Ciências Veterinárias).

Por forma a melhorar a monitorização do bem-estar de frangos de carne, investigadores da Universidade de Oxford, estão a desenvolver um projeto financiado pela Biotechnology and Biological Sciences Research Council (BBSRC), intitulado ‘’Automated assessment of broiler chicken welfare using optical flow patterns in relation to behaviour, disease risk, environment and production’’. A proposta passa por complementar a inspeção diária com de videos, capturados por camaras estrategicamente montadas nos pavilhões. Estas registam os movimentos do bando, produzindo um optical flow cujo padrão é analisado em tempo-real. A análise é feita com base em estatistica descritiva, nomeadamente média e curtose. Assim, o método usado, não incide sobre a existência ou ausência de movimentos, mas sim sobre a hetero/homogenidade dos mesmos. O principio baseia-se no conhecimento de que, um bando saudável, com uma marcha normal caracteriza-se por um optical flow homogéneo, contrariamente ao que acontece em bandos afetados com claudicação que, por se movimentarem mais devagar, originam um optical flow heterogéneo, com velocidades de movimentos muito disparos. Artigos publicados pela investigadora principal, MS Dawkins, e seus colegas, em 2009, 2012 e 2013 apresentam uma relação entre a média e a curtose do optical flow e problemas de bem-estar relacionados com a marcha. O desafio consiste agora, em relacionar a existência de doença do foro intestinal (frequentemente diagnosticadas em exame post mortem) com o optical flow. Os investigadores acreditam ser possível encontrar esta relação uma vez que, secundáriamente à infeção e dadas as caracteristicas dos sinais clinicos (diarreia profusa, fraqueza) existe predisposição para lesões nos membros com marcha e comportamento consequentemente alterados.

Apesar das perspectivas serem favoráveis, a validação do sistema requer ainda o desenvolvimento de equipamento mais fiável e da realização de testes no terreno. No entanto, esta tecnologia e a forma como irá objetiva, continua e automáticamente monitorizar o bando, poderá contribuir para o envio de alerta atempado de mau-estar e consequente tomada de atitude.

Faz parte da mudança


No momento, a palavra “mudança” faz-me pensar mais nas caixas no meu gabinete do que em hábitos alimentares, e foi de facto a arrumação associada a iminente mudança de lugar (IBMC está a trocar o Polo de Campo Alegre para o Polo de Asprela e as novas instalações do novo i3S) que me fez pegar novamente no folheto “Faz parte da mudança”, produzido pela Associação Vegetariana Portuguesa.

Entregaram-me o folheto em maio, quando a AVP estava a distribui-lo em diversos polos universitários em Portugal. O folheto utiliza celebridades vegetarianos, estórias com animais, problemas de bem-estar na pecuária, aquacultura e pesca, aspetos ambientais e observações nutricionais para argumentar em prol de uma alimentação vegetariana. Claro que a informação apresentada é escolhida em função do objetivo da campanha, mas os factos apresentados são corretos, e não há um exagero na escolha de imagens para ilustrar práticas desagradáveis na produção de animais.

É preciso falar e alertar, mesmo que muitos já saibam e concordem que o atual consumo de carne no mundo industrializado e o crescimento do consumo nas economias emergentes é insustentável. Mas entre consumir menos carne e tornar-se vegetariano há um passo enorme, e um passo que se calhar nem sequer é necessário.

Eis a minha única reserva sobre esta campanha. Poucos portugueses estarão dispostos a excluir completamente carne da sua alimentação, mas muitos poderão vir a reduzir o seu consumo. Infelizmente, a campanha parece muito mais dirigido para o (muito mais pequeno) primeiro do que para o segundo grupo.

Obesidade de estimação


Por  Helena Correia, Patrícia Esteves e Tiago Neves, alunos da Pós-Graduação de Bem-Estar e Comportamento Animal do ISPA. 
Gato doméstico obeso. Fotografia: Malin Öhlund

Cães e gatos gordos, sim, a obesidade também já chegou aos nossos animais de estimação, considerada pela Organização Mundial de Saúde como a “Epidemia do Século XXI”. São muitos os paralelos no nosso quotidiano entre os seres humanos e os animais não humanos, com consequências igualmente negativas. Só em Portugal estima-se, que dos 1,8 milhões de caninos e 1 milhão de felinos que vivem nos nossos lares (Visão, Agosto 2014), 40% dos cães e 30% dos gatos estejam obesos

O cão ou gato com excesso de peso vai ser um animal com menos vontade de brincar, com cansaço excessivo e dificuldade ao movimentarem-se e com elevado risco de desenvolver doenças típicas da obesidade, como os diabetes (tipo II), as habituais doenças cardiovasculares e o cancro. Também irá ser devastador para as articulações, o sistema respiratório e renal. Ou seja, estes nossos amigos vão perder qualidade de vida e também viver muito menos tempo. 

