Problemas de separação no cão – estudo internacional

A Universidade de Lincoln, Reino Unido e a Universidade de Medicina Veterinária e Farmácia de Kosice, Eslováquia estão a realizar um estudo a nível internacional que visa melhorar a compreensão do comportamento do cão na ausência do proprietário.


 O comportamento destrutivo, a vocalização e eliminação inapropriada estão entre as queixas mais comuns dos donos de cães, resultando frequentemente na quebra do vínculo homem-animal, e em alguns casos, até mesmo ao abandono.

Se for dono/a de um cão pode contribuir com a sua informação para este estudo atraves do questionário.

Aprender bem-estar animal sem sair de casa!

Universidade do Edinburgo e alguns dos docentes do conhecido programa de mestrado Applied Animal Behaviour and Animal Welfare apresentam um curso introdutório, de livre acesso on-line sobre bem-estar animal.

O curso que tem a duração de 5 semanas vai decorrer em Julho este ano. O curso é leccionado em inglês.

Proteger os animais protegendo as crianças?

Como se de propósito ao post anterior, a notícia que a ONU quer limitar a participação de crianças em touradas. A preocupação surge num relatório sobre a situação portuguesa no que respeita aos direitos das crianças e tem a ver com o potencial impacto da violência nas touradas sobre as crianças que assistem ou até participam. 

Protegemos os animais em detrimento dos humanos?


O comentário que os animais têm mais direitos do que os seres humanos surge inevitavelmente em cada discussão mediática que envolve proteção animal. Normalmente o descarto como populismo barato e sem fundamento. Não é por garantirmos (como sociedade) às galinhas-poedeiras mais uns centímetros quadrados que ficamos sem recursos para apoiar quem vive de reformas baixas.

Mas há situações em que é compreensível que a reflexão surge. A imagem aqui ao lado mostra a cozinha numa casa rural no sul da Suécia onde na semana passada foram apreendidos 8 gansos, 2 cabras, 40 galinhas e galos e 15 gatos. Relata o inspetor de bem-estar animal que a sujidade era tremenda e não havia lugares de descanso secos para os animais.

Aqui muito provavelmente não se trata de um dono violento, que queria fazer mal aos seus animais ou que não se preocupava com eles. Associados a estes casos graves de maus-tratos (palavra que uso por falta de outra mas preferia não usar, porque expressa uma intencionalidade que pode nem sempre existir) estão quase sempre muitos outros de foro social ou até psiquiátrico.

Considerando que esta foto é da cozinha parece mais do que evidente que a pessoa que vive nesta casa precisa de ajuda, que é incapaz de organizar a sua própria vida de modo funcional. Apreende-se os animais e deixa-se a pessoa ficar?

A resposta é sim. Vivemos numa sociedade com grande respeito pela liberdade individual, e não se pode legalmente (salvo muito poucas exceções) interferir com esta liberdade enquanto apenas está em causa a saúde e bem-estar do individuo próprio. Se este por livre vontade procurar ajuda é outra questão, mas não pode ser obrigado a não viver assim.

No entanto, quando o que está em causa o bem-estar de outros seres vivos, que não são humanos adultos, a sociedade tem o direito legal (e às vezes o dever, legal e/ou moral) de intervir para os proteger. Se for crianças, o interesse da criança em continuar a viver com o progenitor ou com a pessoa com que tem laços de afeto é também considerado, uma consideração que não se faz em casos de animais maltratados.

É essa a razão pela qual se pode proibir uma pessoa a tratar os animais de uma maneira que se aceita que trate de si próprio.

Last Christmas I gave you a dog

É má ideia oferecer um cão (ou outro animal de companhia) a quem não tenha capacidade de assumir o compromisso de cuida-lo até o fim da vida, assim como não se deve comprar ou adotar um cão sem este compromisso.

Mas há um problema em si com o facto de oferecer um animal de companhia? Esta pergunta é colocada num recente artigo publicado na revista Animals. O que motiva a equipa de autores, de American Society for the Prevention of Cruelty to Animals de investigar o assunto, foi a prevalência da ideia que não se deve oferecer um animal como prenda.

A equipa analisou resultados de uma sondagem feita nos Estados Unidos, focando nos 222 entrevistados que afirmaram ter recebido um cão ou um gato como prenda. Perguntas subsequentes abordaram o envolvimento na escolha da prenda, afinidade com o animal e eventual abandono do mesmo.

