Em breve colocaremos oportunidades de financiamento para estudantes e jovens profissionais, para realização de pequenos projectos de investigação em Bem-Estar Animal
A que questões podemos dar resposta em ciência de bem-estar animal?
Estudos anteriores em bem-estar animal
“Qual o melhor método para treinar um cão?” (Anna Olsson)

A vida numa família pede competências que um cão não possui automaticamente. Os tutores que procuram ajuda profissional enfrentam uma panóplia de métodos, e cada treinador publicita o seu como o melhor. Que informação precisamos para saber se um método é bom? Um aspeto importante é o efeito que tem no bem-estar do cão. Acompanhamos quase cem cães em diferentes escolas de treino, estudando o seu comportamento e também reação fisiológica.
Descobrimos que um maior uso de estímulos aversivos (castigo) está associado a cães mais stressados e num estado emocional mais negativo (Vieira de Castro et al 2020). Outro aspeto importante é a eficácia e a eficiência do treino, uma pergunta que planeamos responder numa colaboração com treinadores de cães profissionais (Vieira de Castro et al 2021). Este trabalho foi alvo de uma reportagem do suplemento P3 do Público
Ratinhos de laboratório morrem logo a seguir a nascença – será que importa? (Anna Olsson)
Cerca de 4 milhões de ratinhos são usados para fins científicos na União Europeia todos os anos. O número que nasce é maior, pois um número substancial de crias morrem nos primeiros dias após o nascimento.
Utilizando gravações de vídeo, pudemos determinar que muitas das crias já morreram e foram comidos pelos progenitores antes do seu nascimento ser detetado pelos tratadores, o que dificulta o reconhecimento do problema (Brajon et al 2021). Ao nascer duma progenitora mais velha, e numa caixa onde já existe uma ninhada mais velha, aumenta o risco de um ratinho recém-nascido morrer, enquanto um microambiente mais acolhedor aumenta a probabilidade de sobreviver (Morello et al 2024).

“Os murganhos ficam stressados só por serem manuseados? Alguma vez se habituam? E como o podemos medir?” (Nuno Franco)
Avaliar o bem-estar de animais usados em investigação é essencial, mas muitas medições obrigam a conter os animais. Isso é um problema, porque o simples acto de manusear um murganho (vulgo “ratinho”) de laboratório desencadeia uma resposta de fuga-ou-luta que inclui, entre outras alterações fisiológicas, o aumento da temperatura corporal, que pode mascarar o que queremos medir.
No nosso estudo analisámos a reacção hipertérmica ao stress, isto é, o aumento rápido da temperatura corporal quando o animal se sente ameaçado. Usámos dois métodos de medição sem contacto – termografia e chips subcutêaneos – para comparar como cada uma capta essa resposta.

Já tínhamos descoberto (Gjendal et al 2018) que a temperatura média do corpo era um indicador mais robusto que a temperatura dos olhos ou cauda. Desenvolvemos então com colegas do i3S (Franco, Gerós et al 2019) software capaz de detectar automaticamente os termogramas dos murganhos e calcular a média de milhares de imagens automaticamente.
Com os mesmos colegas, desenvolvemos e testamos uma nova versão, capaz de separar o termograma das caudas (um órgão termoregulador com informação importante e com variação independente) do restante corpo.

Aplicando este software, revelamos como o manuseamento dos murganhos desencadeia uma resposta hipertérmica (acompanhada de uma resposta contrária na cauda) de forma não-invasiva, e que esta persiste ainda que os animais sejam manuseados diariamente. Isto tem implicações directas para a investigação: quanto mais automáticas, remotas e sem contacto forem as medições, mais fiáveis serão os dados e menor será o impacto sobre os animais.
“Como identificar o ponto de não-retorno em modelos de infecção?” (Nuno Franco)
Em modelos de doença como o choque séptico, é fundamental perceber rapidamente quando um murganho está a piorar, identificando o ponto de não-retorno, eutanasiando aí o animal e evitando sofrimento desnecessário. Muitos dos critérios tradicionais são tardios (como esperar que os animais fiquem moribundos, num estado comatoso) ou exigem conter o animal, o que por si só os stessa e altera a fisiologia, podendo afectar os resultados.
Neste estudo testámos se seria possível monitorizar a temperatura corporal sem contacto, usando dois métodos: termografia de infravermelhos e chips subcutâneos. Isto permitiu avaliar os animais várias vezes ao dia sem os manipular.

Aplicámos estes métodos a murganhos submetidos a um modelo cirúrgico de sepsis e comparámos os perfis térmicos em animais com sepsis moderada, severa e em controlos. Observámos que a temperatura medida pelos chips subcutâneos se relaciona melhor com o desfecho clínico do que a temperatura obtida apenas por termografia, e que esta correlação era mais clara e fiável em modelos severos.
O resultado principal é claro: medições automáticas, remotas e sem contacto podem sinalizar mais cedo e com maior fiabilidade quando o animal não está a recuperar, permitindo terminar o ensaio no momento adequado. Isto reduz sofrimento e melhora a qualidade ética e científica da investigação.
Como ensinar Bem-estar animal respeitando o ponto de vista dos produtores pecuários? (Manuel Sant’Ana)

O bem-estar animal é normalmente abordado de forma técnica sem deixar espaço para a forma como os próprios produtores veem os seus animais e com eles interagem. O projecto ANICARE – Educate animal welfare as a farming opportunity serviu para desenvolver ferramentas de ensino em bem-estar de ruminantes (vacas leiteiras, ovelhas de carne e cabras leiteiras) para produtores pecuários e formadores (https://erasmus-anicare.eu/), tendo como ponto de partida o ponto de vista dos produtores.
O projecto, financiado pela Comissão Europeia através do programa ERASMUS+, envolveu 11 entidades de 5 países europeus (França, Bélgica, Finlândia, Espanha e Portugal).
Até que ponto as políticas de abate de animais (culling) são científica e eticamente justificadas? (Manuel Sant’Ana)
O abate em massa de animais é uma medida comum para controlar surtos epidémicos, em especial quando se trata de zoonoses (doenças transmissíveis aos seres humanos) como é o caso da tuberculose. No entanto, faltam evidências da eficácia destas medidas, normalmente tomadas a partir de uma visão centrada no ser humano, sem considerar suficientemente o impacto para os próprios animais ou para os ecossistemas. Ao aplicar uma perspetiva de One Health, que liga saúde humana, animal e ambiental, Lederman et al. 2021 defendem que devemos questionar estas práticas e exigir alternativas mais ponderadas, como vacinação, monitorização ou medidas de prevenção.
Temas gerais para futuros projectos
Podemos oferecer melhores condições aos peixes-zebra em laboratórios?

Como equilibrar produtividade, rentabilidade e bem-estar de vacas leiteiras?

Quais os métodos menos aversivos para treinar animais de companhia?

Como avaliar se invertebrados sentem dor?

Como melhorar o bem-estar de roedores de laboratório?

Que necessidades têm as diferentes espécies selvagens, em cativeiro?

Como ensinar eficazmente sobre bem-estar animal a alunos do ensino básico, secundário e universitário?