Casos de referência são o Meow e o Rusty cuja atenção mediática e ação por parte das autoridades e associações de animais abriram um precedente para a questão do bem-estar animal em casos de obesidade. Estávamos habituados a ouvir casos em que as autoridades agiram para salvar animais de fome, mas os donos do Meow e do Rusty veram o seu animal ser aprendido por ter peso a mais. 

Quando vamos avaliar as causas, temos de obrigatoriamente olhar para a relação homem-animal. Embora há influência de fatores fisiológicos, genéticos e patológicos (por exemplo, a esterilização e a castração diminuía o ritmo metabólico, há raças com mais predisposição para se tornarem obesos e doenças como hipertiroidismo afeta diretamente o metabolismo), os  “Meow” e “Rusty” vão ser um reflexo dos cuidados que recebem. 

É aqui que hábitos e falta de informação surgem nesta história. Sem necessiariamente de se aperceber, os donos acabam por não preencher as necessidades de estímulos e exercício, impossibilitando o gasto da energia que é recebida pela dieta. Ou não se tem ideia real da quantidade de comida que o animal recebe ou necessita para ter uma dieta saudável e balanceada. E existe sempre “aquele bocadinho extra de comida minha de que ele gosta tanto”, o chamado “too much love”, um hábito que pode ter consequências ainda piores quando o que é oferecido não é um alimento adequados para os animais. 
 

A nova legislação que entrou em vigor em Portugal pune e condena os maus-tratos aos animais, seja por privação de meios essências à sua sobrevivência, como comida e água, ou por agressão ou abandono. São responsáveis, todos aqueles que “sem motivo legítimo, infligirem dor, sofrimento ou quaisquer outros maus-tratos a um animal de companhia”. No entanto, não deverão ser também responsabilizados todos aqueles que comprometem a saúde e bem-estar dos animais, através da sua negligência, seja por não dar suficiente, seja por dar demais?

Mas não se altera hábitos só através (ameaça de) punição. Sendo o problema sobretudo falta de informação (por exemplo, na Inglaterra um terço dos donos de animais de estimação não sabem medir o peso do seu animal), entra aqui a necessidade de medidas ativas de informação junto dos donos. Estas medidas não devem apenas encorajar os donos a fazer bem, devem ainda incluir ferramentas concretas. A Association for Pet Obesity Prevention fornece um tradutor de peso que permite calcular o que um determinado peso representa em termos o excesso de peso em percentagem, e um esquema para monitorizar diariamente alimentação e exercício do animal.

"I’ve got a three-legged cat, a one-eyed cat, three dogs that required major surgeries, one goat, and 11 chickens"

Não estava a contar referir a Reader’s Digest num blog cujo cariz é profissional, mas 50 Things Your Vet Won’t Tell You é tanto divertido como profissionalmente fundamentado. Ou o que acham os leitores veterinários?

The reason your pet is fat is because you’re fat too

Centro para o Conhecimento Animal: entrevista com Sara Fragoso

Animalogos: Sara Fragoso, no dia 15 de julho  foi inaugurado o Centro para o Conhecimento Animal em Lisboa. Em que consta esta nova iniciativa?

Sara Fragoso: O Centro para o Conhecimento Animal (CPCA) é o primeiro centro português dedicado ao comportamento e bem-estar animal. Os projetos que estamos a desenvolver e os serviços que disponibilizamos têm como denominador comum o objetivo de contribuir para uma relação bem sucedida entre humanos e outros animais, em que o bem-estar de todos os envolvidos é a base do que fazemos.