Os resultados desta investigação são muito limitados pelo facto de não haver um grupo de comparação: não se falou com pessoas que tinham adquirido um animal de companhia por iniciativa própria. É bom saber que a maior parte dos entrevistados afirmaram gostar tanto ou mais do animal do que se tivesse sido adquirido pelo próprio, e que na maioria dos casos ainda mantinha o animal. Mas diz pouco enquanto não sabemos a informação equivalente de quem não recebeu mas adquiriu o seu animal. Convence um pouco mais quando cita outros estudos em que a razão de abandono foi investigada, sendo por exemplo alergias ou falta de tempo causas muito mais comuns do que o facto de ter recebido o animal como prenda.

Se não estivesse neste momento ocupadíssima com o que tem que ser ultimado antes do Natal (dentro do qual não consta a compra de um animal de companhia!), passava agora a ler o estudo que American Humane Association acabou de publicar, sobre os fatores que influencia a manutenção ou não de um animal obtido de um centro de recolha. Mas podemos todos aproveitar os dias mais calmos para lê-lo para voltar a falar do assunto logo no ano que vem.

Até então (e com uma lufada dos anos 80) votos de Boas Festas a todos os leitores do animalogos!

Falar com o público sobre a experimentação animal

À luz de acontecimentos como a recente libertação de cães de laboratório no Brasil e o subsequente debate, torna-se evidente o desconhecimento geral sobre a experimentação animal. Quando a maior parte do público não sabe quase nada sobre o que é um biotério, sobre como se realizam experiências, sobre o propósito dos estudos com animais, sobre o potencial e as limitações de métodos alternativos, é fácil manipular opiniões num sentido ou noutro. E não é num clima de debate aceso que se deva fazer a comunicação que vise preencher lacunas de conhecimento. Um dos argumentos de quem se dedica a comunicar sobre experimentação animal é que os cientistas que usam animais não devem esconder este facto, devem antes pelo contrário comunicar claramente o papel que animais têm na sua investigação.
Neste contexto, queria chamar a atenção para a publicação recente de um livrinho por um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra: “Células Estaminais: O que são, Onde estão?, Para que servem?” e que emana de uma serie de pequenas crónicas no Diário de Coimbra que visa “contribuir para uma população mais informada que emitirá opiniões e tomará decisões mais conscientes sobre a aplicação das células estaminais”. Quem começa a ler o livro num lado, encontra estas crónicas, quem começa do outro encontra a – já internacionalmente comentada – banda desenhada  Uma Aventura Estaminal.  

O livro foi enviado para todos os assinantes do jornal Público (foi assim que o recebi) e é em si um bom exemplo de comunicação de ciência de um tema complexo – células estaminais. Mas a razão para o comentar aqui no Animalogos é o facto do uso de animais de laboratório estar expressa em vários contextos no livro, a banda desenhada incluída.
Por exemplo, no seu texto sobre a descoberta de novos medicamentos, a farmacologista, Cláudia Cavadas aborda um tema que muitas vezes surge no debate sobre experimentação animal: o papel de métodos diferentes no desenvolvimento e nos testes de medicamentos:

“Para que uma nova molécula passe à categoria de fármaco eficaz e seguro, existe um longo percurso, de pelo menos 10 anos. Altamente dispendioso, em que só uma pequena percentagem das moléculas que parece promissora em laboratório chega ao mercado. Este fracasso resulta numa cada vez menor investimento em moléculas novas e, em especial, no desinteresse no desenvolvimento de novos fármacos para patologias com baixa incidência como é o caso das doenças raras. Antes de passarem aos testes clínicos, as novas moléculas têm que passar diversos testes laboratoriais (ensaios pré-clínicos) para demostrar a sua eficácia e a sua não-toxicidade, quer recorrendo a células animais ou linhas celulares mantidas em condições apropriadas, quer recorrendo, numa fase posterior, a experimentação animal. (…) No entanto, os resultados nestes modelos nem sempre são observados no homem, isto é , compostos que mostraram resultados promissores num modelo animal de determinada patologia podem não ser eficazes no homem. Assim, milhares de moléculas promissoras não passam esta fase. É fundamental qu sejam desenvolvidos ensaios pré-clínicos que encurtaram o tempo de de descoberta e que os resultados obtidos prevejam com maior aproximação possível o que vai ocorrer nos doentes. (…) (A)s experiências com células diferenciadas a partir das células estaminais poderão não substituir outros modelos celulares, já bem validados, nem a experimentação animal, mas juntamente com estas metodologias vão contribuir para que se encontrem novos fármacos de uma forma mais rápida e eficaz.”

