És um Animal, Viskovitz ! – Breve Recensão

Alessandro Boffa
És um animal, Viskovitz!
Tradução: Tiago Guerreiro da Silva
LIVRODODIA Editores, Torres Vedras, 2010

“Por ela já tinha perdido a cabeça”. Assim termina a sintética história da vida – efémera mas intensa – de Viscovitz, um jovem louva-a-deus apaixonado (pode lê-la aqui). Esta é apenas uma das 20 fábulas em que Alessandro Boffa recorre ao lugar comum, ao cliché, para depois o desconstruir e assim criar cenários risíveis mas inteligentes sobre as vidas de outros tantos animais. Biólogo de profissão, o autor alia conhecimento científico a imaginação, de modo que, mesmo não sabendo o que é um mantídeo, o leitor não teria dificuldade em identificar a que animal pertence o anterior ritual de acasalamento.

Viscovitz é um personagem eminentemente humano – um anti-herói ? – mas que se metamorfoseia sucessivamente de escorpião a formiga, de camaleão a cão, na busca continuada pelo amor de Ljuba. Esta pulsão sexual é a linha que une todos os quadros retratados e somos assim introduzidos, através do humor, ao difícil mundo da reprodução animal (as desventuras do caracol e do tentilhão são verdadeiramente hilariantes). E, na verdade se pensarmos em termos evolutivos, é isso que conta para a sobrevivência da espécie. Incluíndo a nossa. Já Aristóteles, em História dos Animais, escrevia:

“A vida dos animais pode, então, ser dividida em dois actos: procriação e alimentação; Pois é nestes dois actos que se concentram todos os seus interesses e toda a sua vida. (…) E como tudo o que é conforme com a natureza é agradável, todos os animais buscam o prazer, mantendo a sua natureza.”

Historia Animalium, Livro VIII

Originalmente publicado em 1998 em língua italiana, “Sei una Bestia, Viscovitz!” é um sério trabalho de entretenimento que fará as delícias de todos aqueles que se interessam pelo mundo natural. Nota ainda para o excelente trabalho de tradução de Tiago Guerreiro da Silva já que, apesar da profusão de termos técnicos, o texto não perde a sua melodia e simplicidade.

Os animais humanos

Em Julho, os doutorandos do programa GABBA da Universidade do Porto organizaram o seu simpósio anual sobre o tema What makes us human? Todas as apresentações estão agora disponíveis on-line.

Pessoalmente destaco a palestra de Sarah Blaffer Hrdy, cuja Hrdy hypothesis tem sido muito importante para a disciplina de etologia. Fascinante palestra sobre nós os primatas humanas e as nossas estrategias evolutivas.

A minha anémona tem mais personalidade do que a tua

Source: Sciencemag.com Credits: Martyn Gorman

Um estudo científico publicado o mês passado na PLoS ONE, vem defender que as anémonas, animais marinhos invertebrados de vida adulta sedentária, possuem personalidades diferentes. Os investigadores da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, não têm dúvidas em afirmar que “ao invés de se restringir a determinados grupos, a personalidade pode ser uma característica geral dos animais e ser particularmente acentuada em espécies com sistemas nervosos simples.”

Embora o estudo evite fazer considerações sobre se esta descoberta deve influenciar a forma como tratamos as anémonas, não deixa de ser pertinente questionar sobre se a posse de personalidade é uma característica suficiente para se ser considerado como sujeito moral. Um ser com personalidade é um ser capaz de tomar opções baseadas em estímulos sensoriais. E em termos de bem-estar, as opções de um animal devem ser tidas em conta.

As anémonas pertencem ao Filo Cnidária, o mais simples dos filos do Reino Animalia que possuem verdadeiros tecidos e orgãos especializados. Em 2008, na minha tese de Mestrado em Bioética, defendi que a consideração moral deveria incluir os seres invertebrados e que, essa consideração teria início nos cnidários por serem os primeiros animais com tecidos muscular e nervoso. Considero ser esta a fronteira que separa aqueles que sentem (muito ou pouco) dos que não sentem (nem podem sentir) e a divisão mais ou menos arbitrária que filósofos têm proposto para a senciência ao longo dos anos tem aqui um determinismo biológico que, a meu ver, não pode ser ignorado. A presença de características individualizantes (ou personalizantes ?) em anémonas vem desta forma reforçar a minha opinião.