Pretendemos dar resposta a uma sociedade cada vez mais consciente e exigente nestas matérias, através de cursos, elaboração de publicações, desenvolvimento de estratégias de prevenção e resolução de problemas do foro comportamental e do bem-estar. Gatos e cães que atacam os donos, cães que puxam a trela, xixis fora do sítio, sofás e mobília arranhados são apenas alguns exemplos de situações que interferem na vida das pessoas e afetam a sua relação com os seus animais de companhia e para as quais o CPCA poderá dar resposta num acompanhamento especializado. Apostamos ainda no desenvolvimento de investigação científica, cujo conhecimento daí resultante serve de suporte para a adoção e divulgação de estratégias de intervenção mais cada vez mais eficazes.

Animalogos: Quem são os potenciais utilizadores ou clientes do CPCA?

SF: Tutores em geral e todos os profissionais que intervenham e influenciem direta ou indiretamente o bem-estar animal, em diferentes contextos, podem usufruir da nossa oferta formativa e apoio no desenvolvimento de estratégias para a prevenção e resolução de problemas comportamentais ou de bem-estar. A nossa ação é dirigida tanto a particulares como a clientes empresariais, e abrange animais de companhia, de produção e selvagens. Além de um conjunto de serviços mais dirigidos a outros animais, também os humanos podem usufruir dos nossos serviços, como consultas de intervenção psicológica no apoio ao luto na perda do seu animal de companhia, bem como, terapias e actividades assistidas por animais.

Animalogos: Quem trabalha no Centro, e como pode-se entrar em contacto?

SF: Somos uma equipa multidisciplinar que conta com vários especialistas de diversas áreas: antropólogos, biólogos, veterinários, professores do ensino especial, psicólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, treinadores habilitados e outros profissionais altamente qualificados nas respectivas áreas de intervenção.

Para entrar em contacto:
– Tlf: 911 114 911
– Email: geral@cpcanimal.pt
– através do site (apesar de estar em construção tem campos disponíveis para o envio de mensagens): www.cpcanimal.pt 

Animalogos em congresso


Há duas semanas estivemos no congresso de UFAW – Universities Federation for Animal Welfare em Zagreb. Ou mais corretamente, estive, porque ao contrário de há 2 anos em que estivemos todos presente, fui sozinha em representação dos três animalogantes, para apresentar o nosso trabalho sobre quantidade e qualidade de vida (mais sobre isso abaixo).

Desde o primeiro em que participei (2001, em Londres), considero os congressos de UFAW uma prioridade profissional por vários motivos. São sempre excelentes, focando um tema com relevância e pertinência, com palestrantes de renome internacional. São inspiradores, tanto pela qualidade das palestras como pela diversidade da participação. Aqui encontra-se não só académicos, mas pessoas de todo o tipo de organismos governamentais e não-governamentais na área de bem-estar animal. Quem quer saber mais concretamente do que foi falado no congresso, encontra um relato no Twitter do UFAW.

Na nossa apresentação abordamos o dilema de quantidade e qualidade de vida, com base em três exemplos: a (redução em) longevidade da vaca leiteira, as formas de criar vitelos machos de raças de produção de leite e a tensão entre redução e refinamento na experimentação animal. O trabalho resulta do desafio que aceitamos em 2013, de contribuir para o livro Dilemmas in Animal Welfare (CABI Publishing, 2014).

Além das palestras, consegui aproveitar um bocado da hora do almoço para visitar o Croatian Museum of Naïve Art e a sua coleção que não podia ser mais tematicamente relevante para um congresso onde a relação humano-animal está em enfoque.

Quer apadrinhar uma vaca?

Se ninguém consome carne ou outros produtos de origem animal, deixa de haver aqueles animais que conhecemos como animais de produção – vacas, porcos, galinhas. Ou haverá quem queira pagar para os manter sem receber nada mais em retorno do que a satisfação de manter os animais vivos?
Em 2011, um grupo de locais numa aldeia perto de Colonia em Alemanha lançaram uma fundação para salvar 11 vacas leiteiras e 14 vitelas quando o agricultor decidiu abandonar a produção de leite e se preparava para mandar os animais ao abate.  

 
A fundação Kuhrettung Rhein-Berg oferece a possibilidade de apadrinhar uma vaca por um contributo mínimo de 10 euros por mês. 15 dos animais já têm o seu sustento garantido.

