Mas serão tão universais que as encontremos também em outras espécies? Darwin achou que sim, e o livro dele é rico em ilustrações disto. Outros exemplos ainda podem ser encontrados na exposição Exuberâncias da Caixa Preta a decorrer no Museu Soares dos Reis no Porto.
(De: http://darwin-online.org.uk/content/frameset?itemID=F1142&viewtype=text&pageseq=1)
Nos cursos para investigadores que pretendem trabalhar com animais, ensinamos que é difícil identificar sinais de dor num ratinho, porque há uma vantagem evolutiva para presas naturais esconderem sinais de dor e doença. Mas num artigo na ultima edição da revista Nature Methods um grupo canadiano de investigadores mostra que, se observamos bem, podemos ver dor expressa na cara do ratinho.
O professor Jeffrey Mogil e a sua equipa de investigação sujeitaram ratinhos de laboratório a uma série de testes que são usados na investigação em dor. Nestes é induzido dor de grau e duração variável através de injecções ou intervenções cirúrgicas. Os ratinhos foram filmados e dos filmes extraíram-se imagens onde apenas a cara – e não o corpo do ratinho – era visível. Mostrou-se uma mistura de imagens de ratinhos com e sem dor a um painel de pessoas que não sabiam a que tratamento os ratinhos tinham sido sujeitos e, partindo de escalas de classificação para expressões faciais humanas, o painel avaliou a expressão dos ratinhos.
A avaliação do painel correspondeu ao tratamento do ratinho em até 97% dos casos quando se usou uma câmara de alta definição. Parece ser sobretudo dor de duração média, entre 10 minutos até 12 horas, a que melhor se reflecte na expressão facial do ratinho. Esta expressão envolve um semicerrar dos olhos, uma extensão arredondada da pele visível na ponta do nariz e um empolar das bochechas. O ratinho ainda estira as orelhas e os bigodes para trás, de encontro à cara ou para a frente, como se suspensos na ponta. Faltam-nos bigodes e orelhas movíveis, mas no que diz respeito a olhos, nariz e bochechas partilharmos a expressão facial com o ratinho.
Figure kindly provided by Jeffrey Mogil and not-for-profit reproduction licensed by Nature Publication group. Originally published in Nature Methods 7, 447-449, 2010.
Estes resultados não são, evidentemente, prova de que um ratinho que expressa dor de maneira semelhante a um ser humano sinta a dor de maneira semelhante. Mas parece-me que fica cada vez mais difícil argumentar que os outros mamíferos não sentem dor de uma maneira com que precisemos de nos preocupar.
Ensinamos os investigadores a reconhecer que se a intervenção seria dolorosa num ser humano, deveremos assumir que o seja também noutro animal. No futuro pode ser que acrescentemos “se achar que dói, olhe o ratinho nos olhos”.
A diferença mental entre os homens e os outros animais superiores, mesmo sendo enorme, é certamente uma diferença de grau e não de género”, Charles Darwin, in “The descent of man and selection in relation to sex”. Porque terá tido a humanidade tanta dificuldade em sentir-se parte do Reino Animal? Se somos feitos da mesma matéria, se partilhamos o mesmo planeta, se temos as mesmas necessidades básicas, não deveríamos achar que podemos sentir o mundo de forma semelhante? Todos nós já identificamos emoções nos nossos animais. Reconhecer manifestações de alegria, tristeza, raiva ou medo fazem o ser humano sentir consideração por eles e respeitar a sua vida, os seus sentimentos, a sua natureza, o seu habitat. O rico leque de comportamentos dos animais fazem-nos reconhecer que as suas emoções são complexas. É por este motivo que os animais têm individualismo, sendo únicos na gestão das suas emoções exibem uma personalidade resultante. As emoções moldam a personalidade que manifesta diferentes graus de motivação face a um qualquer estímulo. Paralelamente podemo-nos perguntar se achamos que os animais têm consciência de si próprios. Tal consciência indica que os animais conseguem analisar o que estão a sentir e ter uma experiência emocional. Aumenta a nossa preocupação com aquilo que os animais sentem, se aliado por exemplo a uma dor física, estiver uma dor emocional. O estudo que mostrou que ratinhos reagem quando outros ratinhos são sujeitos a dor e que os ratinhos e mantém próximos de um familiar com dor indica que os seres humanos não são os únicos animais a conseguirem colocar-se na “pele do outro”.É difícil avaliar que emoções têm os animais, ou quais os animais capazes de sentir emoções. Mas é fácil entender que todos os animais sentem dor. A dor é um mecanismo de defesa básico para evitar situações não desejadas e é essencial para a sobrevivência de qualquer ser vivo.Um estudo da Queen’s University revelou que os caranguejos-eremitas não só sentem dor, mas são também capazes de recorda-la. \”Esta investigação demonstra que não se trata de um simples reflexo mas que os caranguejos negociam a sua necessidade de ter uma carapaça de qualidade com a necessidade de evitar estímulos danosos. Negociações deste género não tinham sido demonstradas anteriormente em crustáceos. Os resultados são consistentes com a ideia de que estes animais sentem a dor”.http://yourwebapps.com/WebApps/mail-list-archive.cgi?list=65673;newsletter=1571O estudo das expressões faciais em animais é importante para tornar o estudo das emoções uma realidade observável e fazendo com que a expressão do nível de dor seja mensurável. Outros aspectos que podem ser analisados são as expressões corporais e vocalizações em situações de dor. A prova científica pode mudar a nossa consciência e, consequentemente as nossas acções. Ao olhar nos olhos de um ratinho em sofrimento consigo sentir a sua dor, e não quero ter este sentimento. As nossas próprias emoções são o caminho a seguir na evolução do pensamento ético, na forma como vemos e tratamos os animais.
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Do ponto de vista moral, sempre foi útil sabermo-nos colocar na pele dos animais para reflectirmos sobre a forma como os tratamos. Mas a ciência, por outro lado, foi sempre céptica em introduzir variáveis subjectivas como emoções (no estudo da consciência animal) ou sofrimento (no estudo da dor). Pela minha parte, considero que a nossa visão é inexoravelmente antropomórfica quer sejamos filósofos ou cientistas, e não há mal nenhum nisso.O estudo de que fala evidencia que os caranguejos, além de experienciarem estímulos negativos, são capazes de os sentir e assim aprender com eles. Ora se um caranguejo \”sente o que sente\” é porque tem o potencial de sofrer. E segundo algumas visões éticas um ser que sofre é um ser que conta moralmente. Mas então, quais são para si as consequências práticas de os crustáceos serem potencialmente capazes de sofrer?
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Os crustáceos são animais usados para o consumo humano e sofrem desde a altura em que são capturados. São presos em jaulas pequenas, transportados em condições que provocam stress, são expostos em supermercados e lotas ou em aquários de restaurantes com as pinças amarradas. A maioria destes crustáceos é cozinhada viva, podendo ser colocada em água fria levada à ebulição ou mergulhada directamente em água a ferver. http://www.shellfishnetwork.org.uk/facts/fact4.htmO facto de os caranguejos e outros crustáceos serem capazes de sofrer deve produzir em todos nós mudanças nas nossas acções para que os animais não passem pelas situações acima descritas. Deveria ser abolida a prática de cozinhar o marisco ainda vivo. A participação activa em alguns acções de protesto são extremamente importantes. A associação animal escreveu em Junho deste ano uma carta tipo dirigida ao supermercado Pingo Doce a propósito de uma campanha publicitária: “Peça-nos para cozer o nosso marisco vivo, enquanto faz as suas compras”, denunciando crueldade contra animais.
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