Zebradas

Na visão moderna de biologia não há lugar para instintos – qualquer comportamento é visto como o resultado de factores geneticos e ambientais em combinação com a experiência própria de um indivíduo. 

Uma belissima ilustração disto é a foto abaixo que mostra o primeiro contacto que uma égua primípara tem com a sua cria rescem-nascida. Para esta situação em que não há experiência e em que há pouco espaço para tentativas e erros, sob a influência hormonal a égua responde ao novo ser e estabelece o contacto necessário com ele. Pouco tempo depois a poldra levantara-se para mamar e passado uma hora estará pronta para acompanhar a mãe.

A egua Henja Kry com a sua rescem-nascida primogenita Grånosa Kry. Foto Helena Kättström.
Em todas as raças de cavalo os poldros têm esta capacidade precoce de se movimentar com destreza e rapidez de um adulto. Faz parte do pacote de sobrevivência destes animais – é a sua natureza. Mas são poucos os cavalos em que podemos ver traços físicos tão fortes da sua origem como nestes da raça cavalo-de-fjord-norueguês.
Foto: Helena Kättström
As zebradas (as riscas por cima do joelho dianteiro), a lista de mulo (a risca escura na crina, dorso e cauda) e a cor parda são caracteristicas partilhadas com os cavalos portuguêses de raça sorraia e os przewalski. Quanto aos zebras propriamente ditos, pertencem à mesma família, os equídeos, mas constituem um ramo diferente.

A Evolução dos Tentilhões de Darwin – SERRALVES

04 Junho 2011 (Sáb), 15h30
A evolução dos tentilhões de Darwin
Oradores: Peter Raymond Grant e Barbara Rosemary Grant
Auditório da Fundação de Serralves, Porto

Peter Raymond Grant e Barbara Rosemary Grant são um casal de biólogos evolutivos britânicos, Professores Eméritos na Universidade de Princeton, que se distinguiram pelo seu trabalho notável sobre o estudo dos tentilhões de Darwin, e pela demonstração da evolução das espécies através do processo de selecção natural, descrito por Charles Darwin.

Na sua Conferência “A evolução dos tentilhões de Darwin”, Peter e Rosemary Grant descrevem-nos alguns dos resultados desta fascinante investigação que tem vindo a ser realizada nos últimos 40 anos nas ilhas Galápagos, nomeadamente sobre como estas espécies podem rapidamente variar através de mecanismos de selecção natural, por exemplo em características como o tamanho do corpo ou do bico, em resposta a alterações do meio ambiente.

Mais detalhes, aqui.

The Cycle of Life and Death

Fiel às minhas origens, como ovos, arenque e salmão na Páscoa, e a minha intenção para o Animalogos desta Páscoa era um post sobre rotulação de ovos (de galinha). Mas entretanto encontrei este trabalho de uma famosa actriz, filha de mãe sueca, que além de ser a mulher mais bonita do mundo revela agora a sua genialidade na comunicação humorística e artística de biologia. Então ficaremos pelo salmão.

Vida, morte e ressurreição – que tema mais adequado para estes dias?

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A Evolução de Darwin no Porto

A Exposição “A Evolução de Darwin” está agora no Porto!

Desde o passado dia 1 de Fevereiro que a renovada Casa Andresen, situada no Jardim Botânico do Porto, acolhe a exposição criada para celebrar os 200 anos do nascimento de Darwin e os 150 anos da Teoria da Evolução das Espécies. A exposição vem também celebrar o centenário da Universidade do Porto e o Ano Internacional da Biodiversidade (2010) já que a Casa Andresen acolherá, a partir de 2012, a Galeria da Biodiversidade.

Decorrem também um sem número de actividades paralelas. Acompanhe as novidades na página do Facebook da exposição.

Nagoya virá a tempo de salvar o Macaco Constipado?

