Por Íris Pereira, Rita Mouraz e Vanda Marnoto, alunas do Pós-graduação em Comportamento e Bem-Estar Animal, ISPA.
Desde a infância que a publicidade nos cativa. Vem com cores vivas e sons apelativos e molda-nos o desejo. Pelo menos foi com esse objectivo que foi criada. À medida que vamos crescendo vamo-nos tornando resistentes a essa arte que realça as qualidades de um produto, de um serviço, ou até mesmo de uma causa política ou social.
Mas há um ponto sensível em todos nós. A nossa empatia generalizada com os animais gera uma abordagem emocional bastante eficaz. Captam mais a atenção do visualizador do que qualquer figura pública. Como tal, é usual vermos animais de várias espécies serem usados em anúncios publicitários. Por vezes por razões óbvias, como a tentativa de persuasão na compra de produtos para animais, outras vezes sem qualquer ligação directa ao objecto de promoção.
Surpreendentemente, ou não, é possível encontrar publicidade direcionada para os animais de companhia, que estimula os sentidos como a audição, em campanhas de publicidade televisiva, e o olfato, como complemento em campanhas de rua.
Mas o que está por trás deste processo de chamariz sentimental? Será esta utilização de animais o meio mais eficiente e, como tal, justificável? Serão estes “actores” tratados com respeito e mantidos em condições mínimas de Bem-estar, on e off set? Há, no nosso país, quem se dedique ao treino de várias espécies para publicidade, tendo uma vasta experiência nesta área.
No entanto, para os autores deste post, o usufruto de animais para entretenimento compromete a nossa visão pessoal de Ética Animal, pelo que não concordamos com esta prática. Aliás, com base em exemplos existentes, sabe-se que não é essencial a presença de um animal vivo e real para uma publicidade ter êxito, especialmente em produtos sem qualquer ligação aos mesmos, sendo o papel dos criativos mais significativo para o sucesso da ação. Vejam o seguinte clip como exemplo disto.
Por outro lado, se de facto os animais são utilizados em publicidade, as espécies menos lesadas serão as domésticas (pecuárias incluidas), em oposto às espécies exóticas que não têm condições habitacionais adequadas, argumento que apresentamos com base em experiência própria. Contudo, deve ter-se atenção às ações promocionais, onde até os animais domésticos normalmente se encontram em espaços confinados durante um período de tempo, expostos directamente ao público-alvo. Em Portugal, a legislação já demonstra preocupação com o Bem-estar animal, mas ainda tem espaço para especificar mais as normas, aprofundando os artigos legais que incluem a publicidade, não esquecendo as especificidades relativas às espécies exóticas e selvagens.
E se invertêssemos os papéis? Se colocarmos a publicidade ao serviço dos direitos dos animais, o que muda? Como fazê-lo da melhor forma? A dura realidade é uma arma? Será condenável utilizá-los em contextos desadequados mas compreensível na promoção dos seus direitos?
A publicidade é um meio eficaz para divulgar os direitos dos animais, denunciar casos de violência, promover campanhas de adopção e de esterilização, alertar para determinadas doenças, como ainda fomentar a preocupação para a preservação de espécies em perigo de extinção e dos seus habitats.
Consideramos aceitável a utilização de imagens de animais em ambientes naturais, recorrendo de forma sensata à manipulação destas. É extremamente importante ter sempre em consideração que os fins não justificam os meios e transparecer, para a generalidade da população, que os animais não são meros objectos e que o Bem-estar é um direito fundamental.
Em conclusão, o que é razoável? Até onde podemos “eriçar o pêlo”?