Um dos nossos autores foi recentemente entrevistado pelo Science Careers. Num artigo intitulado Improving Science Through Animal Welfare pode ler mais sobre Nuno Franco e o seu trabalho.
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Of mice and men
If there is any literature-derived cliché in the scientific world that studies the two species, it is precisely this title. But in this very case, I can’t resist it. The human nature as John Steinbeck captures and describes in just over a hundred pages is also the one who is so clearly visible in a hot, if not rancorous Internet discussion going on right now. In what is expected to be a scientific forum.
The topic is the research report on pain and facial expression in mice that I wrote about here in early June. A few days ago the US-based Principal Investigator’s Association asked its – and ultimately of course, a number of additional – readers if this study was consistent with existing animal welfare rules and whether there were ethical questions which should have been raised before the trial was approved and published. Of course these are not unreasonable questions to ask about a study of pain in animals.
But to ask the readers of an open web forum to act as judges in a case of whether an experiment on animals should be approved is opening a snake’s nest. At the international level there are few research issues as infected as this one. This was evident within a few hours after the question was asked, and having prepared myself to write as fact-based as possible an analysis of the question I simply choked on what had already been said. Those who take the time to scroll down through the posts will understand why. But it is worth the trouble to do it, because what follows is a unique combination of ill-invectives and critical analysis that clearly indicates how widely differing perceptions and misperceptions that exist of the animal experimentation issue. And for the researcher interested in understanding what research communication is all about, there is a lesson to be learned about how more or less critical thinking non-scientists view what is an important research issue and a reasonable method to study it. As well as how researcher colleagues tackle the task of engaging in a rancorous debate.
I myself am somewhat hesitant about whether I should be writing this post at all, because I think I will continue to reflect on this for a long time to come, and what I write now is not necessarily what I will think in a couple of months. I’m not quite convinced that it is right to draw attention to the original discussion either. As many researchers have already expressed, the issue was wrongly addressed and, above all not appropriately presented. The study is published in a journal that is not Open Access, which means that those readers who do not have access to Nature Methods must rely on the description of the study presented by Principal Investigator’s Association, and which is insufficient and probably misleading on at least one central and very critical point: the how severe the pain was that the mice were exposed to.
Of course it is a huge paradox to expose animals to pain in the name of animal welfare research. This isn’t really the right description of the study in question either because the researchers are not primarily motivated by animal welfare concerns but by their research interest in pain psychology more generally. But the questions they ask and the findings they present are central for animal welfare research in a manner that is not quite easy to explain to those who are not familiar with the subject. For who seeing the world through the glasses of common sense would doubt that animals can feel pain? And how simplistic can researchers be to think it is a question worth asking?
Why then is the question of pain expression in mice important? Because the answer takes us a little bit closer to the possibility of measuring the immeasurable – that is, animal subjective experience. This, or more precisely consciousness, is what one of the world’s pioneering animal welfare scientists – Oxford behavioural biologist Marian Dawkins – described as the one major remaining mystery in biology. And it sits right in the center of animal welfare research. Whether it justifies the current study is another issue that science media will continue to discuss over the coming weeks. I will update with links.
"Enriquecimento ambiental combate cancro"
A revista The Scientist dá-nos a conhecer um estudo recente no qual ratinhos a viver em ambiente espacial, funcional e socialmente enriquecido desenvolveram tumores menores que ratinhos em caixas padrão, após receberem um enxerto com células de melanoma. Os que tinham vivido 3 semanas antes da indução dos tumores apresentavam uma redução de 43 %, ao passo que animais vivendo nestes ambientes 6 semanas antes da indução tinham tumores 77% mais pequenos que os seus congéneres em ambientes não enriquecidos. Este estudo, com resultados bastante consistentes, foi publicado na Cell, merecendo uma leitura atenta.
Foto obtida da revista The Scientist
Na minha opinião, isto assume particular relevância devido às assimetria que encontramos entre o contexto ambiental pré-clínico e os estudos clínicos que lhe sucedem. Humanos que participam em estudos clínicos levam vidas ricas ao nível sensorial, social, cognitivo e motor (ou pelo menos bem mais que ratinhos em pequenas caixas onde a estimulação destes domínios é escassa). Um dos meus argumento é que o enriquecimento ambiental (se biologicamente relevante) não só melhora a vida dos animais como também aumenta a validade externa dos dados provenientes do seu uso. e isto tem vindo a ser crescentemente corroborado por estudos científicos.
