Entusiasmado com a oportunidade, começo como me foi ensinado (ou melhor, tacitamente aprendi): pelo princípio, evidentemente. Assim, anatomo-fisiologistas ilustres como Galeno, Vesalius, Harvey e Claude Bernard perfilam-se projectados numa tela brilhante ao meu lado, recurso que certamente cativaria mais os alunos há uns meros 5 anos, mas não hoje em dia, no tempo das salas de aula com quadros interactivos e aulas em “powerpoint”. O “quando”, “como” e os “porquês” mais relevantes da experimentação animal são abordados de seguida, com destaque para as espécies animais mais utilizadas. Falo do papel dos animais como modelos dos seres humanos, suas virtudes e limitações, manipulação genética e características de um modelo ideal (algo que não existe, certamente). Não há reacções, ninguém contesta, ninguém estranha. Muitos jogadores de póquer sonhariam poder manter durante tanto tempo um olhar tão incomodativamente inexpressivo. Nada que não estivesse já à espera desde o princípio.
A visão do melhor amigo do homem (e membro das famílias de muitos dos que nesse momento me escutam) nesse grau de sofrimento faz despontar nos seus rostos esgares de incredibilidade, ares reprobatórios, trejeitos de repulsa e olhares de tristeza. Ainda assim, na maioria dos casos, todos se abstêm de comentar em voz alta. Poucos ousam questionar a “autoridade científica” ou mesmo ética de alguém que supostamente saberá muito mais sobre aquele e outros temas do que eles (algo que, por si, já dava toda uma outra discussão). Não o fiz inocentemente, e noutro contexto teria um pouco mais de pudor em recorrer tão primariamente às emoções. Mas sei que a partir desse preciso momento o tema já não lhes é indiferente. Já podemos então falar de Ética.