World Meat Free Day

Dia 15 de Junho é World Meat Free Day. Ao contrário do que pode parecer, não é um dia para os vegetarianos. Antes pelo contrário, é uma iniciativa que apela a todos que comem carne a refletir e a experimentar a possibilidade de não o fazer por um dia. Não para se tornarem vegetarianos, mas para darem um passo para um nível de consumo de carne que não ponha em causa o equilíbrio ambiental, o bem-estar dos animais e a sua própria saúde.

Seria preferível sermos todos vegetarianos ou até vegans? Não há uma resposta ética ou científica consensual, vai depender por um lado do peso que é atribuído aos diferentes interesses em causa, por outro lado de como se entende que estes interesses são respeitados em situações diferentes. O mundo seria radicalmente diferente se toda a gente deixasse de consumir produtos de origem animal, e não é completamente claro se será um mundo melhor. Esta dilema ético é muito bem abordado pelo Tony Milligan no livro Beyond animal rights: food, pets and ethics, e cito do meu análise do livro publicada aqui há um par de anos:

Dos cinco capítulos dedicados ao consumo de carne, o primeiro de todos, “The Depth of Meat-Eating”, oferece um olhar geral e serve de introdução ao tópico. No capítulo 2, “An Unwritten Contract”, explora a ideia de que a agro-pecuária e o consumo de carne oferecem um bom “contrato” aos animais, como grupo, na medida em que lhes permitiu que prosperassem, em número. Por um lado, é um fraco negócio para os animais que pagam pela protecção e alimento com a sua morte precoce, e que por vezes é precedida por uma vida que não vale a pena ser vivida. Por outro lado, em condições que proporcionam uma vida que valha a pena ser vivida, o argumento de que de outro modo estes animais não teriam sequer existido é muito forte. Isto deixa-nos com uma situação “in which rival considerations can be balanced up against each other but no single consideration obviously trumps the others. On the one hand, the opportunity of life argument does real work (…) to give some justification for ethically informed meat-eating. It is the means by which animals come into existence and enjoy some approximation to a good, if short, life. (…) Ethical vegetarianism, on the other hand, might better save the interests of already existing creatures” (página 40)
(…)
O capítulo 4, “Diet and Sustainability”, foca-se nos aspectos ambientais das diferentes aspectos que envolvem as diferentes opções alimentares. Milligan considera que a produção de carne actual deixa uma pegada ecológica inaceitável, mas também que há terreno que só pode contribuir para a alimentação humana atraves de produção de carne e leite de animais de pastoreio. Tendo em consideração todos os factores (tanto quanto a complexidade do problema o possibilita), Milligan admite que uma dieta contendo pequenas quantidades de carne de origem local e produzida com respeito pelo ambiente, poderá ser tão ou mais sustentável que uma dieta vegetariana. Mas de imediato observa não ser esta a dieta típica de um consumidor de carne, e que “(t)here is just as much danger that the sheer possibility of an eco-friendly carnivorous diet may be used as a stalking horse to provide dubious justification for widespread carnivorous practices that are not nearly as eco-friendly as their practitioners may assume” (página 84). O valor ecológico do consumo limitado de carne, é a razão pela qual o veganismo, como opção universal, poderá ser “The Impossible Scenario” (Capítulo 5), mas que um vegetarianismo universal, que permita alguma produção animal, poderá ser mais exequível.
Mas se perguntamos se seria preferível nós comermos menos carne (sendo ‘nós’ cidadãos de Europa e América de Norte), a resposta será quase consensualmente “sim”. Do ponto de vista científico, há ganhos para o ambiente e há ganhos para a saúde humana. Poderá ainda haver ganhos para os animais, pelo menos se uma redução de quantidade é combinada com um investimento na qualidade. Perdas? Sim, para quem ganha dinheiro com o atual consumo de carne. Em fevereiro deste ano, o principal painel de aconselhamento nutricional nos EUA recomendou que os americanos deviam comer menos carne. A reação da associação de comerciantes de carne North American Meat Institute foi imediata e muito critica.

E a perda gustatória? O seu peso ético se calhar é menor do que as considerações ambientais, de saúde e até económicas. Mas o que gostamos é provavelmente um dos fatores mais importantes quando escolhemos o que vamos comer. Eis a importância do World Meat Free Day: uma oportunidade para experimentarmos comer algo diferente e potencialmente gostoso!