Credit: Thomas Geissmann

O Ano Internacional da Biodiversidade tem sido pródigo em notícias sobre a extraordinária riqueza de vida na Terra. Uma expedição recente à Papua e Nova Guiné, por exemplo, levou à identificação de cerca de 200 espécies, entre animais e vegetais, nunca antes vistas. A comunicação social tem estado particularmente atenta à descoberta de novas espécies, em especial daquelas mais exóticas e bizarras. Insectos e anfíbios são vistosos mas pouco mediáticos ao passo que novos mamíferos são raros e normalmente diminutos. Mas não é todos os dias que se anuncia uma nova espécie de primata!

Uma equipa internacional publicou um estudo na revista American Journal of Primatology onde dá conta da descoberta de um bizarro macaco sem nariz e que, segundo relatos das polulações locais, espirra sempre que chove. O Rhinopithecus strykeri vive nas florestas do Nordeste de Myanmar (antiga Birmânia), mas nunca foi avistado vivo por cientistas e por isso a imagem acima foi criada em computador. A população deve rondar os 300 indivíduos, o que a coloca, desde já, como uma das espécies mais ameaçadas do planeta.

Por estes dias, em Nagoya, no Japão, Ministros de 179 países aprovaram um novo plano global para travar a perda de biodiversidade do planeta. Se bem se lembram, o anterior objectivo da Convenção sobre Diversidade Biológica (2002) de alcançar, até 2010, uma redução significativa do actual ritmo de perda de biodiversidade resultou num rotundo fracasso. Os objectivos eram irrealistas, mal concertados e não pareciam contar com o simples facto de que os países mais ricos em termos de biodiversidade serem, também, dos mais pobres do planeta. Com tudo isto, o ritmo em vez de diminuir, aumentou.

Passados oito anos, a CDB parece ter introduzido novos factores na equação que podem augurar um futuro menos negro para a vida na Terra, nomeadamente o compromisso de aumentar a percentagem de áreas protegidas – um dos poucos mecanismos que tem provado ser eficiente na protecção de ecossistemas – e a partilha dos lucros gerados pelo uso de recursos genéticos com os países de origem. Mas tenho dúvidas que medidas como estas sejam suficientes. A meu ver, o combate à perda de biodiversidade deve ser encarado como uma faceta do combate maior à pobreza e à exclusão social, capítulo sobre o qual os intervenientes da CDB não têm qualquer poder. E assim uma pergunta subsite: pode ainda uma conferência no Japão ajudar um macaco em Myanmar?

A Floresta Nativa e o Pássaro Misterio

Em Julho deste ano, a Antena 1 emitiu uma reportagem sobre o Projecto LIFE PRIOLO, por ocasião do prémio “BEST OF THE BEST NATURE” ganho por este projecto de conservação, e que é atribuído aos cinco melhores projectos da Comissão Europeia na área da Biodiversidade.

O programa de recuperação da espécie Pyrrhula murina – que, segundo a SPEA, é a ave mais ameaçada em toda a Europa e a segunda mais rara – esteve em curso entre 2003 e 2008 e o seu sucesso pode ser avaliado em várias vertentes:
1) Recuperação do habitat original, com benefícios directos para as espécies vegetais de floresta de laurissilva introduzidas e benefícios indirectos para as outras espécies animais autóctones (como o pombo torcaz ou o milhafre).
2) Eliminação das espécies infestantes e exóticas vegetais (cletra, contreira) e animais (ratos), com benefícios directos para as populações locais.
3) Abertura de postos de trabalho permanentes na região mais pobre da ilha de S. Miguel (Nordeste e Povoação) e uma das mais pobres do País.
4) Execução de estudos científicos interdisciplinares (sociologia, ecologia, zoologia, hidrologia, topografia), com benefícios evidentes para a Região Autónoma dos Açores.
5) Realização de iniciativas de turismo ecológico, que levam à criação de infra-estruturas e postos de trabalho adicionais.
6) Implementação de uma estratégia de Educação e Sensibilização Ambiental com a realização de programas de formação para adultos e educativos para crianças que no seu conjunto contribuem para o bem-estar social das populações.
7) Beneficiação de vias de comunicação.

O Projecto LIFE-Priolo é um bom exemplo de como actuando na defesa de espécies e da biodiversidade se pode harmonizar a vida comum entre homens e animais na criação das bases para um futuro sustentável.