Digo eu…
Mais afirmações do que informação sobre o biotério de Azambuja
Sábado passado, dia 24 de Abril, celebrou-se o Dia Internacional do Animal de Laboratório, pela segunda vez com uma marcha organizada pela Plataforma de Objecção contra o Biotério. Desde que, e graças a, o início deste movimento cívico temos um debate sobre experimentação animal que nunca antes houve em Portugal. Está na altura – indiscutivelmente é um assunto que se deve discutir.
No entanto, preocupa-me a abundância de afirmações e a escassez de informação neste assunto. Trata-se de um biotério comercial ou um biotério de apoio de investigação? De criação de que tipo de animais para que tipo de uso? Financiado com verba de que fundos?
Tendo seguido a informação na comunicação social sobre o assunto, continuo sabendo pouco mais do que foi dito no primeiro comunicado de imprensa apresentado pela Fundação Champalimaud em Novembro de 2008. E intriga-me tanto a criatividade de opiniões formadas com base em tão pouca informação por parte dos opositores como a falta de iniciativa de esclarecimento por parte da instituição proponente. A iniciativa da Plataforma foi essencial para iniciar o debate. Agora é importante que se esclareça os factos que deve formar a base para a discussão – não só a sobre este biotério em particular mas sobre o uso de animais e o potencial de introduzir alternativas em geral.
Temos uma oportunidade única de organizar um debate transparente e honesto em Portugal agora, uma vez que o cenário ainda é fresco e as opiniões (ainda?) não estão extremadas. Será que conseguimos agarrar esta oportunidade? Ou será utópico pensar que se possa discutir um assunto tão controverso com sinceridade e transparência?
Experimentação animal: nova directiva em vista!
Quando escrevo artigos científicos, não é comum usar referências dos anos 80. O desenvolvimento no campo de investigação é grande, e normalmente já há tantas novas descobertas que um texto de 1986 é considerado desactualizado. Mas é deste ano que data a directiva que ainda regula a actividade de experimentação animal!
Finalmente temos em vista uma renovação desta legislação que é antiquada tanto em termos legais (efectivamente deixa de fora uma grande parte da investigação com animais, já que a então Comunidade Económica Europeia apenas podia legislar sobre actividades comerciais) como científicos. Como relata a revista científica Nature, a 7 de Abril alcançou-se um compromisso politico sobre um texto que estava em discussão desde há um bom par de anos.
Experimentação animal é, talvez, o assunto mais controverso no relacionamento humano com os outros animais, e é também o assunto que têm mais anos de debate, pelo menos no mundo moderno. Tudo isto tem sido bem visível no debate que antecedeu esta decisão. Por um lado, defensores dos (direitos dos) animais têm acusado cientistas e indústria de agir em interesse próprio e sobretudo económico. Por outro lado, cientistas têm acusado políticos de não dar ouvido à razão e activistas de pintar uma imagem errada de ciência. Como quem segue o link para o artigo de Nature pode ver no campo de comentários, o debate não acabou com a decisão sobre o texto da directiva.
Ainda não sabemos quando entrará em vigor, e para quando terá que ser transposta para a legislação nacional. Mas é claro que para Portugal esta directiva vai ter importância considerável, já que a legislação nacional em vigor é pouco mais do que uma transposição da directiva anterior. E é na questão de nivelar o campo europeu que a revisão é essencial. Não faz sentido que quando ciência é uma actividade internacional, as regras que ela segue sejam tão dispares como têm sido até agora na Europa.
Exactamente por ser tão controversa, é importante que esta actividade seja regulamentada. Se como cientistas queremos ser credíveis temos que poder mostrar que fazemos o que podemos. Acho, por isso, tanto estranho como triste ouvir cientistas – em países que já têm uma regulamentação mais extensa e exigente – criticarem severamente esta nova directiva. O uso de animais na investigação não é um direito adquirido, e a liberdade que tomamos em assumir este direito não é incondicional. Como argumento numa recente EMBO Reports, uma justa e correcta legislação pode trazer a ‘licença social’ que os cientistas bem precisam.