Se queremos que haja um debate informado sobre experimentação animal, é fundamental que o tema surja não apenas nestes debates mas que também faça parte da comunicação de ciência, assim como neste livro da autoria de João Ramalho-Santos, Inês Araújo, Luís Pereira de Almeida, Lino Ferreira e Cláudia Cavadas, com ilustrações de Fernando Correia e André Caetano.

Animais, direitos e capacidades

No inïcio do ano exploramos a questão de direitos para animais de uma perspetiva jurídica cá no animalogos. Nos Estados Unidos continuam as iniciativas para incluir algumas especies na comunidade de seres portadores de direitos, analisado em mais detalhe num recente artigo em NY Times.

"No compres ese perro"

Crónica do Arturo Pérez-Reverte. Todos podemos imaginar o conteúdo, todos conhecemos a problematica que retrata. Natal, prendas, crianças que pedem, adultos que possam querer fazer-lhes a vontade.
Mas ninguém como um escritor para contar o que se segue:

No aparece y desaparece cuando conviene. Es un miembro de la familia con derechos y necesidades, que exige pensar en él cuando se planean vacaciones, e incluso una simple salida al cine o a un restaurante. A eso añádele la educación. Un perro mal educado puede convertirse en una pesadilla familiar y social. Además, cada uno, como las personas, tiene su carácter. Punto de vista y maneras. Eso exige un respeto que no todos los humanos somos capaces de comprender.
A estas alturas, sabes dónde voy a parar. Si eres de esa materia miserable de la que estamos hechos buena parte de los seres humanos, acabarás abandonándolo. Un viaje en coche a un campo lejano, una gasolinera, una cuneta.

9º congresso mundial sobre alternativas e uso de animais

http://www.wc9prague.org/World Congress on Alternatives and Animal Use in the Life Sciences é o congresso mais importante na area dos 3Rs de experimentação animal. Tem lugar de 3 em 3 anos, e em 2014 vai ser em Praga.

O website do congresso já apresenta os temas principais e resumos de trabalhos podem ser enviados até 1 de Abril de 2014.

O conjunto de oradores convidadados ilustra a interdisciplinaridade do congresso, incluindo industria, ciências da vida e saúde e ONGs.

“Não testado em animais”

Procura este rótulo quando compra produtos de cosmética? Tal já não é preciso na União Europeia, diz Chris Flower, Diretor-Geral do Cosmetics, Toiletry and Perfumery Association no FRAME News de Outubro.

A partir de Março de 2013 não se poderão usar animais para testar produtos ou ingredientes para produtos de cosmética para venda na EU. Ou seja, todos os produtos de cosmética que podemos comprar no espaço europeu poderão, em teoria, ser rotulados como “Não testado em animais”.

O caminho até aqui foi muito longo, com sucessivas alterações da legislação e sucessivas alterações das datas de fim final de testes em animais. (Ilustrativo disto é que só a lista de alterações na versão consolidada da Diretiva de Cosméticos ocupa mais do que 2 páginas!) A falta de métodos alternativos validados e o receio da indústria das consequências de regras mais restritas do que no resto do mundo têm sido os problemas principais.

Apesar do processo ter sido lento, o facto de haver legislação que exige uma extinção faseada dos testes em animais tem sido importante para criar um mercado para sistemas alternativos de teste, como relata um artigo da revista Nature de 2011:

The company’s most important task is picking systems that scientists want to buy. For example, a European Union directive to phase out animal testing for cosmetics from 2009 has created a market for in vitro evaluation of skin irritants, so Hurel is working with the world’s largest cosmetics company, L’Oréal in Paris, to develop a replacement for a test in which a potential allergen is rubbed behind a mouse’s ear. The ‘allergy test on a chip’ holds skin and immune cells. “Once you work out all the kinks, it will be better than the animal test because you’ll use all-human materials,” says Martin Yarmush, chief scientific adviser at Hurel.

Enquanto a proibição na UE inclui tanto a realização de testes aqui como a importação de produtos e ingredientes testados noutros países, o uso de animais para testar cosméticos continua legal no resto do mundo. Leia ainda o blogger DNA Cético sobre o tema.